sexta-feira, 16 de abril de 2021

Relação entre Deus, Fé e Política: compreendendo o conceito de Fé.

 

Imagem com a gatinha Joina apresentando o conteúdo “Relação entre Deus, Fé e Política: compreendendo o conceito de Fé”.
Você compreende a relação entre Deus, Fé e Política? Este conteúdo trata dessa compreensão, começando com o conceito de Fé. Confira!

RELAÇÃO ENTRE DEUS, FÉ E POLÍTICA - PARTE 1/3

 COMPREENDENDO O CONCEITO DE FÉ


Você está no primeiro conteúdo do caminho SMF Fé e Política. Para ver a apresentação desse caminho Clique Aqui. Para ver o conteúdo seguinte Clique Aqui.

 

 DEUS, FÉ E POLÍTICA: A BUSCA DE COMPREENSÃO ENTRE ESSES CONCEITOS

 Deus e Política fazem parte de nossa vida quer queiramos quer não. Dele e dela não podemos prescindir, mesmo quando os negamos ou não lhes damos a devida atenção. Mesmo quando muitas vezes nos relacionamos a um e à outra pela negação do tipo “não gosto de política”, “não discuto política” ou “não discuto religião” ou “não creio em Deus”. 

Noutras vezes, até para fugirmos de alguma provocação que julgamos fortuita, damos um jeito de sair pela tangente do “cada um”. Neste caso, dizemos que opinião sobre religião e política cada um tem a sua. É como se disséssemos então: guarde a sua para si! 

Quando se trata então da relação entre esses dois conceitos, novamente a negação toma lugar. Há quem diga que política e religião “não dão certo juntas” ou que religião e política “não se misturam”.

De outra forma, porém, quando afirmamos Deus e política, seguimos o hábito de os tratar em âmbitos distintos como se um nada tivesse a ver com o outro. Isto porque tradicionalmente nos habituamos a associar Deus à religião. E como dito há uma compreensão comum de que política e religião não se misturam. Tanto é assim que as questões relativas a Deus são tratadas ou em nossos templos religiosos ou no privado da nossa casa. Neste caso, quando o são. As coisas da política também têm seus lugares privilegiados de discussão: os espaços públicos ou em grupos específicos para esse fim. 

Fora isso, praticamente não discutimos as questões de Deus e de política em nossas relações cotidianas como tantas vezes discutimos por exemplo o futebol e os modismos do momento. Certamente também não as vivenciamos como o fazemos com os encantamentos da vida provocados pelas tecnologias da informação, pelas mídias do entretenimento e da alienação. 

A alienação que nos distancia da política e de Deus por nos remeter respectivamente a um lugar outro e a um mundo outro como se a vida em Deus não fosse neste mundo e a política não estivesse em nossa vida tanto quanto Deus.

Seja como for, ao aceitar esses condicionamentos, aceitamos também o jargão popular que nos diz “cada macaco no seu galho” ou "cada um com o seu cada qual". Inclusive em relação à diversidade de departamentos outros igualmente estanques em nossa construção social. 

Ao aceitar essa compreensão, esquecemos que tanto Deus quanto a política estão em todos os lugares da nossa vida. Naturalmente. Num grau maior ou menor. E se esquecemos é porque não construímos com Deus e com a política uma experiência que torne ele e ela compreensíveis à nossa vida.

Não sem razão, pois, a política será tanto mais prenhe de Deus quanto mais o tivermos em nossa experiência pessoal e quanto mais experimentarmos os seus ensinamentos em nossa vida. É essa experiência que possibilita a política se desenvolver como lugar privilegiado dos ideais de Deus em nossa vida por meio do ideal do Bem Comum.

É o que poderemos observar na sequência deste conteúdo. Essa compreensão de que Deus e política estão na mesma relação e podem estar perfeitamente nos mesmos espaços de discussão e de convivência. Antes, porém, compreendamos os conceitos de Deus, fé e política para percebermos a relação entre um e outro. 

A partir dessa compreensão e da ideia de “próximo” na Bíblia Sagrada e a de “Bem Comum” na política, podemos compreender com mais detalhes a relação entre Deus e política. Da mesma forma, a possibilidade de tratarmos das questões de um e da outra num mesmo espaço.

No entanto, a primeira condição para que possamos entender a relação entre Deus, fé e política é entender as ideias constitutivas desses conceitos, inclusive nas suas particularidades, nas situações ordinárias de nossa vida. Vejamos inicialmente o conceito de fé para então pensarmos o de Deus e o de política. Antes, porém, compreendamos o que é um conceito.


O QUE É UM CONCEITO?

Um conceito é sempre um conjunto de ideias a respeito de algo cuja compreensão não se completa numa definição única, precisa e restritiva. Assim, quando falamos de conceito, falamos de um conjunto de ideias construídas acerca de uma determinada coisa ou objeto de natureza material ou imaterial, real ou abstrata. Porém, uma única ideia a seu respeito sugere a compreensão acerca do seu todo naquilo que nos é significativo ou essencial. Assim, quanto mais ideias apresentamos acerca de algo determinado, mais demonstramos a nossa compreensão acerca desse algo; mais demonstramos compreender o seu conceito.

Esse algo, coisa ou objeto está associado à nossa vida e com ele nos relacionamos de uma forma ou de outra. Quanto mais nos relacionamos, mas conhecemos e mais temos o que pensar e o que dizer sobre esse algo. E mesmo que não nos relacionemos de forma direta, essa coisa ou objeto nos afeta de alguma forma. E nos afeta porque se constrói e se reconstrói no âmbito da nossa cultura, influenciado e influenciada por situações do nosso contexto econômico, social e político. Contextos que inserem o nosso viver cotidiano. E da cultura e desses contextos nós não fugimos. Ela e eles nos abrangem a todos e a todas independentemente da nossa vontade pelo simples fato de vivermos em sociedade e nos submeter às suas regras.

Assim, ao nos reportar aos conceitos de Deus, Fé e Política na sequência deste conteúdo, não faremos nada mais do que falar das ideias constitutivas dos respectivos conceitos; dos saberes ou aprendizados que acumulamos acerca de um e de outra. Em se referindo aos conceitos de Deus e de Fé, adentramos o mundo dos universais superiores, das realidades supra-humanas porque associadas ao divino. Em se tratando do conceito de Política, restringimo-nos ao mundo dos universais inferiores, das realidades de construção humana. Neste caso, restrita ainda ao contexto da nossa cultura brasileira, contexto no qual construímos as nossas ideias sobre política e acumulamos os nossos saberes a ela associados.

Vejamos na seção seguinte, o conceito de Fé e em conteúdos posteriores o de Deus, o de Política e a relação entre um e outro.


COMPREENDENDO O CONCEITO DE FÉ

Embora não facilmente definida, creio que sempre temos uma ideia a respeito da fé, porque pelo menos originalmente ela tem a ver com o nosso acreditar. De certo que um acreditar mais aprofundado. Sempre acreditamos em algo. Ou não? O dicionário nos diz que fé é a “convicção intensa e persistente em algo abstrato que, para a pessoa que acredita, se torna verdade; crença.”*

Por essa definição, podemos observar as seguintes ideias sobre a fé:

a) A fé como convicção intensa e persistente sugere o acreditar em algo de forma tão profunda que se torna uma certeza de que esse algo acontecerá. Enquanto não acontece, essa certeza permanece e se reafirma na sua própria convicção. A persistência sugere que em termos de convicção não se cogita outra possibilidade. Não se levantam dúvidas, pois o que persiste é a perseverança da certeza, que se reafirma continuamente enquanto o algo não acontece. 

b) A fé como acreditar em algo abstrato; isto é, em algo não material, não concreto, não real. Se é abstrato então se trata de algo que não tem existência nem pelos nossos olhos, porque não o vemos; nem por nossa audição, porque não o ouvimos; nem por nosso paladar, porque não o degustamos; nem por nosso tato, porque não o tocamos. Assim, acreditar em algo abstrato é acreditar em algo que não conhecemos por nenhum dos nossos sentidos, mas apenas por meio do nosso crer e do nosso acreditar; ou seja, apenas por meio da nossa fé. A fé neste caso é acreditar na manifestação desse algo e não apenas no algo em si, que não se vê.

c) A fé associada à nossa crença e à nossa confiança, representadas pelos verbos crer, acreditar e confiar. São verbos sinônimos que pedem complemento. Crer, acreditar e confiar em quem ou em quê?  Da mesma forma, a fé como substantivo também pede complemento. Fé em quem ou em quê? Esse complemento nos mostra que cremos, acreditamos ou confiamos em algo ou alguém que já nos mostrou que nele ou nela podemos confiar, acreditar ou crer.

Podemos observar então que apenas confiamos ou acreditamos ou cremos naquilo que já conhecemos; isto é, naquilo que já se realizou em nossa experiência; que já se manifestou nas situações ou coisas que vivenciamos; algo que já se concretizou em nossa vida. Por já conhecer, então, podemos crer, acreditar e confiar que esse algo se concretize novamente.  Quanto mais se concretiza, mais nele cremos e confiamos e acreditamos; mais construímos com ele uma experiência.

Observemos os seguintes exemplos facilmente associados à nossa vida:

1) Torcedores esportivos dizem: “botamos fé naqueles jogadores”. É o mesmo que dizer "confiamos ou acreditamos naqueles jogadores" porque veem o futebol dos jogadores. Assim, quanto mais os jogadores jogam bem e fazem gols e conquistam vitórias, mas eles se tornam confiáveis, acreditados, cridos. Os gols e a vitória são a concretude da crença e da confiança de sua torcida. Acreditam na vitória porque há aqueles jogadores que a possam assegurar. Neste caso, a fé é associada a algo passível de acontecer com grandes probabilidades porque as evidências (a qualidade dos jogadores) que a sugerem são muito fortes.

2) Devotos católicos dizem: “Temos fé em São José, em Santo Antônio, em Nossa Senhora...”, porque veem as graças alcançadas por intermédio dos santos e santas. Quanto mais um santo ou santa lhes atende em suas necessidades, quanto mais alcançam suas graças, mais creem nele e nela, e confiam e acreditam; ou seja, mais têm fé. Neste caso, a fé é associada a algo que não se vê, que não se evidencia em nosso dia a dia, senão pelo resultado da graça alcançada. 

3) Pessoas tementes a Deus dizem: “Temos fé em Deus”, porque veem as manifestações de Deus em sua vida; e quanto mais as veem mais têm fé, mais confiam, mais acreditam. Neste caso, assim como no anterior, a fé também se associa a algo (Deusque não se vê, que não se conhece por alguma evidência material, mas apenas por sua manifestação em nossa vida. No entanto, essa manifestação muitas vezes se utiliza da evidência material para que esse algo se torne conhecido àqueles e àquelas que nele creem.  

Observemos que os três casos revelam a construção de uma experiência de fé em relação ao algo fonte de nossa crença e confiança. Verifica-se, pois, uma experiência construída. No entanto, há diferenças na construção dessa experiência. Vamos ver?

No exemplo 1, os torcedores dizem ter fé porque já viram os jogadores em ação; já conhecem o desempenho deles; então se torna fácil acreditar na vitória. Neste caso, dizer que têm fé, é falar de uma forma simbólica para dizer que confiam nos jogadores. Os verbos então são o confiar e o acreditar naquilo que veem.

E o que veem? Os jogadores jogando, demonstrando bom desempenho e fazendo gols. No momento em que deixam de agir assim, tornam-se menos acreditados e menos confiáveis. Por conseguinte, duvida-se que eles possam alcançar a vitória, o algo imaterial evidenciado apenas como possibilidade pelo desempenho dos jogadores. Com a dúvida, a suposta "fé" se abala e neste caso deixa de existir., até porque não se tratava de fé, mas de um acreditar em algo visível. 

O mesmo não ocorre nos exemplos 2 e 3. Nestes, tanto as pessoas devotas a São José quanto as tementes a Deus expressam sua fé em algo que elas não veem, mas conhecem as suas manifestações; ou seja, conhecem a materialidade das graças alcançadas. As graças que se evidenciam de alguma forma por meios materiais ou não, mas que somente se tornam conhecidas por aqueles e aquelas que as buscaram e que creem na fonte de saber e de poder que as origina.

E por conhecer essa fonte, creem que novas graças se concretizarão sempre que buscadas. Nos dois casos, é a fé que assegura essa concretude, a existência real do algo abstrato que não se vê. Mas, diferentemente do exemplo 1, nos exemplos 2 e 3 a fé não se abala com a dúvida. Não há lugar para a dúvida quando se opera no âmbito da fé.

Nesse âmbito, fé é certeza. A certeza de que o algo abstrato que não se vê se concretizará de alguma forma. O que assegura essa certeza é o conhecimento que se tem na fonte de saber e de poder à qual se deposita a confiança, a crença, a fé. E quanto mais se conhece, mais se confia, mais se crê, mais se tem fé.

No exemplo 1, a fonte de conhecimento dos torcedores está nos jogadores. Os verbos mais representativos desse conhecimento associado à suposta fé são os verbos confiar e acreditar. Confiam (ou não) no que veem; por isso acreditam (ou não) na materialização de resultados favoráveis ou não.

Diferentemente desse caso, a fonte de conhecimento associado à fé nos exemplos 2 e 3 está respectivamente em Nossa Senhora e nos santos, e em Deus. São exemplos que se inserem no âmbito da fé associada à crença. Então, os verbos mais representativos da fé são os verbos confiar e crer. Confiam no que não veem, mas conhecem a sua concretude; por isso creem na sua concretização contínua.

Observemos que o verbo confiar está nos três casos. Confiamos então no que vemos e no que não vemos. Tanto num caso quanto noutro, o que nos faz confiar então é o conhecimento acumulado em nossa experiência. Confiamos porque muito ou pouco sabemos sobre a fonte na qual depositamos a nossa confiança. E tanto mais sabemos, mais confiamos.

A partir desses exemplos podemos observar então que a experiência construída é o que nos leva a afirmar a nossa fé. Ou não? Pelo menos em nossa sociedade brasileira é comum dizer que temos fé. Pelo menos algumas pessoas a afirmam. Mas quando o fazem, geralmente fica sem resposta uma pergunta: fé em quem ou em quê? Isto porque a fé, como já vimos, pede um complemento.

Como sabemos que não é comum falar de fé fora do âmbito religioso e sabemos da religiosidade de muitos e muitas do povo brasileiro, aceitamos tacitamente de que falamos de fé em Deus. Embora saibamos que muitas pessoas podem ter fé em outra coisa. Inclusive nelas próprias e em divindades de doutrinas diversas.

Afinal, considerando as diversas manifestações religiosas de nosso país, a fé ganha também caminhos diversos. Ela vai aonde as manifestações religiosas a levam. Ou não vai a lugar algum quando permanece na pessoa daqueles e daquelas que dizem ter fé apenas nelas mesmas e neles próprios. Neste caso, creio que a fé assim pensada está mais para a fé referida no exemplo 1 do que a dos exemplos 2 e 3. Mas como em se tratando de fé cada um e cada uma tem o seu cada qual, não entrarei nesse mérito de discussão.

Antes, porém, observemos que a fé a que nos referimos nos exemplos citados é sempre associada a um conhecimento. Acreditamos ou confiamos ou cremos naquilo que conhecemos. E conhecemos pela experiência. Podemos afirmar então que a fé é o conhecimento de uma realidade supra-humana que somente se materializa ou se concretiza quando com ela construímos uma experiência, pois é pela experiência que conhecemos a sua manifestação. É, pois, a experiência construída que confere forma à realidade cuja compreensão somente ocorre pela fé.

Em se tratando da fé em Deus, o conhecimento dessa realidade nos traz exigências que a fé em outros e outras talvez não o faça. São exigências como obediência, ação e coerência que nos disciplinam a um jeito de ser. Exigências essas que resultam em negação de muitas das nossas certezas; certezas essas que passamos a considerar não tão certas assim. Mas disso, trataremos noutro conteúdo sobre fé em Deus. A fé como o conhecimento superior e mais valioso por tratar de realidades superiores ou supremas. Realidades fundamentadas em Deus, cuja racionalidade somente podemos compreender pela fé no Altíssimo e pela experiência construída na relação que com ele estabelecemos

Concluindo, no escopo dessa discussão e para que aprofundemos a compreensão de nosso conceito de fé em conteúdos sequenciais, restringir-me-ei à Fé em Deus na composição desse conceito. Por duas razões: uma, porque é essa a fé que me move e com ela aprendo a construir uma experiência mais significativa e cada vez mais abrangente: uma experiência em Deus. Outra razão: porque é na fé em Deus que tecerei significados na relação com a política sobre a qual trataremos posteriormente.

Antes, vejamos o conceito de Deus, esse ente abstrato no qual muitos e muitas de nós depositamos a nossa fé. Na compreensão desse conceito, veremos que a fé é uma das ideias mais significativas a seu respeito porque necessária e fundamental. A fé em Deus pela qual nós o alcançamos e com ele construímos uma experiência quando o inserimos em nossa vida. A fé que dá forma ao ente abstrato e o transforma em realidade concreta, visivelmente identificada quando com Deus aprendemos a conviver.


Você terminou de conhecer o primeiro conteúdo do caminho SMF Fé e Política.

Espero que tenha gostado e permaneça nos conteúdos deste caminho.

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A você, meus agradecimentos.

Deus esteja com você!

Sônia Ferreira

Teresina, 16 de abril de 2021.


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* Dicio. Dicionário Online de Português. Disponível: https://www.dicio.com.br/fe/ Acesso em: 16 abr. 2021



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