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Assim entendi as mortes por Covid-19 na pandemia conforme a compreensão que Deus me permitiu. Neste conteúdo, veja como ele me levou a essa compreensão. |
SUS E MORTES NA PANDEMIA DE COVID-19
ASSIM DEUS ME LEVOU A COMPREENDER
Quando vivenciávamos os primeiros momentos da pandemia de Covid-19, fui
tomada por um grande espanto diante dos cenários de morte que me chegavam pela
mídia e pareciam se instalar em minha mente. De tudo o que eu via, era isso o
que mais me impressionava: aquelas pessoas vestidas de branco com seus aparatos
de proteção transportando os mortos pela Covid-19. Eu não conseguia me desligar
daquelas imagens. Pedi a Deus uma explicação possível para aquilo tudo. Nele
busquei uma compreensão que me permitisse entender aquela pandemia que eu
considerava uma manifestação de Deus em nossa vida. Mas não a conseguia
assimilar.
A resposta me veio por meio de minha leitura bíblica de uma daquelas
noites. A leitura das páginas da Bíblia de abertura aleatória. Meu jeito de
receber as mensagens de Deus na busca de compreensão de fatos que me são
incompreensíveis e que por mim mesma não conseguiria entender. Também um dos
meus jeitos de fortalecer a minha relação com Deus. Uma relação que somente a
fé tece significados.
Foi então que eu li aquelas páginas da Bíblia com os olhos iluminados na
minha fé em Deus. Logo um trecho saltou aos meus olhos e com ele a luz divina
no meu entendimento. A luz que Deus nos lança quando buscamos compreender sua manifestação
em nossa vida. Naquele momento, ela me chegava por meio de um texto sobre os
hebreus. Eis o texto que Deus iluminou aos meus olhos:
“Um vento mandado pelo Senhor, vindo das bandas do mar, trouxe consigo
codornizes e derramou-as sobre o acampamento, em uma extensão de cerca de um
dia de caminho para ambos os lados em volta do acampamento, e cobriam o solo, cerca
de dois côvados de alto sobre a superfície da terra. Levantou-se então o povo,
e ajuntou durante todo aquele dia, toda a noite e todo o dia seguinte tantas
codornizes, que aquele que menos ajuntou conseguiu encher dez homeres. E
estenderam-nas, para si mesmos, em toda a volta do acampamento.” {Nm 11,
31-34).
No contexto da pandemia de Covid-19, procurei compreender aquela mensagem
conforme Deus iluminava o meu entendimento. Compreendi que o vento mandado pelo
Senhor era a própria pandemia; que as codornizes eram não apenas a carne, mas o
excesso. Imaginei então Deus irritado ao dar aquele excesso àquele povo: é
carne que vocês querem é? Então tomem carne! Compreendi então que Deus dava aos
hebreus algo que eles já tinham: o alimento. E dava mais do que o necessário. Dava-lhes
o excesso em abundância. Então me perguntei: e nós, Senhor? O que já temos que o
Senhor nos dá ainda mais? Qual seria o nosso excesso?
Para chegar a essas respostas à luz da compreensão que Deus me dava
naqueles instantes, procurei identificar o que a pandemia nos trazia. Quais seriam
as nossas codornizes. De que excessos Deus nos falava. Então vi que a pandemia
nos trazia o isolamento e o distanciamento social, muita higienização das mãos,
muito medo e muitas mortes. Tudo era excessivamente muito. Mas para o saber
científico, a higienização e o distanciamento eram necessários para o não
contágio pessoal nem a disseminação da doença. Com essa explicação, aceitamos então
os protocolos da ciência e o seguimos.
Mas procurando compreender aqueles excessos ainda no contexto daquela
mensagem bíblica, vi que os hebreus já tinham o maná enviado por Deus e dele
reclamavam. E nós, o que tínhamos? Compreendi então que já tínhamos tudo o que
a pandemia nos trazia. Já vivíamos isolados, distanciados uns dos outros,
inclusive dentro de casa. Já vivíamos com medo, inclusive uns dos outros. E já
vivíamos em meio a muitos produtos de limpeza. Há muito já não mais nos
contentávamos apenas com água e sabão para tirar o sujo.
Tudo isso já era vivência nossa, pelo menos na minha cidade de morada,
Teresina. A pandemia então não nos trazia nada de novo senão a própria doença. No entanto, os hebreus reclamavam de algo que o
próprio Deus lhes dava diretamente: o maná. E nós não reclamávamos do que já
tínhamos, dos nossos excessos, que não eram dados por Deus, mas produtos do
próprio mundo ao qual nos adaptamos. {Moral dessa história: costumamos rejeitar
o que vem de Deus e apreciar o que vem do mundo}.
Mas algo eu não conseguia compreender em toda a sua extensão: as mortes. Como
é que já tínhamos tantas mortes para que Deus nos mostrasse os excessos por
meio das mortes por Covid-19? É certo que a pandemia chegara evidenciando a
todos os olhos a precariedade do Sistema Único de Saúde SUS por meio de tudo o
que faltava. O excesso então era de falta e não de abundância como nos casos
citados. Faltavam tubos de oxigênio. Compravam às pressas. Faltavam leitos. Montavam-se tendas e às
pressas estruturavam o que se chamou hospitais de campanha. Faltavam profissionais
da saúde. Recorriam a aposentados.
Dessa forma, as carências de toda ordem no campo da assistência pública à
saúde nos faziam ver a falta de estrutura do “maior sistema público de saúde do
mundo” assim retratado por aqueles que o gerenciam e o aplaudem. Mas e as
mortes? Como é que nós já tínhamos tantas mortes antes da pandemia? Isso eu não
conseguira entender por meio daquela leitura bíblica. Elas não se encaixavam no
contexto das codornizes em excesso. Então a minha não compreensão caiu em meu
esquecimento sem que eu me desse conta. Assim ficara.
Mas eis que dois anos depois, Deus veio ao meu auxílio. Levou-me a dois
hospitais públicos para acompanhar dois sobrinhos meus internados. Cada um a
seu tempo. Levava-me assim a vivenciar o SUS por dentro da internação hospitalar.
{Obrigada, Senhor, pela oportunidade!} Só depois eu saberia: aqueles meus sobrinhos
eram instrumentos de Deus para me fazer compreender os processos hospitalares
de internação do SUS desde a entrada até a saída muitas vezes por óbito, como fora
o caso dos dois. Por meio deles, entendi como ocorrem as mortes pelo SUS. Inclusive
mortes de causas invisíveis.
Nos dois casos, eles chegaram aos hospitais pelo atendimento de urgência.
O primeiro, de sessenta anos, foi diagnosticado como em estado de abstinência
alcóolica e assim foi tratado. Somente quinze dias depois é que saberíamos se
tratar de uma avaliação equivocada. Depois de sucessivos agravos, foi intubado
e encaminhado para a “sala vermelha”. De lá, veio-nos a informação de que
estaria com uma fratura no cérebro. Seria transferido para um hospital de alta
complexidade para realizar uma ressonância magnética.
Depois de seis dias naquela sala, saiu por óbito sem que a transferência
jamais se realizasse. Para nosso espanto, a declaração de óbito trouxe como
causa direta da morte “choque séptico de foco pulmonar” como consequência de
infecção pulmonar e etilismo crônico. Nenhuma referência ao trauma craniano
que, segundo o médico, teria provocado um sangramento que já estaria seco.
Aquela declaração de óbito me fez compreender as mortes de causas
invisíveis: aquelas cuja verdadeira causa não é citada porque não realizado o
exame que a comprovaria. Essa falta de comprovação certamente leva a tratamento
inadequado: um tratamento focado apenas nos sintomas. No caso desse meu
sobrinho, com mais um agravo: o diagnóstico equivocado que o levou a um
tratamento igualmente equivocado e resultou na sua morte.
No segundo caso, eu pude ver o quanto que a precariedade do SUS em Teresina pode ser cruel com um paciente ao lhe mostrar a morte certa em vez de alguma possibilidade de vida. Assim foi com aquele meu sobrinho de trinta e três anos. Atropelado por um motoqueiro e levado ao Hospital de Urgência de Teresina foi constatada fratura no fêmur.
Depois da cirurgia tardia surgiram agravos decorrentes
de sucessivas faltas. Enquanto aguardava uma cirurgia vascular, sua situação se agravou. Foi encaminhado à “sala vermelha” e algumas horas depois morreu. Oito dias depois de internado. Enquanto
aguardava a cirurgia que, segundo os médicos daquela sala, já não seria possível
devido ao agravamento do quadro.
Nos dois casos, alguns dados em comum: o descaso hospitalar, as
negligências de profissionais, a pouca responsabilidade com a vida dos usuários,
especialmente com a vida dos pobres. Essa a parcela da população que certamente
mais necessita das ações e serviços do SUS. Tudo decorrente de uma estrutura
hospitalar precária não condizente com o arcabouço teórico do sistema.
Ao me levar a vivenciar esses dois casos, Deus me permitiu compreender o
excesso de mortes na Pandemia de Covid-19. Um excesso que evidenciava a falta
de estrutura do SUS para atender os casos naquele momento. No entanto, uma
falta que nos mostrava que tal excesso já existia entre nós. Afinal, não é de
hoje que o SUS é bastante precário em termos de ações e serviços de saúde. A oferta sempre muitíssimo abaixo da procura. Pelo menos em relação à alta complexidade. Pelo menos
aqui em Teresina.
A você meus agradecimentos.
Fique na paz!
Teresina, 15 de abril de 2023.
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