sexta-feira, 23 de abril de 2021

Minha mãe envelheceu e perdeu capacidades: com as demandas de cuidados o apoio da família

 

Imagem com a gata Felina apresentando o conteúdo "Minha mãe envelheceu e perdeu capacidades: com as demandas de cuidados o apoio da família.
Quando nessa mãe envelhece é inevitável a necessidade de cuidados. Quando
perde capacidades, mais ainda. Muito bom quando a família cuida.
Neste conteúdo relato como nos organizamos para cuidar.

MINHA MÃE ENVELHECEU E PERDEU CAPACIDADES

COM AS DEMANDAS DE CUIDADOS O APOIO DA FAMÍLIA 

INTRODUÇÃO

Neste conteúdo descrevo o avanço do envelhecimento de minha mãe. Também a necessidade de ajuda da família em decorrência do aumento das demandas de cuidados. Relato as circunstâncias que a levaram a se restringir ao ambiente de casa. Também a se refugiar nas leituras bíblicas e em programas religiosos de televisão. Refiro-me inclusive a problema familiar que a levou à perda da alegria e à nossa tentativa de impedir algum transtorno depressivo. Uma tentativa vã.

ENVELHECIMENTO E PERDA DE CAPACIDADES: QUANDO O CORPO MOSTRA SEUS LIMITES E EXIGE CUIDADOS

Eu estava com cinquenta e um anos quando assumi os cuidados com a minha mãe. Cuidados presenciais de forma mais intensiva. Diuturnamente. Ela ainda era bastante saudável. Apesar de hipertensa. Mas seus oitenta e oito anos já revelavam o peso do seu envelhecimento. Já lhe impunham muitos limites. Já eram visíveis as dificuldades dela diante de ações as mais triviais do dia a dia. Tomar banho e se vestir sozinha já não fazia. Seu andar titubeante pedia cada vez mais minha atenção. Mesmo com o suporte do andador. Aceito a duras penas. Com bastante resistência.

Morávamos em nossa casa eu, ela e um neto seu. Ele dependente químico pelo uso de drogas. Nossa casa era então um ambiente em suspensão. Vez ou outra conflitos associados à dependência dele. Vez ou outra ela recebia visita de filhos e filhas. Às vezes de netos e netas. Amigos e amigas, raramente. Com certa frequência, a visita de legionários e legionárias da paróquia local em seus encontros missionários.

Deixara de frequentar a missa há algum tempo. Já não se sentia segura ao ir sozinha. Faltava-lhe companhia para os seus passos cada vez mais lentos e incertos. Nas suas últimas idas à missa se incomodava por não mais acompanhar os passos das companheiras no percurso. O ficar para trás era frequente. Constrangimento para ela. Então decidira não mais ir.

Desde então fizera da Rede Vida de Televisão o canal de expressão da sua fé. O seu lugar das missas e terços. Religiosamente. Todos os dias. O terço do Divino Pai Eterno. As missas em seus devidos horários. Naqueles momentos era comum vê-la de pé em frente à televisão. No meio da sala. Mãos postas para o Céu. Assim entoava seus louvores. À própria Rede Vida devotava atributos sagrados.

Continuava perdendo suas capacidades. Deixara de cuidar das plantas. Seu grande hobby. Já não conseguia se agachar.  Sempre que ia ao banheiro nem sempre chegava a tempo. Ficava constrangida e aborrecida. Resolvi a situação com um vaso portátil sempre ao seu lado. O conhecido pinico próximo às cadeiras onde ela ficava em determinados horários por mais tempo. A limitação motora era para ela um grande problema. A aceitação mais difícil.

Ainda bem que ela tinha certo apreço por leituras. Até conservava um acervo de letras sobre plantas medicinais, frutas e legumes. Com ele aprimorava o seu saber sobre os nutrientes e aprendia mais sobre sucos e chás. Uma vez ou outra chegava até mim animada para me falar de alguma de suas descobertas. 

Imagem com livros e uma faixa na qual se lê "Ainda bem que ela gostava de ler."
Os livros de minha mãe. Leituras bíblicas e nutricionais.


Mas nada como o acervo religioso para concentrar as suas leituras. Os cânticos das missas, as orações, os terços e as rezas, a Bíblia e tudo o que se referisse aos cenários do Céu. Então lhe restavam as leituras religiosas. Além da Rede Vida. Ao declinar do sol lá estava ela em nossa área jardinal. Fim de tarde. Todos os dias. Em suas leituras bíblicas. Motivo de admiração de muitos por enxergar letras tão pequenas naquela idade. Sem óculos. 

AS DEMANDAS DE CUIDADOS E A FAMÍLIA NO APOIO

As demandas de cuidados só aumentavam. Novas tarefas. Novas exigências de economia de tempo. A necessidade de ajuda logo foi inevitável. Eu não tinha empregada doméstica. Tudo era eu e eu mesma. Contratar uma seria retomar um caminho já percorrido. O mesmo que enfrentar a barreira que já se revelara intransponível para mim. Devido aos conflitos insustentáveis que geravam. Afinal, dispor de um usuário de drogas em casa fragilizava as relações. Tornava o ambiente meio campo minado. O trafegar meio movediço. Em tal meio, somente nós de casa conseguíamos nos equilibrar entre um cuidado e outro. Em tal meio, forasteiros e forasteiras não eram de esquentar assento.

Buscar ajuda entre os demais irmãos também não era algo muito animador. Apesar de sermos nove. Mas cinco entre idosos e idosas com suas próprias demandas familiares. Duas incapazes por problemas de saúde já sob cuidados de filhos e filhas. Duas morando fora do estado. Então sobrava eu própria. A única com condições efetivas para cuidar. Eu já morava com minha mãe. Era a filha que havia ficado. Não apenas para titia como se poderia pensar. Mas para cuidar. Efetivamente. E cuidei.

Titia ou não o certo mesmo foi que reafirmei a minha responsabilidade. E para valer! Por Deus naquele momento eu estava bem financeiramente. Também havia a renda da minha mãe. Então foi possível prescindir da ajuda financeira dos demais irmãos. Pelo menos naquele momento inicial de cuidados. Mas não foi possível prescindir da ajuda da família nas ações de cuidados. Combinei então com uma de minhas irmãs arrimo de sua família. Ela sairia do emprego. Eu a compensaria com o salário correspondente. Melhor para a nossa mãe ser cuidada por familiares do que por pessoas estranhas. Alheias ao seu convívio. Assim foi.

Minha irmã reunia melhores condições de conviver conosco. Afinal, o conviver em nossa casa era um desafio e tanto! Mas não para qualquer um ou uma. Mas o seria para ela que o aceitara. Ela comparecia todas as manhãs. Exceto aos domingos e feriados. Cumpria seis horas diárias. Eu o restante. Nós nos dividíamos entre as tarefas de casa e as ações de cuidados com a nossa mãe.  

A situação parecia sob controle. Fazia pouco tempo que minha irmã começara a me ajudar. Aos poucos íamos nos ajustando às necessidades de nossa mãe. Fazendo e aprendendo. Em nós a compreensão de que as limitações dela eram coisas próprias da idade. Afinal, ela havia perdido muitas capacidades. Já não andava sem o suporte da bengala ou do andador. Também a dificuldade nas ações simples do dia a dia como o se levantar e o se vestir. Ações essas que já não fazia sem ajuda. Como eu já disse. Aceitar a perda da autonomia no andar não lhe fora fácil. Tanto que resistira à bengala o quanto pode. Mas tudo isso nos parecia aceito por ela. Então o que tínhamos a fazer era nos ajustar às suas necessidades para melhor poder lhe atender.

Mas logo percebemos nossa mãe meio silenciosa. Contrariando o seu jeito comunicativo de ser. O seu humor já não era o mesmo. Era visível o seu retraimento. Já não se interessava pela conversação. Estava quieta. Calada. Olhar distante. Mas sabíamos que não apenas pelo desconforto com as limitações do seu corpo. Mas algo muito mais profundo fragilizava suas emoções. Feria sua alma.  A denúncia que eu registrara a seu pedido a um órgão de proteção à pessoa idosa. A denúncia contra o neto. Os problemas com ele motivados pelo uso da droga eram cada vez mais insustentáveis. O órgão foi até ele. Comunicou-lhe a denúncia e lhe advertiu acerca das medidas cabíveis de proteção. Ele então se voltou para minha mãe na posição de vítima. Cobrou-lhe explicações. Naquele momento na sala onde estavam era apenas a avó e o neto por ele mesmo. Ela com seus sentimentos. Toda afeição. Ele, o neto de seus cuidados.  O número um desprovido de quaisquer potências químicas.

Aquela situação causou em minha mãe um remorso. Uma avalanche na alma. Desde então seu semblante parecia não encontrar nada fora do chão. De tão caído estava. Ela não conseguia conter as lágrimas ao se referir ao neto. Chorava mesmo. Penalizada. Suas leituras bíblicas de todas as tardes já não eram as mesmas. Já não lia. Apenas folheava a Bíblia. Sem se fixar à página alguma. Seu olhar se tornara distante. Sem foco. Numa expressão desolada. Então a levamos a um centro de convivência para idosos. Atividades físicas poderiam lhe fazer bem. Relações com outras pessoas também. Assim supúnhamos.

Mas estávamos enganadas. Ela não passou das primeiras sessões. Percebemos que as alterações em seu comportamento avançavam. Não por conta das atividades. Mas por razões que não mais entendíamos. Suas ações se tornavam cada vez mais estranhas. Um mal humor que beirava à agressividade. Ela contrariava então cada vez mais o seu jeito natural de ser. Tolerante e compassivo. Já não era somente a tristeza ou o remorso em relação ao neto. Tampouco o desconforto com suas limitações. Mas não demorou muito e soubemos que talvez fosse o Alzheimer se instalando nela. Mas só depois é que saberíamos que realmente era o Alzheimer que encontrara abrigo na vida dela. 

CONCLUINDO...

Nos conteúdos deste caminho, continuarei relatando esse processo que se desencadeava em minha mãe e culminaria com o Alzheimer diagnosticado. Depois de alterações progressivas em seu comportamento, ela evoluiu para um surto a partir do qual me tornei sua curadora. Além da cuidadora que era.

A você, os meus agradecimentos

Deus esteja com você!

 Sônia Ferreira

Teresina, 23 de abril de 2021.


Você terminou de conhecer mais um conteúdo do Caminho Cuidados com Amor.

Espero que tenha gostado e acompanhe os conteúdos da sequência.


Imagem com a gata Felina convidando leitores e leitoras para se inscreverem no blog e o seguir.
Felina Marruá: a guia deste caminho Cuidados com Amor.

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