sexta-feira, 30 de abril de 2021

Só queria te abraçar Mensagem nº 1 do quadro Neurapandêmica

 

Imagem de fundo branco e amarelo na qual se lê Aqui a gente pode se abraçar? e se veem dois personagens se abraçando nas nuvens.
Só queria te abraçar. Mensagem nº 1 do quadro Neurapandêmica

Deus Todo Poderoso e Deus Criador: compreendendo o conceito de Deus

 
Imagem com a gatinha Joina apresentando o conteúdo “Deus Todo Poderoso e Deus Criador: compreendendo o conceito de Deus”.
Você compreende o conceito de Deus? A ideia de Deus Todo Poderoso e Criador de todas as coisas são fundamentais para essa compreensão.  Confira neste conteúdo!


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DEUS TODO PODEROSO E DEUS CRIADOR 

COMPREENDENDO O CONCEITO DE DEUS

 

INTRODUÇÃO: A AMPLITUDE E A UNIVERSALIDADE DO CONCEITO DE DEUS 

Este conteúdo é uma continuidade da relação entre Deus, fé e política. Na primeira parte, vimos o conceito de Fé. Nesta, trataremos sobre o conceito de Deus e depois sobre o de política. A partir da compreensão desses três conceitos, podemos mais facilmente compreender essa relação nos seus fundamentos. Senão vejamos:

Deus é um conceito bastante amplo. Talvez o mais amplo da história da Humanidade devido à sua universalidade, assegurada certamente por suas próprias dimensões de onisciência, onipotência e onipresença. Existiria um conceito mais amplo e mais universal do que o de Deus?

Provavelmente sim, uma vez que Deus é negado por muitos e muitas e ignorado por muitos outros e muitas outras. Entre a negação e a ignorância, certamente outros conceitos assumem em preponderância o seu lugar.

Provavelmente não, porque seja pela negação ou pela afirmação uma ou mais ideias construímos a respeito de Deus. Sempre! Aqui e acolá! Em todos os lugares! Nestes e noutros tempos! Como são as ideias que mantêm vivo um conceito, Deus certamente é o conceito mais vivo, mais amplo e universal de toda a história da Humanidade a despeito da estrutura de mundo construída para o suplantar. Um conceito gerado e afirmado nele mesmo independentemente da nossa vontade. O conceito por excelência no âmbito dos universais não instituídos pelo saber humano; ou seja, conceitos gerados por sua naturalidade intrínseca.

Muitas ideias acerca de Deus se não todas estão presentes na Bíblia Sagrada, ideias essas empiricamente verificáveis no mundo. Quem tem ouvidos, que ouça; quem tem olhos, que veja; e quem tem discernimento, que entenda. É com base em meu entendimento nas minhas leituras bíblicas e na minha experiência em Deus que componho os textos de compreensão desse conceito. Para uma compreensão mais completa, porém não total, creio que algumas ideias sejam fundamentais.

Este conteúdo apresenta duas dessas ideias, bastante básicas: a ideia do Deus Todo Poderoso e a de Deus Criador de todas as coisas. São essas as ideias mais importantes na compreensão do conceito de Deus porque são a base de nossa fé em Deus, para quem a tem. Somente por meio da fé é que o alcançamos e o compreendemos em nossa vida. Por isso, são ideias centrais na compreensão do conceito de Deus. Um conceito tão amplo que cada ideia que o compõe já traz em si sua própria amplitude.

Veja nas seções seguintes o conteúdo sobre Deus Todo Poderoso e Deus Criador. Comente conforme o caso. No próximo conteúdo, teremos a ideia de Deus dos profetas e dos anjos e a de Deus de nosso Senhor Jesus Cristo. Com essas ideias, teremos elementos suficientes para fundamentar o conceito de política e a relação entre Deus, fé e política que veremos oportunamente.

DEUS TODO PODEROSO: ONIPRESENÇA, ONISCIÊNCIA E ONIPOTÊNCIA

Deus Todo Poderoso é certamente a ideia mais conhecida a respeito de Deus. Conhecemos nem que seja por ouvir falar. Ou não? Se não, deveria ser. Mas será que todas as pessoas que a conhecem compreendem a extensão do seu significado? Esse significado que nos dá a dimensão do conceito de Deus? Será que todos nós sabemos o que significa esse atributo de Deus que o qualifica como Todo Poderoso? Creio que para essa compreensão é fundamental que compreendamos três ideias próprias desse conceito: as ideias de onipresença, onisciência e onipotência. Essas qualidades intrínsecas a Deus.

Esses atributos ou qualidades de Deus derivam de palavras formadas com o prefixo oni, o qual nos remete à ideia de todo ou totalidade. O que é então o Deus onipresente, onipotente e onisciente senão o Deus que está em todos os lugares ao mesmo tempo (onipresença); que sabe tudo sobre todos e todas as coisas (onisciência); e que dispõe de poder sobre tudo e todas as coisas (onipotência)?

Essas qualidades é o que torna Deus efetivamente Todo Poderoso. O Deus de poder absoluto porque tudo pode. E por tudo poder, pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo; e saber de todas as coisas também em todos os lugares e ao mesmo tempo. Esses atributos somente a Deus pertencem. São características ou qualidades intrínsecas ao seu ser. Características essas que atraem para si o controle total ou absoluto de todas as coisas. Esse controle que somente Deus onipresente, onisciente e onipotente é quem tem.

Então, ao pensarmos no Deus Todo Poderoso, entendamos Deus inserido no tempo presente, passado e futuro. Isto porque o Deus de hoje é o mesmo de ontem e o de amanhã. O Deus atemporal, que não tem início nem fim; por isso não se limita a um tempo determinado, a uma fração de tempo, mas está em todo ele. No entanto, é o Deus princípio e fim nele mesmo porque nele tudo se inicia e nele tudo se finda, tudo se encerra. O Deus pelo qual tudo existe e para o qual existe. 

Quando dizemos então que Deus tudo pode e tudo sabe e tudo vê porque está em todos os lugares ao mesmo tempo, esse tempo significa também o passado e o futuro de tudo e de todas as coisas. Por isso não raras vezes dizemos: “Deus não esquece” ou “Só Deus sabe o futuro” ou “Do futuro só Deus sabe”. E quando falamos “todas as coisas”, entendamos nós pessoas humanas inseridas nessas coisas; principalmente nós, que compomos a Humanidade.

Assim, crê em Deus Todo Poderoso, como dizemos, é crer no Deus onipotente, onisciente e onipresente. Esse é o primeiro princípio da fé. A primeira condição para que creiamos nas demais qualidades de Deus. Inclusive, é essa compreensão que fundamenta a de Deus Criador, qualidade essa que veremos na seção seguinte.

Inserida no conceito de Deus, vejamos a ideia de Todo Poderoso: o Deus onisciente, onipotente e onipresente. Só essa ideia já nos captura a todos, pois, como Deus tudo sabe, tudo vê e está em todos os lugares, somos o seu livro aberto; o seu espelho mais fiel; o seu lugar por excelência. Ele habita em nós e está para nós como gostaria que estivéssemos para ele na mesma relação. Tanto que tudo fez nessa intenção. 

Inclusive, enviou-nos Cristo, outra das ideias acerca de Deus: o Deus Pai que nos enviou o seu Filho Jesus Cristo para, por meio dele, orientarmos a nossa vida pela sua ação, realizarmos os seus ensinamentos; assim, alcançarmos a salvação. Essa ideia também nos insere a todos, pois Cristo veio pela vida de todos, e vida em abundância, como ele próprio afirma no seu Evangelho. 

A despeito da sua presença entre nós e dos seus ensinamentos, fomos habituados a falar de Deus sobretudo como algo abstrato e distante; algo que não se vê e não se toca diretamente. Assim é. Mas pouco apresentamos Deus como algo que se materializa e se nos revela por meio da nossa fé. Pouco dizemos de sua manifestação em nossa vida prática quando o inserimos em nossas ações cotidianas. Pouco dizemos que Deus se manifesta a nós. Assim também é. Mas que aprendamos a observar suas manifestações e com elas conviver. Assim seja! Creiamos!


DEUS CRIADOR DE TODAS AS COISAS

A ideia de Deus Criador é associada à criação do mundo, do céu e da terra, do universo em sua totalidade. O mundo com todos os seres nas suas mais variadas espécies. Vivos e não vivos. Inclusive, o Criador do homem e da mulher como criação mais importante.

O mundo como criação de Deus corresponde ao ambiente físico ou natural sobre o qual se constroem todos os saberes ou conhecimento e estruturas de produção humana. Enfim, corresponde ao que no âmbito das ciências são consideradas Ciências Naturais ou da Natureza para designar e classificar os estudos nas áreas da Biologia, Física, Química, Astronomia e Geologia. Todo esse mundo colocado à disposição do homem e da mulher, os seres mais importantes da criação divina para os quais e as quais Deus destina a sua atenção especial.

A ideia do Deus Criador está diretamente ligada à ideia do Deus Todo Poderoso. Ao Deus que tudo pode, e tanto pode que pode criar o mundo da forma como criou e se nos apresenta. O mundo físico como o conhecemos, ainda que em partes bem diminutas. E se o conhecemos em pequeníssimas partes é devido à nossa própria existência humana efêmera e ao nosso saber humano limitado que não nos possibilita conhecer o todo. Este, somente Deus Criador e Todo Poderoso é quem conhece. Inclusive, a criação do mundo certamente foi a primeira manifestação da onipotência de Deus.

Somente Deus em sua onipotência poderia criar um mundo físico com a variedade de espécies animais e vegetais e tudo o mais hoje conhecidas e conhecidos sem que se conheça tudo. E distribuídas e distribuídas em distintos biomas com suas características particulares em meio à biodiversidade de todos os tempos. Também um universo de homens e mulheres com as mesmas faculdades físicas e mentais, mas infinitamente diferentes em suas particularidades.

Ao pensarmos no mundo tal qual existe podemos perceber o significado de Deus como Todo Poderoso e Criador de todas as coisas. Compreendemos a sua dimensão onipotente e criadora, pois somente um Ser Onipotente poderia ter criado o mundo com toda essa dimensão e da forma como o criou. De igual maneira, somente Deus na sua onipotência poderia possibilitar à sua criação humana conhecer o mundo por ele criado e compreender os seus significados.

Crê no Deus Criador de todas as coisas é, pois, o segundo princípio da fé, diretamente ligado ao primeiro e com ele constitui a âncora da fé em Deus. Somente podemos afirmar a nossa fé em Deus se cremos na sua onipotência e na sua dimensão criadora; se cremos no Deus Todo Poderoso e Criador de todas as coisas. São esses princípios da fé que possibilitam os atos de fé em nossa vida. Compreendendo esses princípios, podemos nos afirmar como crentes conscientes em Deus; podemos afirmar a nossa fé em Deus com a consciência que ele nos concede. Uma consciência sábia, porque originada em Deus.

Inclusive, essa consciência de Deus Todo Poderoso e Criador de todas as coisas é o que mantém viva a nossa fé. É o meio pelo qual nós reconhecemos Deus como Senhor da nossa vida e compreendemos as suas manifestações em nosso viver. 

No entanto, pelo que revelam textos bíblicos, esse reconhecimento constitui desde sempre um grande desafio para Deus em relação à sua criação humana; em relação à construção e aos destinos da Humanidade.  Isto por duas razões:

Primeira razão: ao criar o homem e a mulher, Deus os criou para se constituírem à sua imagem e semelhança; isto é, para terem as mesmas qualidades de Deus, porém em grau compatível à limitação humana e excetuando a imortalidade. Em outras palavras: como mortais, o homem e a mulher não poderiam dispor da imortalidade do Deus Todo Poderoso; mas poderiam dispor das outras qualidades divinas em conformidade com as limitações humanas. Qualidades essas a serem vistas noutro conteúdo oportunamente.

Segunda razão: ao criar o homem e a mulher, Deus dotou ele e ela de livre arbítrio; ou seja, deu à sua criação a liberdade de escolha entre aceitar os ensinamentos de Deus ou seguir suas próprias determinações. Aceitar os ensinamentos de Deus significaria viver pelos princípios da fé; assim, alcançar os propósitos de Deus na vida humana pela obediência aos seus ensinamentos. Seguir as próprias determinações significaria viver conforme as próprias escolhas em obediência ao próprio saber ou saber humano; ou seja, negar ou rejeita os propósitos de Deus ou os seus ensinamentos em nossa vida; ou ainda, negar o conhecimento de Deus e seguir o nosso próprio conhecimento baseado no conhecimento do mundo.

Ao dotar a sua criação humana de livre arbítrio, Deus colocou para si o desafio de fazer com que a sua criatura o seguisse, em vez de seguir suas próprias determinações. Seu desejo era que o homem e a mulher o afirmassem como o Senhor de sua vida; como o Deus Todo Poderoso criador de todas as coisas; por isso o Deus com o poder de suprir todas as nossas necessidades. Se era esse o seu desejo, continua sendo, pois o Deus de ontem, é o mesmo de hoje e o de amanhã; e a Humanidade foi o ontem, é o hoje e será o amanhã enquanto Deus quiser. 

Então permanece o desejo de Deus que o compreendamos e o aceitemos como Deus Senhor de nossa vida, o nosso único e verdadeiro Deus. Para isso, tudo ele fez para que nós compreendêssemos a sua vontade e o afirmasse e o seguisse. Inclusive habitou entre nós, assumindo-se ele próprio como seu filho – nosso Senhor Jesus Cristo, o próprio Deus na forma humana. 

A compreensão de Deus Criador nos possibilita entender que aquele que cria conhece a coisa criada, o produto de sua criação. Logo, pode dispor dessa criação da forma como lhe convém. Essa compreensão é fundamental para se entender que somos instrumentos de Deus. Como tal, ele nos usa para encaminhar a sua ação entre nós. Para fazer as coisas acontecerem conforme as nossas escolhas. Também conforme a sua permissão e vontade. Essa ação é compreendida pelo saber humano apenas como ação humana, como se fosse destituída do conhecimento de Deus, de sua vontade superior e poder supremo. 

Da mesma forma, a compreensão de Deus Todo Poderoso nos possibilita a compreensão de que Deus dispõe de uma racionalidade inserida na sua infinitude temporal e espacial, âmbito no qual ele exerce a infinitude do seu poder e do seu saber sobre todas as coisas. Somente essa racionalidade divina pode articular a infinitude temporal e espacial para possibilitar determinados acontecimentos da vida em determinados tempos e espaços. Inclusive, é nessa infinitude que se opera a justiça de Deus na sua perfeição porque ele tem o domínio do todo infinito. Mas somente pela fé é que podemos compreender a racionalidade divina. Mesmo assim, considerando-se a nossa limitação humana.

Oportunamente, veremos os meios de que se utilizou Deus na instrução da sua criação humana para que ela aprendesse os caminhos da fé pelos quais poderia alcançá-lo e o seguir.


Você terminou de conhecer mais um conteúdo do Caminho SMF Fé e Política.

Espero que tenha gostado e continue neste caminho.


A você, meus agradecimentos!

Deus esteja com você!

Sônia Ferreira

Teresina, 30 de abril de 2021.


Imagem com a gatinha Joina convidando leitores e leitoras para se inscreverem no blog e o seguir.
Convite Siga Nós! Por Joina dê-lá Rara: a gatinha guia de conteúdo do caminho SMF Fé e Política.








quinta-feira, 29 de abril de 2021

Deus é Experiência Construída Mensagem nº 2 do quadro Experiência em Deus.

Imagem retratando uma estrada e uma faixa suspensa sobre a qual se lê Deus é Experiência Construída.
Você crê que Deus é Experiência Construída? Reflita com a mensagem nº 2 do quadro Experiência em Deus. Experimente essa construção.

 

DEUS É EXPERIÊNCIA CONSTRUÍDA


Experimente essa construção!

Experiência em Deus!
Uma construção que não se abala!
Vamos experimentar?

Construir uma experiência em Deus é inserir Deus em nossa vida, 

nas pequenas coisas do nosso dia a dia. 

É criar com ele uma relação de proximidade. 

Assim, quando precisamos, ele está pronto a nos atender.

ComCarinho Cuidados com a Pessoa Idosa: um projeto social

 

Imagem de fundo branco amarelo e vermelho com a gata Lady Miau apresentando o conteúdo ComCarinho Cuidados com a Pessoa Idosa.
Conheça o projeto ComCarinho Cuidados com a Pessoa Idosa. Um projeto social pronto para ser implementado. Um  modelo de projeto social que pode atender a suas necessidades. Confira!

Você está na sequência de conteúdo do caminho SMF Projetos Sociais. Para ver o conteúdo anterior Clique Aqui. Para ver o seguinte Clique Aqui.


COMCARINHO CUIDADOS COM A PESSOA IDOSA

PROJETO SOCIAL DE APOIO A PESSOAS IDOSAS SOB CUIDADOS DA FAMÍLIA


 

INTRODUÇÃO

 

Participar de um projeto social de atendimento a pessoas idosas é sempre uma forma de contribuir com essa parcela da população cada vez mais crescente. Com o envelhecimento avançado, as pessoas idosas necessitam de cuidados da família. Por isso, tornam-se cada vez mais necessárias ações que contribuam com a família nesses cuidados.

Imagem informando que participar de um projeto para pessoas idosas é contribuir com essa parcela da população cada vez mais crescente.


Veja a seguir um projeto de atendimento a pessoas da terceira idade:  ComCarinho Cuidados com a Pessoa Idosa um projeto social pronto para ser implementado de forma experimental. Um projeto que contribui também com os cuidadores familiares de idosos e idosas. 

Em 2020, iniciei a implementação do projeto em minha comunidade executando apenas uma de suas ações: a realização de visitas domiciliares como espaço de conversação e escuta. Devido à pandemia, as atividades foram suspensas. Passado esse momento de exceção, minha intenção é reiniciá-las. 

Apesar de pouco tempo da execução e de pequeno alcance do público-alvo, percebi a possibilidade da sua implementação e da sua importância para as pessoas idosas favorecidas. Eram apenas três senhoras na faixa dos oitenta aos oitenta e cinco anos. Todas de saúde fragilizada e restritas ao ambiente da casa.

 Com a publicação do projeto no seu formato técnico, minha intenção é contribuir com o público idoso de alguma forma onde quer que ele se encontre. Para isso, necessário se faz que alguém o implemente em sua comunidade local caso ela se insira na problemática do projeto. 

Caso ocorra essa implementação, terei o maior prazer em contribuir com esse processo. Até porque os conteúdos deste caminho SMF Projetos Sociais foram pensados com essa finalidade de discutir temas associados a projetos sociais e contribuir com a implementação dos projetos apresentados. 

De outra forma, a estrutura do projeto pode servir de modelo para outros projetos desta ou de outra natureza conforme a causa que você deseja abraçar. Você o toma como modelo e o adapta aos seus objetivos conforme a realidade de sua intervenção. Espero que você compreenda o modo como foi elaborado o projeto. Se não, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em esclarecer suas dúvidas no que me for possível.

O fato de eu apresentar projetos sociais prontos para implementação não quer dizer que eu tenha larga experiência nessa construção. Não tenho. Toda a minha experiência advém dos meus cuidados com a minha mãe e da observação de ambientes familiares com pessoas idosas sob cuidados. O retrato de um parece ser o de todos: a pessoa idosa reservada ao seu mundo próprio. Então um projeto pensado para contribuir com esse público em pelo menos duas ações citadas a seguir. 


O QUE É O PROJETO SOCIAL COMCARINHO CUIDADOS COM A PESSOA IDOSA?

 

ComCarinho Cuidados com a Pessoa Idosa é um projeto social voltado para a interação social de idosos e idosas por meio de visitas domiciliares e para o acesso a produtos de uso preferencial. Visa à melhoria da qualidade de vida de idosos e idosas ausentes das relações sociais e restritos ao ambiente domiciliar.

Imagem informando que o ComCarinho Cuidados com a Pessoa Idosa é um projeto social de apoio a pessoas idosas sob cuidados da família.


As visitas domiciliares destinam-se sobretudo a pessoas da terceira idade relativamente saudáveis; idosos e idosas com cognição preservada e discernimento verbal. Os produtos de uso preferencial destinam-se principalmente a pessoas da terceira idade com limitações corporais específicas ou com algum grau de dependência. Nos dois casos, idosos e idosas sob cuidados de familiares.

O ComCarinho é um projeto voltado para o conforto, a satisfação e o bem-estar de pessoas da terceira idade cuja situação de vida requeira cuidados especiais. Também um projeto de fortalecimento da solidariedade entre famílias cuidadoras, pois incentiva o repasse de produtos reutilizáveis de uma família à outra com igual necessidade.

É um projeto que se define ainda como uma ação de ajuda a cuidadores familiares de pessoas idosas em situação de vulnerabilidades devido a condições próprias do envelhecimento avançado. É um projeto com atenção especial aos cuidados de prevenção a agravos, circunstâncias sob as quais se ampliam as necessidades de atenção e segurança.

O projeto ComCarinho Cuidados com a Pessoa Idosa não dispõe de recursos próprios nem aporte financeiro de quaisquer instituições. Ele foi pensado para manter sua estrutura na construção de uma rede de colaboradores e colaboradoras pelos quais pretende alcançar os objetivos do projeto por meio de contribuições voluntárias. Somente com esse apoio suas ações serão possíveis. É um convite a setores da população para se envolver com ações sociais de ajuda ao público idoso e contribuir com a melhoria da sua qualidade de vida.

Imagem informando que o funcionamento do projeto ComCarinho Cuidados com a Pessoa Idosa se estrutura na construção de uma rede de colaboradores pela qual pretende alcançar os objetivos do projeto.


 

 AUTORIA E RESPONSABILIDADE 

 

O projeto social ComCarinho Cuidados com a Pessoa Idosa é de autoria e responsabilidade da SMF Projetos Sociais, que não é organização jurídica. É apenas uma denominação que representa uma iniciativa pessoal: a iniciativa da pessoa física Sônia M. F. Lima para abrigar os projetos sociais de sua autoria sem usar o próprio nome; porém, assumindo a sua responsabilidade e compromisso com a iniciativa.

O propósito da SMF Projetos Sociais é mobilizar pessoas físicas e jurídicas na construção de uma Rede de Apoio e Colaboração (RAC) para contribuir com a execução das ações de cada projeto.  Contribuições em termos de doações financeiras, trabalho voluntário e patrocínio de ações para viabilizar o alcance dos objetivos. Para contribuir, é necessário cadastro numa das categorias: colaborador e colaboradora, voluntário e voluntária, patrocinador e patrocinadora.

A SMF Projetos Sociais se define ainda como uma iniciativa voltada para o estímulo de setores da população à participação política; também ao engajamento em ações de natureza social associadas ao interesse público e a necessidades específicas de determinados setores da população em situação de vulnerabilidades.

Como os demais projetos da SMF Projetos Sociais, o ComCarinho Cuidados com a Pessoa Idosa também requer a participação da população na Rede de Apoio e Colaboração para viabilizar a execução de suas ações. Em conteúdo posterior, você poderá observar como se estrutura o funcionamento do projeto a partir da construção dessa rede. Doravante serão muitos conteúdos relativos a esse projeto, inclusive em relação à sua implementação.

Acompanhe os conteúdos subsequentes.

Para conhecer o projeto completo Clique Aqui para download do arquivo PDF.

A você, meus agradecimentos.

Deus esteja com você!

Sônia Ferreira

Teresina, 29 de abril de 2021.

 


 

 


domingo, 25 de abril de 2021

Realizar a vontade de Deus Mensagem nº 3 do quadro Compreensão Bíblica

 

Imagem retratando céu nublado com a mensagem sobre realizar a vontade do Pai assim como Jesus realizou.
Conteúdo do Caminho SMF Quadros e Cores com a Mensagem nº 3 do quadro Compreensão Bíblica sobre realizar a vontade de Deus Pai assim como Jesus Cristo realizou.


Pela vida de Jesus,

Deus nos revela a sua vontade:

que sejamos obedientes e

cumpridores de seus desígnios como Jesus o foi;

que afirmemos Deus Pai,

como Jesus o afirmou em todas as ocasiões.

Jesus nos disse que realizava a vontade do Pai. Não a sua.

Então se ele realizou,

é o que nós devemos também fazer.

Realizar a vontade do Pai, os seus desígnios,

como Jesus realizou.


Hb 2, 10-18.

Uma compreensão possível

Compreenda você também!


Da ação missionária em família a vivências de cuidados com a minha mãe: Deus em meu caminho

Imagem do gato Epifânio apresentando o conteúdo Da ação missionária em família a vivências de cuidados com a minha mãe.
Veja como a partir de uma ação missionária em família Deus encontra meios de me mostrar vivências
de meus cuidados com minha mãe desde sempre quando eu mesma não os reconhecia.

 

Você está na sequência dos conteúdos do caminho Meus Atos de Fé em Deus. Para ver o conteúdo anterior Clique Aqui. Para ver o seguinte Clique Aqui.


DA AÇÃO MISSIONÁRIA EM FAMÍLIA A VIVÊNCIAS DE CUIDADOS COM A MINHA MÃE

DEUS NO MEU CAMINHO

 INTRODUÇÃO

Este é um conteúdo do caminho Meus Atos de Fé em Deus. Nele relato o realizar de uma ação missionária na casa de dona Xis. Nome fictício de uma senhora idosa que acolhia com bastante satisfação minhas ações em sua casa. Na ação apresentada neste conteúdo, relato circunstâncias familiares que me levaram a imaginar um suposto conflito familiar naquela casa decorrente de uma postura minha que julguei inadequada. Essa postura assim julgada me deixou bastante apreensiva e com um profundo mal-estar interior. Esse conflito culminou com uma ação de Deus em minha vida por meio de uma vivência de meu tempo de estudante. 

Nessa vivência ele me fez ver que eu já cuidava de minha mãe ainda na minha adolescência. A partir dessa recordação, outra vivência saiu de minha memória. Era Deus me fazendo ver também que esses cuidados já existiam desde eu menina. Entendi então que a ação missionária naquela família foi o caminho de Deus para ele me trazer respostas a inquietações minhas vivenciadas em meus tempos distantes. Coisas que somente eu sabia. E Deus que tudo sabe. Mas eu não tinha delas a compreensão que naquele momento ele me trazia. Então ele me fazia ver por sua bondade o que certamente era necessário que eu soubesse. 

Mas dessa necessidade eu não sabia. Creio que era coisa dos desígnios de Deus, que não estão ao nosso alcance e que compete somente a ele discernir em nosso favor. Conheça a seguir essa história completa e avalie você mesmo e você mesma. Espero que goste desse meu relato!


AÇÃO MISSIONÁRIA: QUANDO NA FAMÍLIA NEM TODOS OU TODAS PARTICIPAM

Conheci dona Xis em minhas ações missionárias na paróquia na qual eu servia. Uma senhora de alta idade que logo no início me chamou atenção pela desenvoltura com que articulava as palavras. Pela sabedoria que a revelava uma pessoa de fé. Por revelar a sua ignorância diante de determinados fatos e não se sentir incomodada em perguntar. Pelo seu jeito atento de ouvir sempre com muita atenção e se reportar ao assunto ouvido com a precisão de quem o compreendeu e nele quer avançar. Uma senhora de muita sabedoria em Deus.

Logo percebi que dona Xis tinha sede de conversa e muito mais de saber. Uma pessoa aberta a aprendizados e dada a um dedo de prosa. E para mim era sempre um grande prazer conversar com ela. Não tanto pelo que eu levava, mas pelo tanto que eu aprendia também. Inclusive, quando meses antes eu pensara em deixar a missão, foi o pensar nela e nas outras duas idosas de minhas visitas o que me fez continuar. Eu sabia que eu podia contribuir com elas de alguma forma. Não me importava se outros e outras não aceitavam a missão em suas famílias. Importava que elas aceitavam. E de boa vontade. Afinal, eram pessoas idosas que certamente passavam pela mesma situação que minha mãe passara: o se vê sozinha em casa somente na companhia da pessoa cuidadora. O se vê sem alguém para conversar. E talvez até sem alguém que lhe dispensasse um pouco de atenção.

Naquele dia, eu estava mais uma vez em sua casa para mais uma ação missionária. Era o cair da noite de um dia que para mim não fora como outro qualquer. Mas o dia do preparo da ação. E preparar a ação missionária era adentrar um mundo não apenas desconhecido para minhas vivências. Mas um mundo que não parava de me mostrar coisas novas. Também um mundo de ações peculiares que somente à medida que eu o adentrava é que sabia do que se tratava. 

Eu era novata na missão. Então cada ação vinha carregada de perguntas cujas respostas eu somente conseguia plenamente no dia do seu preparo. Aí é que me dava conta do quão grande era aquela missão. Ou do quão pequena eu era para a executar. Era quando eu concluía os preparativos e organizava a sacola com os pertences relativos àquela ação. Sempre com o olhar do será que está tudo aí? Será que não estou esquecendo nada? Sentia o peito se inflamar no confere e mais confere para não esquecer nada. O perfeccionismo de mim se impondo a cada ação. Que fosse!

Então mais uma vez dona Xis me recebia em sua casa para mais uma daquelas ações. Daquela vez se tratava das Novenas de Natal e seria aquele o meu primeiro encontro. Ela sempre ornava o local com o esmero de quem conhecia a ação e a aceitava com satisfação e devoção. 

Afinal, aquele que eu adentrava com o olhar do novo já era um caminho por demais conhecido por ela. Já me informara de que fora uma das fundadoras da paróquia na qual eu me iniciava e nela se mantivera com participação ativa por muitos anos. Até que as limitações da idade a venceram e a sabedoria a levaram a aceitá-las. 

Com as limitações pelo envelhecimento e por outras circunstâncias, restringia-se então ao seu domicílio. Mas com olhar atento às missas e a demais atividades religiosas. Especialmente por meio da televisão. As ações missionárias eram para ela então um alento e uma satisfação.

Naquele encontro, porém, nem tudo saiu a contento. Ou melhor, nada saiu a contento para dona Xis devido a constantes ataques ao silêncio. Ataques que se fizeram ouvir por toda a ação. Nós nos preparávamos para os ritos iniciais quando um carro adentrou a sala requisitando o seu lugar de estacionar no outro extremo de onde estávamos. 

O ronco característico daquele motor nos fez parar enquanto descarregavam as sacolas do seu bagageiro. Dona Xis acompanhava aquele movimento com uma certa desaprovação no olhar. Mas no silêncio de quem não ousa interromper algo tão imperativo que chega com a insígnia do tem que ser agora e não pode ficar para depois. Assim aguardamos o levar as sacolas para então continuar.

Concluído aquele descarregar, retomamos os rituais iniciais daquela ação missionária. Mas não demorou muito para logo o silêncio se vê atravessado por barulhos ininterruptos de uma sala ao lado. Crianças brincavam de correr e de pular. Entre um correr e outro, um pular e outro, falas, risos e gargalhadas estouravam no ar. 

Pelos sons estridentes que ouvíamos, parecia que elas batiam em coisas que vibravam no ar. Seus brinquedos certamente. Os olhos de dona Violeta vagavam entre o lá fora e o lá dentro de casa como em busca de algum socorro naquele instante. Eu imaginava que ela buscava alguém que pudesse conter as crianças. Mas logo o seu olhar parava no chão, resignada com os desfechos daquela situação.

Mesmo percebendo o seu desconforto, não recuei nas leituras e explicações. Continuei como se aquela situação em nada me afetasse. Mas dona Xis não participava. Não estava atenta. Não interagia. Era apenas desolação e resignação que eu via. Mas o que mais me chamou atenção foi o fato de não aparecer uma pessoa adulta que repreendesse aquelas crianças; que ao menos lhes dissesse: parem, sua avó está aqui ao lado em oração; ou ainda, parem porque há uma visita. Nem a minha condição de missionária e visitante fora motivo de alguma repreensão àquelas crianças que nem tão grandes eram.

Então eu me dei conta da insignificância que era aquela ação para os demais membros daquela família. Mais que isso, da insignificância que parecia ser dona Xis para os seus. Não apenas ela própria, mas também o que ela prezava. Eu já me sentia de coração inflamado.

Já seguíamos para mais da metade da ação quando as crianças se fartaram do momento brincante. Então o silêncio reinou entre nós. Mas antes que o aproveitássemos, novamente emudeceu frente ao som de um pandeiro que começara a adentrar a sala. Um som que começava na calçada e se expandia talvez por toda a casa devido à amplitude do seu agudo. 

Dona Xis então apenas meneou a cabeça apoiando o queixo no cabo da bengala que lhe servia de apoio a uma das mãos. Compreendia que talvez somente lhe restasse a resignação mesmo. Fora aquele o único encontro com o qual ela não interagiu de forma alguma. O encontro do seu desconforto e desolação. Também do meu afligir sem saber o que fazer para a confortar. Sem saber o que dizer. Então permaneci sozinha na minha ação.

Dona Xis continuava alheia ao meu falar. Seus olhos a maior parte do tempo voltados para o chão ou vagando pela casa. Quando paravam nos meus era o desconforto e o desapontamento que eu via. Estava realmente constrangida com o ambiente nada acolhedor que sua família lhe proporcionara naquele encontro. 

Mas não ecoou de sua boca uma palavra que revelasse seu sentimento sobre aquela vivência. Uma que a constrangia e comigo compartilhada, ainda que à sua revelia. Eu apenas trafegava entre a pena que sentia por dona Xis e a indignação diante daquelas cenas. Mas disfarçava a minha indignação para não constranger ainda mais aquela senhora. Por todo o tempo, fingi para mim mesma que estava tudo bem. Embora me sentisse desmoronada! Então hoje sei, eu não estava preparada para vivenciar situação como aquela.

Finalizada aquela ação missionária, eu acabava de deixar a casa quando ao passar pela calçada uma voz me interpelou: “E aí, não veio ninguém?”. Era um dos filhos de dona Xis estranhando o fato de amigas suas não terem comparecido ao encontro. Então respondi sem titubear e até meio agressiva: “Não, não veio ninguém. Se vocês que são da família, que estavam em casa, não participaram, como querer que venha alguém de fora?”. 

Eu estava assim meio uma brasa só! Sem atentar à resposta dele, olhei para o jovem cujo pandeiro permanecia em suas mãos e perguntei o que ele era de dona Xis. Respondeu que neto. Então lhe pedi sem nem pestanejar: “surpreende à tua avó, organiza uma ceia de Natal para ela, chama a tua mãe e organizem. Ela vai ficar muito feliz.” Ele não disse palavra. Apenas esboçou um sorriso enquanto girava o pandeiro entre os dedos.

Eu não sabia, mas com aquelas palavras eu acabava de cravar um espinho em meu coração. Comecei a sentir a dor ainda no caminho de volta para casa. Todo o desconforto que eu vira em dona Xis no decorrer daquela ação desaparecia em meus pensamentos. A minha indignação também. Em seu lugar se instalava o arrependimento e o medo. Arrependimento pelo pedido ao neto. Medo das consequências daquele pedido.

Afinal, eu não conhecia aquela família. Era certo que dona Xis já me havia participado não promover encontros em sua casa por não ter quem a arrumasse. Inclusive, os encontros que eu lá realizava eram cercados de cuidados. Ela sempre procurava se certificar se eu iria sozinha. Era constrangimento para ela não poder arrumar a casa. Então eu lhe tranquilizava.

Mas creio que isso não me dava o direito de provocar aquela família. Afinal eu não sabia das suas relações. Então aquela noite avançava e me encontrava cada vez mais aflita. Aquele meu pedido se agigantava dentro de mim numa assombração sem fim. Eu imaginava aquele neto conversando com sua mãe. Relatando o pedido que eu lhe fizera. Imaginava sua mãe se voltando contra dona Xis por acreditar que ela comentava as relações da família. Imaginava dona Xis em apuros frente aos seus filhos e filhas por eu ter soltado as palavras além da conta. 

Tudo isso se agigantava dentro de mim. E eu via o fogo ganhando alturas naquela família. Tão alto que me queimava por dentro. Então eu não cessava de pedir a Deus: Senhor, apaga a faísca que acendi naquela casa. Não deixa que ela incendei aquela família. E nas minhas orações da noite antes de dormir não houve pedido maior.

O dia seguinte ainda me encontrou em meio àquela inquietação. A manhã avançava e eu não conseguia me desligar daquela apreensão diante de Deus em quem eu buscara auxílio. Uma consumição sem fim. Acreditei que eu estava de pouca fé por continuar aflita. Então pedia a Deus também perdão pela minha pouca fé.  

Afinal, ao pedir a Deus seja o que for em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, cremos que ele atende ao nosso pedido. Então tiremos de nós aquela preocupação porque ele já a tomou para si e nos dará a resposta no seu tempo devido. Apesar desse saber, eu não conseguia me desligar daquela consumição. Meu peito continuava em chamas. Talvez por isso tudo o que eu conseguia ver ainda naquele dia seguinte era um suposto conflito naquela família motivado por aquele meu pedido. 


EM MINHAS VIVÊNCIAS, CUIDADOS QUE DEUS ME FAZ VER

Eu me encontrava na pia em mais uma dança das mãos entre sabão, louças e água corrente. Ainda naquela manhã. Em meio àquela aflição, um pensamento fortuito mas tão forte ganhou ares de palavras e saltou em minha boca: "quem sou eu para cobrar de um jovem cuidados com a mãe quando eu naquela idade ali...." Ao pronunciar “naquela idade ali”, eis que mais uma vez me cai da memória uma moldura que se tornava bastante conhecida para mim de outras circunstâncias. Então sem concluir a frase, um grito ecoou em minha boca: "meu Deus, o Clube de Redação!...

Então vivências de minha época de estudante ganharam forma em minha memória. Eu me vi num corredor em meio a alunos e alunas que se misturavam a outros e outras que saíam de uma sala. Havia uma porta aberta por onde saíam. Eu olhava para aquela porta e me via em meio àqueles e aquelas alunas e alunos. Entendi então que aquelas vivências me levavam ao momento em que eu buscava informações sobre o Clube de Redação. 

Mas o que era o Clube de Redação? Uma das atividades extracurriculares que a escola oferecia aos alunos e alunas a cada ano letivo. As meninas com jeito de misse ou do tipo bailarina iam para as ginásticas ou danças da época. As com jeito de atleta ou do tipo perna longa iam para os jogos nas suas distintas modalidades. E as de qualquer jeito ou do tipo Deus me livre iam para o Clube de Redação. Era lá que eu pretendia me encaixar.

Aquela cena me mostrava certamente o momento em que fui à cata de informações sobre aquela atividade. Mas ela não estava entre as recordações que eu tinha daquelas vivências. Lembrava apenas que realmente procurara me informar a respeito. Mas ao saber que aquela atividade levaria a uma ou duas viagens por ano, declinei da minha vontade. Eu via naquelas viagens mais custos para mim. Mais despesas para a minha mãe. 

Continuando a minha fala em meio à minha aflição naquela manhã eu teria concluído: quem sou eu para cobrar de um jovem cuidados com a mãe quando eu naquela idade também não cuidava?

Então Deus resgatava para mim vivências que a minha memória nem julgava tão importantes. Tanto que nem as buscava. Mas por elas Deus me fazia ver que eu cuidava de minha mãe desde a minha juventude. Que o prescindir daquela atividade para não a onerar ainda mais era uma ação de cuidado. Uma ação que o agradara. 

Mas dessas coisas de agradar a Deus eu não sabia. Daquele corredor e daquela porta aberta eu não lembrava. Mas Deus sabia. E ele não esquece. Tanto não esquece que encontrou um caminho para me fazer ver:  a ação missionária em cujo contexto surgiu a aflição que me levaria àquela descoberta. Uma descoberta que me levaria a outras, já que o recordar de uma vivência resgatada por Deus sempre me chegava acompanhada de outras respostas. Então com aquele entendimento eu entendi também muitas outras coisas.

Entendi o porquê de não ter feito a primeira Eucaristia no devido tempo. Era uma pergunta para a qual eu não obtivera resposta e julgava jamais obter. Quando eu olhava para trás, não encontrava nada associado à minha primeira Comunhão. Quando indaguei minha mãe a respeito, ela não lembrava. Então eu acreditava que jamais saberia. Não que isso mudasse algo em minha vida. 

Mas apenas estranhava o fato de ter nascido e crescido sob preceitos católicos observados por minha mãe e não ter feito a primeira Eucaristia no me tempo de menina. Minhas irmãs a haviam feito. Minhas primas também. Só eu não. 

Então no recordar daquela vivência e noutras nela carreadas, eu entendi que certamente não queria onerar a minha mãe. Esse então era um cuidado que me acompanhava desde menina. Um cuidado ancorado no meu olhar para minha mãe e vê apenas o sofrimento que lhe tirava algum vestígio de alegria que lhe pudesse iluminar o rosto. Deus então me trouxera a resposta que eu julgava jamais saber.

De outra forma, aquelas vivências me fizeram entender também o significado da recompensa de Deus. Entendi que Deus me recompensara na habilidade da escrita. Que o que eu deixara de ter naquele Clube de Redação, ele me dera depois. Entendi então que o escrever com certa habilidade não era mérito meu, nunca o fora, mas dele com sua recompensa. Apesar dos cursos que eu fizera e do meu esforço próprio. 

Mas muitos e muitas também fizeram cursos e mais cursos e se esforçaram talvez até mais do que eu, e nem por isso talvez tenham adquirido a habilidade da escrita ou aprofundado os seus conhecimentos a seu respeito. Entendi que os cursos e o esforço próprio são apenas a explicação humana com sua tendência a escamotear Deus em nossa vida.

CONCLUINDO

Estávamos quase no final do ano de dois mil e dezenove. No meu trafegar pelas ações missionárias, eu não tinha uma consciência exata de Deus me movendo naquele caminho. No entanto, ele já me sugerira no ano anterior que a minha ida à paróquia daquelas ações era determinação sua. Eu é que não lembrava. Somente no ano seguinte, é que tudo se elucidaria. 

Então eu teceria os fios que me conduziam por todo aquele ano que se findava. E naquele tecer eu encontraria respostas para as minhas aflições que eu julgava sem razões por não saber explicá-las. Então eu entenderia. Era Deus tentando me trazer respostas como aquelas que ele acabava de me mostrar. Entendi o seu caminho na ação missionária para me fazer ver os meus cuidados com minha mãe desde sempre. 

Mas por que na ação missionária? Porque aquela ação me levava a ambientes domiciliares. Em levando, permitia-me vê ou perceber de alguma forma as relações familiares. As novas relações que não raras vezes colocam mães, pais, avós e netos no mesmo ambiente de moradia. Algo que eu já não vivenciava nem mantinha relações tão próximas com jovens e crianças.

Mas por que ele me trazia aquelas respostas? Porque em meu parco saber, eu acreditava que meus cuidados com minha mãe se haviam iniciado com o seu envelhecimento e mais ainda com a sua incapacidade. Também porque depois da partida de minha mãe rumo ao Pai foram tantas as manifestações de Deus em minha vida que me fizeram sentir na sua proteção. 

Eu me sentia nessa proteção e acreditava que era devido aos meus cuidados com a minha mãe de forma plena. Por isso eu experimentava a sua infinita bondade. Mas esta é a minha explicação humana. E tudo o que é humano é muito limitado. Mas se há outra explicação, Deus é quem sabe. Ele, que tudo vê! 

Só mais tarde é que eu entenderia melhor aqueles momentos quando minha leitura bíblica me fez ver em suas linhas que Deus nos recompensa quando fazemos coisas que lhe agradam. Então as façamos!

Noutros conteúdos, relatarei outras manifestações de Deus em minha vida. Permaneça, pois, neste caminho Meus Atos de Fé em Deus!

A você, os meus agradecimentos!

Deus esteja com você!

Sônia Ferreira

Teresina, 25 de abril de 2021.


Gato Epifânio convidando leitores e leitoras a se inscreverem no blog e o seguir.
Epifânio: o guia deste caminho Atos de Fé em Deus.





sábado, 24 de abril de 2021

Salmo 32, 8-9 Mensagem nº 3 do quadro Citações Bíblicas sobre Deus Criador

 

Imagem de um jardim ao fundo com o Salmo 32, 8-9 sobre reverenciar a Deus Criador.
Mensagem nº 3 do quadro Citações Bíblicas com o Salmo 32 8-9 sobre Deus Criador de todas as coisas como um dos primeiros princípios da fé em Deus.


Tema ao Senhor toda a terra;

reverenciem-no todos os habitantes do globo.

Porque ele disse e tudo foi feito,

ele ordenou e tudo existiu.”

(Salmo 32, 8-9)



O ideal de igualdade em governos democráticos: condição de possibilidade do status quo? Caminho: Neura Científica

Imagem com o gato Mardoqueu apresentando o conteúdo O Ideal de Igualdade em governos democráticos.
Este ensaio se refere às razões pelas quais os governos democráticos enfatizam mais o ideal de igualdade em vez dos de liberdade e sugere que é porque ele favorece a uniformização de comportamentos com vistas à manutenção do status quo. Mais um conteúdo do Caminho Neura Científica.

 

O IDEAL DE IGUALDADE EM GOVERNOS DEMOCRÁTICOS:

CONDIÇÃO DE POSSIBILIDADE DO STATUS QUO?*

 

Sônia Maria Ferreira Lima**

 

RESUMO:  Este ensaio apresenta algumas respostas para as seguintes questões: quais as razões que levariam governos democráticos a enfatizarem tanto os ideais de igualdade em vez dos de liberdade, quando se sabe que, empiricamente, os homens são absolutamente desiguais? Quais interesses subjacentes na propagação desses ideais? Que vantagens teriam os governos quando assim procedem? Na busca dessas respostas foram fundamentais as concepções de Aléxis de Tocqueville (2000) sobre igualdade e individualismo; e as de Adam Smith (1999) sobre os sentimentos morais, precisamente em relação às condutas louváveis e às reprováveis. A primeira seção focaliza a igualdade e as consequências desse ideal. Refere-se à formação da conduta individual e revela como a sociedade exerce pressão sobre essa formação. A segunda seção se reporta ao diverso e ao desigual, e às condutas que os ideais de igualdade pressupõem, mas que não se deixam evidenciar. Como ensaio, trata-se de um trabalho bibliográfico com argumentos próprios. A argumentação dá-se a partir de ideias centrais baseadas em Smith e Tocqueville às quais se intercalam posições de autores como Joseph Schumpeter (1983), John Rawls (2003) e Mancur Olson (1999). Prossegue numa construção de ideias que se contrapõem ou que se acordam, mas sempre na busca de respostas que possibilitem uma compreensão dos temas propostos. As respostas às questões propostas sugerem que o interesse dos governos democráticos ao enfatizarem os ideais de igualdade em vez dos de liberdade é favorecer a manutenção da ordem vigente a partir da uniformização dos comportamentos com vistas à subordinação. Para isso, torna-se imprescindível podar os ideais de liberdade porque supostamente seriam eles a concorrerem para o questionamento da ordem.

Palavras-Chave: Adam Smith. Tocqueville. Schumpeter. Rawls. Olson. Democracia. Igualdade. Liberdade. Conduta Individual. Coerção. Status Quo.

 

 

INTRODUÇÃO

 

As teorias jusnaturalistas dos séculos XVI ao XVIII, que tratam sobre os fundamentos do Estado moderno, introduzem os conceitos fundamentais das discussões político-ideológicas da época que se estenderiam aos séculos seguintes: os conceitos de igualdade, liberdade e propriedade. Os dois primeiros instituíram-se como os principais pilares da democracia, âmbito no qual se fortalecem esses ideais.

Porém, a despeito da liberdade como um dos pilares da democracia, o destaque deste ensaio é sobre o primeiro conceito – o de igualdade –, especialmente porque, em detrimento da liberdade, foi a igualdade que carreou em seu curso todos os sentimentos e todas as ideias daquelas épocas (TOCQUEVILLE, 2000), tornando-se o pensamento particular e dominante que singulariza aqueles tempos.

Em suas origens, quando a liberdade estava apenas nas ideias e nos gostos, a igualdade “[...] já havia penetrado nos hábitos, tinha se apossado dos costumes e dado um toque particular às menores ações da vida” (TOCQUEVILLE, 2000, p.117). A liberdade, ao contrário, por ter-se manifestado aos homens em diferentes tempos e formas, inclusive fora das democracias, não poderia, por isso, constituir o caráter distintivo dos tempos democráticos. A igualdade, sim. Inclusive, como ideia dominante que se instituía desde àquelas épocas, os homens e os poderes que quisessem lutar contra ela – a força irresistível – seriam derrubados e destruídos por ela, dada à força e à extensão do seu conceito, que se ampliava em torno dos seus ideais.

Esse entendimento suscita indagações sobre as razões pelas quais os ideais de igualdade se tornaram tão caros à democracia clássica, a ponto de os governos não subsistirem sem eles. Questionam-se, pois, as razões que levariam os governos democráticos, ainda em nossos tempos, a enfatizarem tanto a igualdade, quando se sabe que, empiricamente, os homens são absolutamente desiguais. Quais interesses subjazem nesses governos ao empenhar essa “bandeira”? Que vantagens teriam? São alguns questionamentos que se impõem na busca de compreensão do fato de os ideais de igualdade assumirem importância preponderante na democracia em detrimento dos ideais de liberdade.

Na tentativa de respostas para essas questões, parte-se do pressuposto de que os governos democráticos teriam interesse em uniformizar comportamentos com vistas à preservação da ordem social. Tal pressuposto fundamenta-se na teoria dos sentimentos morais de Smith (1999), para quem os homens são levados a examinar sua própria conduta como imaginam que os outros a examinariam; se, nessa inversão de lugar e de olhar, conseguem compartilhar as paixões e os motivos que a determinam, a conduta é aprovada com a sua aprovação pelos outros; mas, se ao contrário, compartilham a sua desaprovação, a conduta é condenada. São esses indicativos bastante reveladores de que a conduta individual é determinada pelo olhar da sociedade.

Ancorando-se nesses pressupostos, este ensaio propõe apresentar algumas razões que explicariam o interesse de governos democráticos em propagar os ideais de igualdade, assim como alguns fatores que se poderiam considerar como possíveis ganhos dos governos ao evidenciar esses ideais.

Na apresentação dessas razões, a argumentação segue dividida em duas seções. A primeira, refere-se ao ideal de igualdade e suas consequências, e à coerção social como mecanismo de pressão de que se utiliza a sociedade na formação da conduta individual. A segunda seção suscita uma reflexão sobre condutas que evidenciam o diverso e o desigual, porém, escamoteadas pela ênfase na ideia de igualdade.

Trata-se de um trabalho bibliográfico fundamentado nas ideias de Smith (1999) e Tocqueville (2000) e complementado com ideias de Rawls (2003), Olson (1999) e Schumpeter (1983).  As argumentações intercalam as posições dos referidos teóricos observando aspectos relevantes para as respostas à questão acerca dos ideais de igualdade assumirem importância preponderante nas democracias. Os argumentos se articulam na construção de um pensamento que corrobora com o pressuposto pelo qual a uniformização de comportamentos em prol da preservação da ordem social seria uma das principais razões de os governos democráticos evidenciarem sobretudo os ideais de igualdade em vez dos de liberdade.

 

IGUALDADE E FORMAÇÃO DA CONDUTA INDIVIDUAL

A democracia pressupõe o estado de direito no qual os indivíduos são tratados como iguais perante a lei. Essa condição de igualdade naturalizou-se enquanto ideal nas sociedades modernas. A democracia, então, fez desse ideal seu estandarte. São vários os autores que teorizaram sobre os ideais democráticos. Entre estes, Rawls (2003, p. 55) propõe sua teoria da justiça como equidade para uma sociedade democrática “[...] que não só professa, mas pretende levar a sério a ideia de que cidadãos são livres e iguais [...]”. Schumpeter (1983, p. 332), no entanto, considera que o próprio significado de igualdade é duvidoso “[...] e dificilmente há qualquer garantia em exaltá-lo como postulado, na medida em que nos movemos na esfera da análise empírica”. Tocqueville, (2000, p. 115) por sua vez, vê na igualdade uma possibilidade de males que “[...] se insinuam gradativamente no corpo social; só são vistos de longe em longe e, quando se tornam mais violentos, o hábito já fez que não sejam mais sentidos.”

Em detrimento dessas teorizações, o que se analisam neste ensaio são as razões pelas quais os governos democráticos fazem do ideal de igualdade um estandarte. Supõe-se que a construção de preceitos morais necessários à coerção social seria uma dessas razões, pois, assim como os legais, contribuem sobremaneira para a formatação da conduta individual e, como consequência, da preservação da ordem societária.

Nesse aspecto, a concepção de individualismo de Tocqueville (2000) e a teoria dos sentimentos morais de Smith (1999), precisamente no que se refere à sua concepção de condutas valorativas e condutas reprovativas, trazem uma contribuição bastante significativa na argumentação. Senão, vejamos. O individualismo de que trata Tocqueville (2000) leva a um distanciamento entre os homens proporcionado pela própria ideia de igualdade. O individualismo assim concebido se conforma às ideias de Smith (1999) quanto ao seu conceito de conduta valorativa, precisamente na sua assertiva de que os homens, ao se reconhecerem no outro, no seu semelhante, adotam igualmente a mesma postura de isolamento, pressupondo que a conduta que observa no seu igual é digna de aplauso e, portanto, passível de ser tomada como sua própria conduta.

Empenhamo-nos em examinar nossa própria conduta como imaginamos que outro espectador imparcial e leal a examinaria. Se, colocando-nos em seu lugar, conseguimos compartilhar inteiramente as paixões e motivos que a determinaram, nós a aprovamos por simpatia com a aprovação desse suposto eqüitativo juiz. Se, ao contrário, compartilhamos sua desaprovação, condenamos essa conduta (SMITH, 1999, p. 140).

Essa preocupação com o “olhar do outro” expressa o quanto a sociedade exerce pressão sobre a conduta individual, tornando-a suscetível à aprovação ou vulnerável à censura, o que se realiza conforme os valores vigentes. O individualismo configura-se, então, como um valor aprovado pela sociedade; logo, um valor compartilhado por todos; um valor legítimo, assim como a própria ideia de igualdade que o proporciona.

Depreende-se desse fato que os governos de Estados democráticos, ao tentarem legitimar uma ideia, partem do princípio de que os homens naturalmente têm necessidade de aprovação de sua conduta a partir do olhar de seus semelhantes. Logo, percebem ser próprio do homem a preocupação em saber em que medida seu comportamento merece ou não aplauso ou censura.  Com essa compreensão, veem na preocupação com os outros a possibilidade de os homens examinarem suas próprias paixões e condutas. Assim, considerar o que estas pareceriam aos outros pensando o que a ele próprio pareceria caso estivesse em seu lugar.

Assim como Smith (1999, p. 139), consideram esses governos que “o princípio pelo qual naturalmente aprovamos ou desaprovamos nossa própria conduta parece em tudo igual ao princípio pelo qual formamos juízos semelhantes a respeito da conduta de outras pessoas”. Assim, da mesma forma que os homens desejam naturalmente ser amados, temem ser odiados. Mas não apenas isso, pois também desejam tanto serem amáveis como temem igualmente serem odiosos. Se por um lado então os homens desejam ser “[...] objeto natural e apropriado de amor”, por outro temem “[...] ser objeto natural e apropriado de ódio” (SMITH, 1999, p. 143).

Considerando-se a veracidade dessas proposições, é possível se inferir que os governos democráticos procuram enfatizar os ideais de igualdade por perceberem que com eles podem fomentar condutas que afirmem os valores que pretendem legitimar. Daí por que Tocqueville se reporta aos males, efeitos e consequências que a extrema paixão pela igualdade proporciona aos homens que vivem sob os governos democráticos. Considera que o individualismo surge como primeira consequência desse ideal, além do amor pela própria igualdade, que a torna mais desejada do que a liberdade e que os homens a têm como uma conquista “[...] e se prendem a ela como a um bem precioso que querem lhes roubar”. (TOCQUEVILLE, 2000, p. 116). Individualismo esse que, segundo ele, tem sua origem na própria democracia e se instala entre os homens à medida que se igualam as condições de existência.

É nesse sentido que a ideia de igualdade exerce um papel fundamental nos governos democráticos, pois é a partir dela que se legitimam condutas e valores voltados a interesses que fortalecem a manutenção da ordem social em detrimento de sua transformação. Com vistas a uma melhor compreensão desse processo, as concepções de condutas louváveis e condutas reprováveis de Smith (1999) contribuem para as análises que se empreendem a partir de agora, de modo que se percebam mecanismos pelos quais os ideais de igualdade propagados por governos democráticos conseguem formatar condutas individuais. Através destas, esses governos tendem a reforçar valores que reafirmam o status quo e, ao mesmo tempo, a neutralizar ações que possam levar a sua transformação.

Podemos compreender então que a ideia de igualdade é disseminada entre os indivíduos conforme o comportamento que se deseja obter deles. Nesse caso, aos governos é salutar o comportamento comedido, de paixões controladas seja pelo próprio indivíduo ou pelas normas instituídas. No caso de paixões autocontroladas, os governos são levados a reforçar positivamente os indivíduos, levando-os a ações que se desejam legitimar ou que já se tenham naturalizado como valores vigentes numa determinada ordem. É nesse aspecto que o “olhar do outro” assume importância central como mecanismo de coerção, quando a conduta individual é influenciada ou determinada pela conduta do semelhante, ou seja, pela própria sociedade.

Ansiamos por saber em que medida merecemos sua censura ou aplauso, e se perante elas necessariamente mostramo-nos tão agradáveis ou desagradáveis como elas perante nós. Começamos, pois, a examinar nossas próprias paixões e conduta, e considerar o que devem parecer aos outros, pensando o que a nós nos pareceriam se estivéssemos em seu lugar. Supomo-nos espectadores de nosso próprio comportamento, e procuramos imaginar o efeito que, sob essa luz, produziria sobre nós (SMITH, 1999, p. 141).

Smith (1999) expressa a necessidade de o indivíduo se afastar ou se distanciar de si mesmo e se colocar no lugar do outro que o olha, de modo que ao se enxergar, possa identificar suas predisposições espirituais. Revela assim que é preciso a inversão do olhar para que se imagine olhado ou visto do ponto de vista do outro. Com essa inversão, o outro que olha se torna o próprio espelho do que é olhado, levando este a se interpelar e a se questionar a partir dele.

No entanto, com essa possibilidade de se vê através do outro, os indivíduos adquirem também a capacidade de “filtrar” as informações sobre si mesmo, tomando apenas o que lhes é significativo e “bom”. E neste caso recaem sempre no que lhe afirmam os valores da ordem vigente. Acontece, porém, que ao se enxergar no seu igual, pode até não ser tão difícil reconhecer as qualidades externas, aquelas relativas ao corpo; mas não tão fácil reconhecer e aceitar as internas, as qualidades relativas ao espírito. Quanto a estas, uma vez reconhecidas, a tendência é tomar para si somente as paixões passíveis de serem valoradas e aprovadas socialmente; e negar ou escamotear aquelas que são vistas como indesejáveis ou reprováveis, porquanto recebem o repúdio da coletividade.

Logo, quando o indivíduo se conduz conforme os valores legitimados na sociedade, tem a aceitação dos seus semelhantes; por conseguinte, a sua própria satisfação. Do contrário, obtém a censura. É assim que se estabelecem os preceitos morais necessários à coerção social, à medida que os indivíduos incorporam ao seu universo cognitivo as condutas suscetíveis de louvor e rejeitam as passíveis de censura.

Para melhor compreensão do que foi exposto, acompanhemos a seguinte ilustração: ao observarmos a conduta das pessoas em relação a ações consideradas “positivas”, como por exemplo o assédio das fãs a um atleta vencedor de competições; ou, por outro lado, ao observarmos a conduta das mesmas pessoas em relação a ações consideradas “negativas” ou demasiado depreciativas como a prática de um crime, por exemplo, podemos nos deparar com duas formas distintas de posicionamento das mesmas pessoas em relação à igualdade.

No primeiro caso, pode não haver nenhuma resistência das pessoas em se espelhar no outro, no atleta vencedor; pelo contrário, a identificação pode ser até imediata, vez que a ação por ele praticada é louvável; por isso, desejável para os que compartilham esse valor. Podemos verificar então que, quando a ação é louvável, a identificação é imediata, como se o desejo fosse imanente àquela ação; por isso, não há nenhuma resistência em assumir a condição de igualdade em relação ao atleta vencedor. A reflexão diante do “espelho” diz: a conduta dele é louvável e como sou igual a ele também posso tê-la. Assim, a ideia de igualdade serve para reforçar a conduta e disseminá-la na sociedade, seja uma conduta louvável e por isso merecedora de reprodução; ou uma conduta reprovável e por isso merecedora de repulsão ou negação.

Ocorre, porém, que o mesmo não acontece quando se verificam ações consideradas “negativas”, como no segundo caso, condutas de natureza depreciativa ou desprezível. Pelo contrário, estas tendem a ser rejeitadas, pela seguinte razão. Assim como o amor e a admiração que os indivíduos concebem naturalmente por alguns semelhantes, da mesma forma o ódio e o desprezo levam os indivíduos a temerem a simples ideia de se parecer, ainda que nos mínimos aspectos, com aqueles que praticam ações passíveis de ódio e desprezo (SMITH, 1999). Se a conduta se associa ao amor e à admiração, os indivíduos são inclinados ao desejo de se tornarem objetos desses sentimentos; se associada ao ódio e ao desprezo, o desejo é de afastamento ou repulsão.  Constata-se essa situação pelo fato de que

Quando criou o homem para a sociedade, a natureza o dotou de um desejo original de agradar, e de uma aversão primária a ofender seus irmãos. Ensinou-o a sentir prazer com a opinião favorável destes, e a sofrer com sua opinião desfavorável. Tornou a aprovação dos semelhantes em si mesma muito lisonjeira e agradável a ele, e sua desaprovação muito mortificante e ofensiva (SMITH, 1999, p. 146).

É por isso que em se tratando do segundo caso, ao contrário do primeiro, embora reconhecendo no autor do crime um igual, não há identificação das pessoas em relação a ele, mas a repulsa e o desejo de afirmar a diferença. Neste caso, se por um lado “tememos a ideia de fazer algo que nos possa tornar objetos justos e adequados de ódio e desprezo de nossos semelhantes [...]” (SMITH, 1999, p. 147), por outro, reforçamos aquela conduta “negativa” e reprovativa na sociedade mais ampla. Podemos inferir então desse fato que em relação às paixões “negativas” ou reprovativas a conduta de quem as realiza é reprovada não apenas por tê-las praticado em prejuízo de outrem, mas também porque denuncia publicamente aquela característica ao conjunto dos homens, uma característica que devido ao seu caráter “negativo” não se deveria ter revelado. Ao tornar pública uma conduta “negativa” é como se o indivíduo estivesse rompendo o pacto, tacitamente firmado, pelo qual só o louvável merece ser dito ou mostrado.

Os governos democráticos, portanto, ao levantarem a “bandeira” da igualdade, reforçam entre os indivíduos condutas que evidenciam valores já arraigados ou que desejam legitimá-los. Assim, contribuem para a construção ou preservação de mecanismos de coerção que modelam o comportamento dos indivíduos, favorecendo a manutenção da ordem social independentemente de sua regulamentação. Entretanto, não significa que poderiam prescindir dos mecanismos legais, mas tão somente que estes seriam menos necessários quanto mais as condutas individuais fossem devidamente formatadas pela coerção social.

Nesse processo de legitimação de comportamentos, a experiência e a imaginação contribuem significativamente. A experiência mostra as medidas de conduta a serem respeitadas ou rejeitadas, levando os homens a refletirem sobre a conveniência de seu próprio comportamento quando com prazer ou vergonha relembram cada parte desse comportamento (SMITH, 1999). Pela experiência, os homens naturalizam as condutas louváveis e as reprováveis, que passam a ser identificadas no conjunto da sociedade.

Por conseguinte, sabendo que os sentimentos suscitados pelas condutas são efeitos naturais e comuns, os homens associam esses efeitos em sua imaginação e adquirem o hábito de concebê-los como algo que se deveria seguir natural e apropriadamente através da imaginação (SMITH, 1999). É assim que esta possibilita o exame da própria conduta ao supor o modo como o “olhar do outro” a examinaria.

Porquanto o ideal de igualdade esteja baseado em princípios pautados na aprovação ou reprovação de uma ação, os homens são naturalmente levados a adotarem condutas que reafirmem o desejo de agradar. Por conseguinte, uma vez que se tenha a conduta individual pautada em tais pressupostos, a consequência imediata que se poderia verificar seria com relação aos níveis de integração social. Níveis baixos poderiam supor que os ideais de igualdade ou não estão suficientemente naturalizados nas práticas diárias ou os “modelos” de conduta louváveis são diminutos em relação aos reprováveis.

Em quaisquer dos casos, a fragmentação ou corrosão das relações sociais seria uma possibilidade iminente, comprometendo, assim, a manutenção da ordem societária. Para impedir tal situação, caberia então aos governantes a função de reforçar os ideais de igualdade e/ou de ampliar os mecanismos legais. Neste segundo caso, porém, a medida serviria antes para reafirmar a condição de fragilidade das relações sociais mais do que para afirmar o seu fortalecimento.

 

O DIVERSO E O DESIGUAL NA IGUALDADE

A seção precedente sugere que os ideais de igualdade tendem a moldar condutas individuais reafirmando valores vigentes na sociedade. Se por um lado esses ideais reforçam as condutas aprovativas, por outro evidenciam também as repulsivas. Sugere também que a ênfase dos governos democráticos nesses ideais cumpre a função de reforçar os mecanismos de coerção social, os quais favorecem a manutenção do status quo.

Considerando, porém, que enquanto se afirma o igual também se evidencia o desigual e o diferente, esta seção analisa circunstâncias que revelam situações não tão evidentes e que tendem a passar despercebidas quando se propagam ideais de igualdade.

O próprio Tocqueville (2000, p. 365) chama atenção para o fato de todo governo central gostar da uniformidade por lhe poupar “[...] o exame de uma infinidade de detalhes de que teria de se ocupar, se tivesse de estabelecer a regra para os homens, em vez de colocar todos os homens indistintamente sob a mesma regra.” Esta afirmação deixa a compreensão de que é salutar aos governos uniformizar comportamentos devido a sua própria limitação em cuidar da diversidade. Podemos compreender, então, que os ideais de igualdade terminam por cumprir o papel de escamotear as diferentes necessidades e interesses.

Por outro lado, também se tem a compreensão de que esses ideais são da mesma natureza dos ideais de bem comum, de vontade geral, de coletividade. No entanto, “[...] mesmo que um bem comum suficientemente definido [...] se mostrasse aceitável para todos, isso não implicaria respostas igualmente definidas para as questões isoladas” (SCHUMPETER, 1983, p. 315), uma vez que

[...] não existe algo que seja um bem comum unicamente determinado, sobre o qual todas as pessoas concorrem ou sejam levadas a concordar através de argumentos racionais. Isso se deve, basicamente, não ao fato de algumas pessoas poderem desejar coisas diferentes do bem comum, mas ao fato muito mais fundamental de que, para diferentes indivíduos e grupos, o bem comum está fadado a significar diferentes coisas (SCHUMPETER, 1983, p. 314).

Exatamente pela impossibilidade dos governos de dar respostas diferentes a diferentes indivíduos é que os ideais de igualdade cumprem a função uniformizante como meio de neutralizar as diferenças. Assim, teriam menos dispêndio em relação ao trato particular a diferentes indivíduos na sua heterogeneidade. Tal assertiva se torna mais elucidativa em se observando o seguinte exemplo: uma política pública unitária e indiferenciada que vise a todos os indivíduos indistintamente levaria os indivíduos que dela não necessitam a se excluírem voluntariamente, ficando a descoberto outra possível necessidade na mesma área. Mas isso não seria visto de imediato, devido à visão escamoteante do “igual para todos”. Um exemplo seria a política do Sistema Único de Saúde (SUS) que, embora universal, ainda assim não atende a todos os setores da população. Outro exemplo refere-se à coleta compulsória de tributos. Nesse caso, é possível observar que

Os benefícios ou serviços mais elementares proporcionados por um governo, como defesa militar, proteção policial e o sistema de lei e ordem em geral, são benefícios ou serviços que alcançam a todos ou praticamente a todos na nação.  Seria obviamente inviável, caso fosse possível, negar a proteção das forças armadas, da polícia e dos tribunais àqueles que não pagassem voluntariamente sua parte dos custos governamentais com esses serviços, e os impostos são, portanto, necessários (OLSON, 1999, p. 26).

Ocorre, porém, que mesmo que esses benefícios não sejam efetivados também não o são requisitados prontamente pelos grupos de beneficiários; exceto em situações específicas e esporádicas em que determinados grupos os resolvam requisitar. Além disso, o recolhimento de impostos já parte da ideia de igualdade; da ideia de que uma vez que todos podem igualmente se beneficiar desse direito, em contrapartida teriam igualmente as mesmas obrigações. Propaga-se então a ideia de que todos contam igual; que todos estão sob a mesma medida; por isso, dispõem dos mesmos direitos, ainda que estes lhes imponham também as mesmas obrigações.

Entretanto, é exatamente pela impossibilidade da efetivação de contribuições voluntárias, que se fazem necessários pagamentos compulsórios como os impostos, já que

[...] apesar da força do patriotismo, do apelo da ideologia nacional, dos laços de uma cultura comum e da indispensabilidade da lei e da ordem, nenhum Estado importante na história moderna foi capaz de se sustentar através de cotas ou contribuições voluntárias (OLSON, 1999, p. 25).

Verifica-se, assim, que os governos dispõem de variados apelos baseados nos ideais de igualdade. Apelos que levam os indivíduos a se subordinarem às suas normas. Se não se subordinam voluntariamente pelos apelos morais ou ideológicos, o fazem pela força, pelo pagamento compulsório de impostos. Mas mesmo neste caso também está presente a ideia de igualdade, quando na definição das alíquotas não se consideram os diferentes segmentos da sociedade com suas condições socioeconômicas diferenciadas. Iguala-se a todos e a todas numa alíquota única e nessa alíquota se instala a injustiça.

Observemos essa situação tanto no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) quanto nas tarifas de transportes coletivos. Nesses casos, setores populares com baixos níveis de renda terminam por contribuir mais do que setores com rendas mais elevadas. Ainda que se relativizem cada caso em termos percentuais em relação aos níveis de renda.

Tanto o imposto quanto as tarifas atendem a setores indistintos da população nas mais variadas modalidades de vida. Taxados com alíquotas iguais, levam a todos e a todas a pagar o mesmo valor ou um valor equivalente à sua renda. Mas um valor X para quem dispõe de muito pode ser inalcançável para quem nada dispõe ou dispõe de pouco. Tem-se então a injustiça instalada na alíquota única.

No entanto, mesmo evidenciando a injustiça, esta tende a não ser questionada pelos setores das rendas baixas, ainda que se saibam prejudicados. É assim que faz todo o sentido a advertência de Tocqueville (2000, p. 115) ao afirmar que

os males que a extrema igualdade pode produzir só se manifestam pouco a pouco; eles se insinuam gradativamente no corpo social; só são vistos de longe em longe e, quando se tornam mais violentos, o hábito já fez que não sejam mais sentidos.

Com o exemplo, é possível perceber que, em se tratando de políticas generalizantes ou universais, a ideia de igualdade termina por excluir determinados setores da população. Todos recolhem o imposto, mas considerando que o governo não investe o suficiente nessas políticas de modo a legitimá-la em toda a sua abrangência, aqueles que não se sentem contemplados pelos serviços disponibilizados são levados a se excluírem “voluntariamente” do grupo beneficiário, e procurar (ou não) alternativas que atendam às suas necessidades.

De outra forma, Olson (1999) chama atenção para o fato de um benefício coletivo não ter o caráter generalizante, pois

Um benefício coletivo dirige-se a um determinado grupo de pessoas, outro benefício coletivo dirige-se a outro grupo; um pode favorecer o mundo inteiro, outro só a duas pessoas. Além do mais, alguns benefícios são benefícios coletivos para os membros de um determinado grupo e ao mesmo tempo benefícios privados para os membros de outro grupo, porque alguns indivíduos podem ser impedidos de desfrutar daquele benefício e outros não podem. (OLSON, 1999, p. 26. Rodapé).

Com relação aos excluídos de uma política, considere-se, como exemplo, o caso da universidade pública, que é um benefício coletivo universal, mas termina por favorecer a grupos determinados em detrimento de outros de igual direito. Supondo-se, pois, que um indivíduo das classes menos favorecidas, uma vez aprovado em vestibular, sinta-se impedido de frequentar a universidade devido às suas limitações financeiras, é uma evidência de que suas necessidades são diferenciadas, necessitando, portanto, de uma política que o atenda em suas necessidades específicas. Percebe-se, então, que, embora os governos disponibilizem uma política ampla com fins universais, nem todos conseguem se beneficiar dela.

Conclui-se, então, que a ideia de igualdade, mesmo evidenciando as diferenças, possibilita ao governo não elaborar políticas diferenciadas que possam atender a grupos diversos, a não ser que seja provocado por esses grupos. Ainda assim, sem garantias de efetivação. Mas, uma vez que não as realize, também não o será penalizado por essa negação.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este ensaio identificou algumas razões por que governos democráticos tendem a focalizar os ideais de igualdade em detrimento dos de liberdade, evidenciando os interesses subjacentes nesse procedimento. O estudo realizado possibilitou a discussão de algumas questões sintetizadas abaixo.

a) O ideal de igualdade cumpre a função de reforçar ações e condutas louváveis e inibir as reprovativas ou indesejáveis. Por isso, exerce papel fundamental nos governos democráticos, pois é a partir delas que se legitimam valores que concorrem para a manutenção de uma determinada ordem.

b) O individualismo é a primeira consequência do ideal de igualdade; tem sua origem na democracia, e se instala entre os homens à medida que se igualam as condições de existência. Proporciona o distanciamento entre os homens, levando cada um a cuidar de si sem preocupação com a coletividade. Configura-se como um valor legítimo na sociedade e por isso um valor compartilhado por todos, pois cada homem ao se reconhecer no seu semelhante, adota igualmente a mesma postura de distanciamento por considerar essa postura uma conduta louvável.

c) Ao focalizar a igualdade, os governos democráticos partem do princípio de que os homens têm naturalmente necessidade de aprovação de sua conduta pelo que percebem que os seus semelhantes a avaliam. Por isso, a percepção do outro sobre a conduta individual assume importância central como mecanismo de coerção. Mas os indivíduos desenvolvem a capacidade de filtrar somente as paixões louváveis, e rejeitar as indesejáveis ou reprováveis, uma vez que estas tendem a atrair o repúdio da sociedade.

d) Na legitimação de condutas louváveis e reprováveis, a experiência e a imaginação contribuem com o processo de naturalização, tornando-as identificáveis e desejáveis ou repulsivas no conjunto da sociedade.

e) Ao governante é preferível enfatizar a uniformidade, pois esta lhe poupa “[...] o exame de uma infinidade de detalhes de que teria de se ocupar, se tivesse de estabelecer a regra para os homens, em vez de colocar todos os homens indistintamente sob a mesma regra” (TOCQUEVILLE, 2000, p. 365).

f) Os ideais de igualdade têm um caráter uniformizante com tendência a neutralizar as diferenças; daí o empenho dos governos em propagá-los pela impossibilidade mesma de dar respostas diferentes a diferentes indivíduos. É o que se verifica no caso de algumas políticas públicas: homogeneízam-se os indivíduos em torno de uma política unitária e indiferenciada ainda que não contemple a todos.

g) Com base nos ideais de igualdade, os governos dispõem de variadas formas pelas quais levam os indivíduos a se subordinarem às suas determinações, seja por apelos morais ou ideológicos, seja pela força das normas legalmente instituídas.

Considerando-se que são estas as razões por que os governos democráticos se empenham tanto em expressar os ideais da igualdade, pressupõe-se que, em última instância, subjaz o desejo de impedir a manifestação dos ideais de liberdade, pois são esses que concorrem para o questionamento da ordem estabelecida. Enquanto a igualdade surge aos homens a partir das normas e, assim, como manifestação externa, a liberdade, ao contrário, nasce do próprio homem. É manifestação interna que, antes de se expressar objetivamente, manifesta-se no desejo. É por isso que, enquanto a igualdade já se havia apropriado dos costumes e penetrado nos hábitos, “[...] a liberdade estava apenas nas ideias e nos gostos [...]” (TOCQUEVILLE, 2000, 117); ou seja, manifestava-se no desejo e como consequência dos males produzidos pela igualdade, que “[...] só se manifestam pouco a pouco [...] [e] se insinuam gradativamente no corpo social” (TOCQUEVILLE, 2000, p. 115). Daí por que a liberdade “[...] ter-se manifestado aos homens em diferentes tempos e formas, inclusive, fora das democracias [...]” (TOCQUEVILLE, 2000, p. 117), porque ela é própria do homem e não nasce das opiniões, usos e leis como a igualdade.

Por conseguinte, é contra a manifestação dos ideais de liberdade que os governos democráticos impõem continuamente os de igualdade, aperfeiçoando-os em diferentes épocas conforme os interesses da ordem vigente. Podemos compreender então que, uma vez que se tenha a igualdade como pensamento dominante na democracia, a vantagem para os governos democráticos está na possibilidade desse ideal favorecer os mecanismos de dominação, pautados na homogeneização e submissão dos indivíduos sob as mesmas regras.

 

THE IDEAL OF EQUALITY IN DEMOCRACY:
STATUS QUO POSSIBILITY CONDITION?

 

Abstract: This essay presents some answers to the following questions: what are the reasons that would lead democratic governments to emphasize the ideals of equality instead of freedom, when it is known that, empirically, men are absolutely unequal? What are the underlying interests in the propagation of these ideals? What advantages would governments have when they do this? In the search for these answers, Aléxis de Tocqueville's (2000) conceptions about equality and individualism were fundamental; and those of Adam Smith (1999) on moral feelings, precisely in relation to commendable and reprehensible conduct. The first section focuses on equality and the consequences of that ideal. It refers to the formation of individual conduct and reveals how society exerts pressure on this formation. The second section refers to the diverse and the unequal, and to the conducts that the ideals of equality presuppose, but which are not shown. As an essay, it is a bibliographic work with its own arguments. The argument is based on central ideas based on Smith and Tocqueville to which the positions of authors such as Joseph Schumpeter (1983), John Rawls (2003) and Mancur Olson (1999) are interspersed. It proceeds with the construction of ideas that oppose or that agree, but always in the search for answers that enable an understanding of the proposed themes. The answers to the proposed questions suggest that the interest of democratic governments in emphasizing the ideals of equality instead of those of freedom is to favor the maintenance of the current order based on the uniformity of behavior with a view to subordination. For that, it becomes essential to prune the ideals of freedom because they are supposed to be the ones to contribute to the questioning of the order.
Keywords: Adam Smith. Tocqueville. Schumpeter. Rawls. Olson. Democracy. Equality. Freedom. Individual Conduct. Coercion. Status quo.

 

 

REFERÊNCIAS

 

OLSON, Mancur. Uma teoria dos grupos sociais e das organizações. In:______. A lógica da ação coletiva: os benefícios públicos e uma teoria dos grupos sociais. São Paulo: EdUSP, 1999. p. 17-64.

 

RAWLS, John. Princípios de justiça. In:______. Justiça como equidade. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 55-112.

 

SCHUMPETER, Joseph A. A doutrina clássica da democracia. In:______. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Zahar, 1983. p. 313-335.

 

SMITH, Adam. Teoria dos sentimentos morais. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 

 

TOCQUEVILLE, Aléxis. A democracia na América: sentimentos e opiniões. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

 

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Espero que tenha gostado e acompanhe os conteúdos da sequência.




*Trabalho apresentado originalmente à disciplina Teoria Política do Curso de Mestrado em Políticas Públicas da Universidade Federal do Piauí sob a orientação da professora Drª Guiomar Passos, visando à avaliação de desempenho na disciplina. Teresina, 2007.

**Mestre em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Piauí (Teresina, 2009). Licenciada em Filosofia pela mesma Universidade (Teresina, 1998). E-mail: soniaferreira.smf@gmail.com

 

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