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A DECISÃO DIANTE DESSA ESCOLHA
INTRODUÇÃO
Neste relato, eu me refiro a três situações circunstanciais que exigiram de mim tomadas de decisão cujos resultados impactaram a minha vida por algum tempo. Nas duas primeiras situações, consultei Deus. Na terceira, não. Para mim, consultar Deus significava seguir a sua vontade em vez da minha. Nas duas situações em que o consultei, a resposta dele contrariou a minha vontade.
Mas numa dessas situações, resolvi seguir a minha própria vontade contrariando a de Deus. Neste caso, logo adentrei um caminho tortuoso que me fez ver as situações adversas que Deus tentara me livrar. No caso em que agi conforme a vontade de Deus contrariando a minha, logo vivenciei os benefícios dessa escolha.
Na situação em que fiz minha escolha sem consultar Deus, sem submeter a minha vontade à sua, tomei um caminho equivocado me baseando em meu próprio saber. Mas tão logo percebi o equívoco, olhei para Deus. Só depois de algum tempo foi que percebi a bondade dele para comigo em decorrência daquele olhar.
É essa história que relato nas seções seguintes. Uma história pessoal que mostra o meu iniciar no caminho da fé em Deus. Um caminho que nos leva a fazer nossas escolhas submetendo a nossa vontade à de Deus, e decidindo pelas coisas que lhe agradam. Ou tão simplesmente colocando as nossas dúvidas e conflitos em suas mãos e nele esperar.
QUANDO CONTRARIEI A VONTADE DE DEUS AO SEGUIR A MINHA PRÓPRIA VONTADE
Corriam os anos de 1989. Eu dividia meu dia entre o
trabalho e um curso de enfermagem que eu resolvera iniciar naquele ano. Um
curso de técnico de enfermagem que eu via como meio de mais uma colocação no
mercado. Do trabalho de turno único pela manhã, eu seguia direto para o curso à
tarde. Naquele dia, estávamos em frente ao hospital onde iniciaríamos a
primeira prática do curso. Aguardávamos o momento de entrar.
Havia em mim uma ansiedade tão grande. Um medo. Uma
incerteza. E pensar que naquele dia a prática seria apenas de medicação
injetável. Mas a expectativa daquela experiência me revirava toda. Só de
imaginar a agulha adentrando a carne, perfurando a veia, ferindo o corpo... meu coração entrava
em turbulência. Aquela escolha já não me era tão certa. Mesmo assim, pretendia seguir em
frente.
Naqueles dias, porém, recebi um convite de trabalho. A mesma empresa
onde eu estivera no ano anterior por contrato temporário de dois meses. O trabalho
seria diferente. Mas por igual período.
Aceitar aquele convite seria desistir do curso. Entre uma
decisão e outra o que se afirmava era a dúvida. Deixar um curso promissor por
um trabalho de apenas dois meses? Eis a questão que me revirava os pensamentos.
Mas quando eu olhava o salário ofertado e o que eu poderia fazer com ele ainda
naquele ano!... O monstro da tentação se agigantava. Eita, monstro! Mas não tanto
ao ponto de suplantar a minha dúvida.
Foi então que recorri a Deus. Talvez pela primeira vez
em minha vida eu o recorria de forma tão consciente diante de uma escolha.
Antes era eu quem decidia. Tudo sozinha. Mas naquele momento resolvi que Deus
decidiria por mim. Assim foi. Conversei com ele. Uma. Duas. Três vezes. Nem
lembro ao certo. Só sei que foram várias as tentativas esperando que a resposta dele fosse conforme a minha vontade. Mas jamais o fora. Todas as vezes obtive o não
como resposta. Eu não deveria aceitar aquele convite. Não pela vontade de Deus.
Mas eu não estava satisfeita. E questionava Deus. Mas
Senhor, o que poderia haver de errado?!... Eu já trabalhei naquela empresa!... Já
conheço os seus procedimentos!... Ela cumprira todas as suas obrigações no
contrato anterior!... O que teria de
errado?!... Assim eu insistia com Deus. Na minha audácia e ignorância. Falava como
se o tentasse convencer a entrar na minha lógica. Nem ao menos observava que era
do passado que eu falava. Do meu passado naquela empresa. Ínfimo e sem
perspectiva de futuro. Era dele que o meu saber falava com propriedade naquele instante. Apenas dele sabia. Nada além.
Eu acreditava que não correria riscos de sair lesada em meus direitos trabalhistas ao aceitar aquele convite. Era somente o que eu via. No meu incipiente saber, eu não atinava para o que pudesse acontecer de ruim. Mas, principalmente, faltava-me a consciência de que Deus o sabia. De que era no futuro que residia o saber de sua negativa. Faltava-me ainda a compreensão de que ele testava a minha fé. Ou pelo menos que me dava a oportunidade de demonstrá-la na minha escolha.
Por não entender nem uma coisa nem outra,
contrariei a sua vontade e impus a minha. Então tomei a minha própria decisão.
Desisti do curso com a perspectiva de que o retomaria na turma seguinte. Saí de
licença do meu trabalho estadual e aceitei aquele convite. Afinal, aqueles dois
meses eram uma complementação de renda e tanto! Tal como no ano anterior. Assim
foi.
Não demorou muito para eu entender que, com a sua negativa, Deus tentara me livrar de um caminho tortuoso carregado de angústias. Um caminho que se abrira para mim no meu primeiro dia de trabalho. Ao entrar naquela empresa, entrei de um jeito e saí de outro. Completamente apaixonada por um homem que logo depois eu saberia. Era casado. Um caminho então de muitas tribulações. Não apenas por contrariar a vontade de Deus. Mas também pela minha escolha baseada em meus próprios saberes.
Entendi que tomara um caminho diferente daquele que Deus certamente traçaria para mim caso eu o tivesse seguido na sua vontade. Como não o fiz, optara seguir o meu destino por caminho próprio e isolado no meu eu. Obviamente ao tomar aquela decisão eu não sabia que seria um caminho de adversidades. Caminho no qual meus pés trafegariam entre um espinho e outro em areias movediças. Assim foi.
QUANDO AFIRMEI A VONTADE DE DEUS EM VEZ DA MINHA
Estava para completar dez anos da escolha à qual me refiro na seção anterior. Novamente eu experimentava situação semelhante. Vivenciava outra oportunidade de escolher entre a minha vontade e a de Deus. Como daquela vez, também relacionada a trabalho. Eu acabara de concluir meu curso superior quando se abriram vagas para professores e professoras substitutas e substitutos no departamento daquele curso naquela universidade.
Empolgada com aquela oportunidade, eu apenas estava em dúvida
entre as três áreas com ofertas de vagas. O meu saber me levava para a Área 3 e
rejeitava com veemência a Área 1. Mas não me dizia em qual das áreas eu teria
maiores chances de ser aprovada. Então novamente recorri a Deus. Com a certeza
de que daquela vez eu seguiria a sua vontade. A experiência anterior me deixara um aprendizado que eu não esqueceria jamais.
Naquela manhã, eu acabara de me inscrever naquele processo
seletivo. Meio contrariada porque havia escolhido a Área 1 em vez da Área 3 de
meu interesse. Eu cumprira a minha promessa. Afirmara a vontade de Deus em vez
da minha. No entanto, fora mais pelo medo de contrariar a vontade de Deus do
que por alguma consciência de minha fé. Essa consciência eu ainda não tinha. À saída da sala de
inscrição, encontrei um ex-professor que tanto me inspirara
respeito por sua prática docente. Ele chegava para também se inscrever. Numa conversa rápida, ele me afirmara
optar pela Área 1. A área da minha escolha.
Aquela informação tornou o meu resto de dia tão sombrio
como os vales das montanhas nas noites de lua cheia. Lá naqueles lugares por
onde as assombrações não paravam de passar em minha mente. A noite daquele dia me encontrara
num daqueles vales. Desmoronada entre os quatro cantos da minha casa. Tantas e
tamanhas eram as assombrações a me atravessarem. Como concorrer com aquele meu
ex-professor? Logo ele, que eu considerava tão potente em seus saberes docentes?
Era o que me ocorria diante de minha fé ainda tão frágil. A fé de quem ainda
estava longe de conhecer os caminhos de Deus.
Mas não demoraria muito para eu começar a compreender as
manifestações do Deus Todo Poderoso em minha vida. Aquele era o dia da homologação
das inscrições. Sem muitas expectativas, fui conferir a relação de inscritos e
inscritas. Para minha surpresa e satisfação, a inscrição daquele meu
ex-professor não fora homologada. Ele não cumprira um dos requisitos do edital.
Ler aquela frase “inscrição não homologada” logo depois de seu nome tornou o
meu resto de dia tão maravilhoso quanto o acordar todos os dias com vida e
saúde. Com aquele resultado se esvaíam os meus medos e incertezas. Já não havia
assombrações. Só a esperança renovada na fé que se fortalecia em mim. A fé em
Deus que eu começava a construir em minha consciência.
Analisando aquele resultado foi impossível não
agradecer a Deus logo ali diante daquela relação. Eu começava a acreditar que
podia confiar na promessa que lhe fizera. Seguir a sua vontade em detrimento da
minha. A resposta estava bem diante de meus olhos. A Área 3 que eu teria
escolhido pela minha vontade concentrara concorrentes “de peso”. Nela havia
nomes de colegas de turma que eu me acostumara a olhar de baixo para cima em
respeito a seus saberes evidenciados nas discussões em sala. A Área 1 que eu
teria rejeitado concentrava candidatos e candidatas que eu entendia de igual
para igual. Então eu estava no páreo. Meus concorrentes não me intimidavam. Deus
estava comigo. Ele era a certeza com a qual eu aprendia a contar.
Noutro dia saíra o resultado da primeira fase daquele
processo seletivo. Ao conferir o resultado, a alegria explodiu dentro de mim. Eu
estava classificada para a fase seguinte. Ao verificar o resultado da Área 3, constatei
ainda mais o quanto Deus fora tão bom e maravilhoso comigo. Naquela área,
apenas um concorrente se classificara. Um forasteiro cujo diploma de mestrado
desclassificara todos os demais concorrentes. Aqueles nomes que eu considerava "concorrentes de peso". Todos excluídos do processo naquela área da qual Deus me livrara.
O edital valorizara sobremaneira os títulos acadêmicos stricto senso, até
então incipientes entre nós nativos e nativas daquela universidade. Por Deus, eu não seguira a minha vontade. Por
isso, eu permanecia no processo do qual eu sairia classificada pouco tempo
depois na segunda posição. Pela graça de Deus!
Participar daquele processo de seleção e assumir aquela vaga de professora substituta me levara a perceber o quanto vale a pena confiar a Deus as nossas dúvidas, inseguranças e incertezas. Ele sabe tudo. Ele tudo vê. E nesse tudo está o futuro, que não enxergamos e do qual nada sabemos com propriedade senão algumas vezes como projeção ou previsão humana.
Com essa experiência eu fortalecia a minha relação com Deus. Uma relação ainda bastante frágil frente a que estaria por vir. Era apenas o início da construção de um caminho que começava a se abrir. Sem dúvida a passos lentos. Mas eu já entendera que dependia de mim o seu avanço. Só de mim. Afinal, as coisas da fé em Deus somos nós que plantamos em nosso coração e regamos em nossas ações diárias para poder germinar e frutificar. Era o que eu aprendia. Inclusive que, uma vez plantadas, tudo o que temos que fazer é esperar em Deus, exercitando em nós a paciência divina.
ENTRE UMA DECISÃO EQUIVOCADA E OUTRA, DEUS COMO SOLUÇÃO
Então não demorou muito e logo se passaram outros tantos anos. E eis que me vi mais uma vez tropeçando na minha ainda tão frágil fé. Mesmo com aquela compreensão. O ano era 2007. Minha mãe estava com 83 anos. Apesar de ainda bastante saudável, já requisitava olhar atento. Esse olhar era o meu, pois era quem com ela morava.
Naquele ano, eu deveria iniciar o curso de mestrado em cujo processo fora aprovada. Mas estava tomada por uma, hoje sei, por uma falsa certeza que eu julgava isenta de qualquer dúvida. Acreditava que eu não conseguiria me concentrar naquele curso. Não com a minha mãe sob minha responsabilidade. Era a verdade que eu me impunha. A minha insipiente e equivocada verdade. E se ela tivesse algum problema de saúde que me levasse a problemas no curso?
Era esse o medo que me faria tomar uma
decisão igualmente equivocada. Combinei então com uma irmã minha. Ela ficaria
com nossa mãe. Eu sairia de casa para poder me concentrar nos estudos que o
curso certamente exigiria. Assim foi. Aluguei um apartamento e lá me instalei.
Mas não demorei muito a encontrar o caminho de volta. Minha mãe não se adaptara
àquela minha irmã.
A sua não adaptação me levara a tomar outra iniciativa nada
sábia. Naqueles dias, outra irmã minha me informara que uma certa conhecida sua
procurava uma vaga de doméstica com abrigo para morar. Era de outra cidade e
precisava morar no local de seu emprego. Acreditei que seria a alternativa.
Então concordamos. Ela ficaria com minha mãe enquanto eu concluía o curso que
mal começara. Assim foi. Minha mãe era ainda autônoma e não requisitava
cuidados intensivos. Apenas já não se dava ao peso dos serviços domésticos. Então
aquela acompanhante prendada nos afazeres da casa e da cozinha lhe seria de
muita serventia. Assim cria eu.
Mas logo a minha crença se esvaiu. Minha mãe não se
adaptara também à nova acompanhante. Era perceptível a sua insatisfação. Foi então que
novamente Deus veio ao meu auxílio. Só ele poderia me ajudar frente àquelas
novas circunstâncias da minha vida. Sair de casa não me trouxera a tranquilidade
nem a concentração que almejara e julgara possíveis. A não adaptação de minha mãe às novas circunstâncias
causara em mim grande inquietação e desgaste. Eu levava mais tempo em percursos
de ida e volta e presa a pensamentos aflitivos do que sentada à mesa de estudos. O retorno era então inevitável. A
decisão a ser tomada. Até mesmo para apaziguar corações. O meu e o dela.
Sete meses haviam se passado desde a minha saída de casa
quando decidi retomar o caminho de volta. Foi então que conversei com Deus ante
a minha decisão. Conversa de oração com pedidos e muita fé. Então eu lhe pedi a
tranquilidade necessária àquela travessia. Que durante aqueles meus estudos
minha mãe não tivesse nenhuma intercorrência em sua saúde. Nenhum agravo. Assim
foi. Eu não imaginava que os meus problemas no percurso do mestrado seriam de
outra ordem. Nem de longe eu poderia saber. Nem ninguém. Somente Deus. Ele, que tudo vê e
tudo sabe.
A BONDADE DE DEUS COMIGO PARA ALÉM DA MINHA CONSCIÊNCIA
Tão logo concluí meu mestrado, mais uma vez Deus me mostrou a
sua bondade para comigo. Eu já finalizava o curso quando uma
de minhas irmãs sofreu um atropelamento que a deixou internada por vários
dias. Quase um mês em coma. Naquela manhã eu acabara de chegar à minha casa depois de uma noite no hospital. Encontrei minha mãe em
profundo silêncio e desolação. Outra de minhas irmãs a acompanhava. Então me
participaram aquela razão.
Na noite anterior, o neto favorito de minha mãe fora perseguido e baleado pela polícia ali mesmo entre o quintal da nossa casa, quintais vizinhos e a rua em frente. Então se encontrava no hospital onde passaria por cirurgia. Eu ainda procurava entender a situação junto a vizinhos e vizinhas testemunhas daquela ação policial, quando nos chegou da polícia o comunicado de que ele responderia processo por porte ilegal de arma.
Então não vi alternativa senão buscar um advogado ou uma advogada que o representasse naquela causa. Minha intenção era conseguir um habeas corpus que o livrasse da prisão naquelas condições de saúde. O desafio era encontrar
um profissional ou uma profissional de conduta reta. Só depois eu saberia que essa conduta não estava no advogado que encontrara. No dia
seguinte, recebemos do hospital a notícia de que meu sobrinho teria a perna amputada. Vivenciávamos
então uma das situações mais dolorosas de nossa vida.
Para nossa surpresa, vinte e quatro horas depois da cirurgia de amputação deram-lhe alta hospitalar. O que lhe sobrara da perna amputada se restringia a um pedaço da parte superior da coxa. O “côto” na linguagem médica. Um toquinho que naquele momento era todo vermelhidão e inchaço. Aceitamos aquela alta tão rápida e calamos apenas indignadas. Seria porque ele era um custodiado da polícia? Que pelas regras policiais não podiam esperar a mínima recuperação dele?
O advogado não conseguira o habeas corpus que poderia lhe permitir responder ao processo em liberdade. Só depois é que eu me questionaria: será que tentou? E supus que não quando constatei sua conduta não reta. Naquele instante, obteve apenas a concessão de que em vez da polícia ele próprio o levasse ao que se conhecia como hospital penitenciário. Um alojamento anexo à penitenciária para detentos com agravos à saúde.
Foi lá que o deixamos então. Num dos quartos daquele anexo. Um dormitório tão insalubre. Tão quente. Tão pouco arejado. Tudo tão contrário em relação ao que se conhecia como um hospital. E o mais preocupante, sem a medicação prescrita porque ausente naquele "hospital". Foi um tanto doloroso deixá-lo naquele local tão precário nas
condições de saúde em que se encontrava. Um medo se agigantava dentro de mim como
jamais sentira. O medo de que fosse acometido de alguma infecção e até de outros
agravos que eu nem sabia ao certo.
Mas era o que me faziam ver o inchaço e a vermelhidão naquele “côto” ainda tão estranho para mim. Era só a infecção o que eu conseguia ver devido às condições do local onde ele ficara alojado. Naquela noite, eu sabia, eu não conseguiria dormir com aquela assombração. O medo da infecção me atravessando os pensamentos. Foi então que, em meio àquelas aflições, eu conheci Nossa Senhora Aparecida.
No dia seguinte, ao lhe levar a
medicação prescrita, eu o encontrei sorrindo sob um aparato de cuidados que eu não
imaginara no dia anterior. Sua cama estava no centro da sala sob o ventilador tosco que descia do teto, mas que mal girava. Ao seu lado, porém, um ventilador portátil que lhe amenizava o calor. Seu coto permanecia tal e qual, mas naquele sorriso e naqueles cuidados vi a ação de Nossa Senhora. A sua
resposta às minhas inquietações frente a circunstâncias tão aflitivas e inusitadas para mim.
Ainda nos encontrávamos em meio àqueles processos médico-penitenciários quando mais duas notícias impactaram nossa família. Naqueles dias, um de meus irmãos fora diagnosticado com câncer de pulmão e uma de minhas irmãs com um tumor no cérebro. Apesar da gravidade das situações e das dores causadas, eu só conseguia enxergar a bondade de Deus para comigo. Eu pedira e ele me atendera. E de forma muito mais extensiva.
Em
nossa linguagem bem popular, eu pedira um e ele me dera dois ou mais. Eu pedira
tão somente que ele não permitisse agravos à saúde de minha mãe pelo tempo de
meu curso de mestrado. Mas entendi que ele estendera a resposta por toda a minha
família. Ele sabia que um agravo a meu ambiente familiar afetaria o meu
desempenho naquele curso de alguma maneira.
Foi assim que vi a resposta de Deus. Foi assim que interpretei aquelas situações. Todas começaram a ocorrer quando eu concluíra meus estudos de mestrado e finalizava os protocolos de conclusão. Chegaram num momento em que eu podia ajudar a um e a outra num grau maior ou menor. E ajudei! Principalmente ao meu irmão e ao meu sobrinho. Pai e filho, o neto e o filho favoritos de minha mãe que viviam sob a sua tutela. Aquela tutela ancorada nos vínculos do cordão umbilical que não se aparta. Embora adultos e donos da própria vida.
Ela
já vivia sob cuidados meus devido a suas condições de envelhecimento. Então ajudar
a seus favoritos era cuidar dela de alguma forma. Cuidar de forma extensiva. Eles
eram parte da nossa casa. Parte do meu afeto. Desde antes, eu já entendera que
o bem que se fazia a eles se acomodava também no coração dela. Ou melhor: que para lhe fazer o bem, ter-se-ia primeiro que o fazer a eles.
Com as bênçãos de Deus, eu consolidava um processo e me
inicializava noutros. Eram os últimos meses de dois mil e nove e eu me via
correndo de um hospital a outro no enfrentamento àquelas situações de agravos à
saúde de alguns dos meus e algumas das minhas. Logo eu que saíra tão
fragilizada daquele curso de mestrado. Tão destroçada em meus sentimentos a
ponto de duvidar se algum dia eu retomaria a confiança em mim mesma. A confiança que
eu julgara ter perdido em meio àquelas leituras e escritas.
Mas Deus preparara tudo. O meu antídoto e a minha
salvação. Então eu já não levava nem um dia remoendo meus pensamentos nas agruras
daquele curso. Meu envolvimento naqueles novos processos era o meu antídoto para o
meu retornar inteira ao meu viver. Neles estava o remontar de minhas estruturas. A minha cura emocional. Eu
estava salva de uma possível perturbação psicológica. Era o que me dizia a
travessia daqueles momentos. Momentos de aflições. Mas principalmente de agradecimentos.
Então eu só agradecia a Deus. Incansavelmente. A sua bondade infinita para
comigo.
As manhãs já me encontravam entre um hospital e outro.
Inclusive nos dias de visita no hospital penitenciário onde ainda se encontrava
meu sobrinho em tratamento e à espera de sua liberdade. Está na linha de
frente daqueles processos me colocava também na condição de interlocutora com
os demais membros da família. Então eu não parava de falar. De relatar a um e a
outro as situações de cada caso. Era chegar à minha casa e logo retomar os
relatórios. Então o cansaço era iminente à medida que se passavam aqueles dias.
Também o meu antídoto. Com ele, não havia pensamentos a remoer. Só situações a
resolver. Mas eu só agradecia a Deus. Também a Nossa Senhora Aparecida a quem
eu aprendera a agradecer pelo tocante a meu sobrinho.
CONCLUINDO..
O ano de dois mil e dez chegara e encontrara aqueles
processos todos consolidados e no seu lugar próprio. Cada qual no seu continuar da vida. Meu sobrinho
respondendo ao processo criminal em liberdade. Minhas duas irmãs de alta
hospitalar sob cuidados de suas respectivas famílias. Ambas com sequelas neurológicas severas e diagnosticadas como irreversíveis. Meu irmão se negando enfrentar
o tratamento contra o câncer. Então a vida assim seguia seu rumo entre os meus de minha afetividade.
Assim aprendíamos a viver em meio àquelas situações que se
acomodavam a cada dia. Já não havia dor. Só a esperança renovada nos auspícios
do ano que se iniciava. Eu, inteira para
retomar a minha estrada. Seguir novos caminhos. Tanto que logo fui convocada para
assumir uma vaga de emprego por um processo seletivo do qual participara no ano anterior.
Vivenciar situações como essas relatadas me fizeram ver o quanto é bom observar a vontade de Deus em nossas decisões. Por mais que tenhamos um saber aprimorado, é sempre um saber ínfimo em relação ao saber de Deus. Sabemos apenas do presente e do passado. Assim mesmo somente o que alcança a nossa visão e que cabe no limite da nossa memória.
Mas
uma decisão envolve mesmo é o futuro. Por mais simples que ela seja. E do futuro somente Deus o sabe. Afinal, somente
ele é onipotente, onipresente e onisciente. E quando o consultamos, é nesse campo todo do
seu saber e do seu estar e do seu poder que ele nos traz a sua resposta. Ainda que leve algum
tempo. É esse aprendizado que eu começava a obter naquelas primeiras consultas
a Deus e que procuro fortalecer até hoje. Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim seja!
Você terminou de conhecer uma história pessoal sobre aprendizados na construção de minha experiência em Deus. Construa a sua também.
Espero que tenha gostado e acompanhe os conteúdos seguintes.
A você, meus agradecimento.
Deus esteja com você!
Teresina, 11 de abril de 2021.
Epifânio: o gato-guia deste caminho Meus Atos de Fé em Deus. |
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