Quando
nossa mãe envelhece e exige cuidados: como saber o momento da inversão dos
papéis e decidir cuidar? Comigo foi assim: Deus precisou intervir. É o que relato neste conteúdo. |
QUANDO
NOSSA MÃE ENVELHECE E EXIGE CUIDADOS
COM A INVERSÃO DOS PAPÉIS A DECISÃO DE CUIDAR
CUIDADOS COM A MÃE: QUANDO OS PAPÉIS SE INVERTEM
Quando
a nossa mãe envelhece, nem sempre percebemos o momento da inversão dos papéis.
Quando a vida nos convoca como filhos e filhas. Quando nos chama à
responsabilidade para assumir muitas das situações da vida de nossa mãe.
Situações das quais ela já não dá conta devido a limitações da idade. Ou a
problemas de saúde. Por uma razão ou outra, ela já não consegue fazer o que
fazia antes. Ou faz com dificuldades.
Mas
muitas vezes permitimos que continue fazendo. Mesmo a duras penas. Cuidando de tarefas
das quais nós poderíamos cuidar. Como filhos e filhas e até como netos e netas.
E muitas vezes aceitamos seus cuidados sem atentar que ela própria exige
cuidados. Sem observar que cabe a nós a inversão dos papéis. Cabe a nós como
filhos e filhas tomar a iniciativa e sair da nossa posição tão cômoda. Sair da
nossa zona de conforto para lhe dar o conforto e a segurança necessária à sua
nova fase de vida. A fase do envelhecimento que, por mais saudável que seja, por
mais tarde que chegue, sempre traz a necessidade de ajuda. Por uma ou outra
razão.
MINHA MÃE EXIGIA CUIDADOS E EU NÃO VIA: DEUS ME FEZ VER!
Comigo
foi mais ou menos assim. Eu vi de perto o envelhecimento de minha mãe. Vi
quando ela deixou de ir às missas na igreja. Quando não pode mais ir a terços e
a novenas na casa de amigos e amigas. Os únicos lugares aonde ainda ia sozinha.
Deixara de ir porque já não se sentia segura no seu andar. Mesmo que fosse para
ir bem ali. Mas também eu não lhe ofereci a segurança da minha companhia. Eu
não lhe disse: mãe, eu vou com a senhora!...
Em
casa eu a vi titubear insegura ante às suas passadas. Cada vez mais incertas.
Quando suas pernas já não conseguiam o equilíbrio necessário para andar com
segurança. Mas não lhe ofereci o meu braço para se apoiar em mim. Foi mais
fácil lhe dizer: a senhora precisa de uma bengala! E lhe dar uma bengala.
Também foi muito fácil dizer ainda: a senhora não quer a bengala, pois
experimente o andador! E lhe dar um
andador. Tudo parecia mais fácil. Menos renunciar a afazeres meus para estar
com ela. Para estar a seu lado no seu caminhar. No seu ir e vir. E compartilhar
com ela os seus valores mais caros. Os seus momentos talvez os últimos da sua
vida.
Ainda
bem que Deus estava com ela e veio ao seu auxílio. Ainda bem que Deus estava de
olho em mim. E me pegou de jeito. E me fez dar a ela a atenção que merecia. E
me fez ver que era chegada a hora de cuidar dela. Muito mais do que eu cuidava.
Muito mais! Era cuidar com tudo o que eu tinha e era. E cuidei! De tal forma
que hoje penso. Como seria bom se todas as mães tivessem os cuidados dos filhos
e filhas. Como seria bom se cada filho e filha cuidasse de sua mãe. De seus
pais. De seus avós. Em vez de os deixar em abrigos. Ou sob os cuidados de
terceiros. Mesmo na própria casa! Como seria bom! Não apenas pela obrigação
moral. Mas sobretudo pelo amor. Cuidados com amor!
A "PEGADA" DE DEUS NOS CUIDADOS COM A MINHA MÃE
Deus
me pegou de jeito de um jeito que eu logo entendi. Era então setembro de 2012.
Nossa casa seguia uma rotina sempre igual. Pela manhã, minha mãe em frente à
televisão em seus programas religiosos. Só dava ela. No fim da tarde, em nossa
área jardinal. Em suas leituras bíblicas geralmente pausadas para algum
cumprimento de transeuntes conhecidos e conhecidas.
Eu
isolada num quarto entre um turno e outro colada no computador. Na pressa de
concluir um projeto de doutorado ainda distante do seu final. Aprendendo a
galopar nas asas do tempo para participar de pelo menos um dos processos
seletivos daquele ano. Processos cujas inscrições começavam a se encerrar. E eu
a quilômetros do final. Apenas uma porta de inscrições permanecia aberta. E o
meu galope voando para a alcançar.
Mas
o que eu alcancei mesmo foi a urgência hospitalar na noite daquele dia. Com
minha mãe. Ela havia desmaiado. O diagnóstico afirmara uma queda de pressão.
Nada muito grave. Segundo o médico. Mesmo assim ele decidira pela internação. Essa
palavra ecoou em mim com a força de mil pânicos. Era o meu medo frente ao risco
que eu acabava de ver. O risco de não concluir o projeto. De perder a última
porta. Era o que aquela palavra me mostrava. Mas não houve outro jeito.
Terminamos internadas. Eu como acompanhante. Só dois dias depois é que eu viria
a saber. Aquela internação era a mão da Providência. Deus abrindo o meu caminho
de cuidados com a minha mãe.
Era
então um fim de semana. Lá estávamos nós num quarto de hospital. Eu com minha
parafernália de estudos. Continuava acreditando que não podia parar. Minha mãe no
leito. Mas muito bem. Tão bem que seu bem-estar me chamou atenção. Não tomava
uma medicação sequer do hospital. Apenas a sua própria que eu levara de casa.
Não detinha cuidados da enfermagem. Apenas a minha atenção e apoio constantes. Foi
fácil então questionar as razões daquela internação. A maldizer o interesse do
hospital no plano de saúde. Eu não via outra explicação.
Mas
no dia seguinte tudo se elucidou. Eu a acompanhava em seu banho quando uma
mancha saltou bem diante de meus olhos. Uma mancha escura no alto de suas
costas. Entre uma omoplata e outra. Naquela região onde nossas mãos quase não
alcançam. Pelo menos as minhas. Verifiquei com atenção. Constatei não uma
mancha qualquer. Mas um sujo acumulado em alto relevo. Um sujo densamente
acumulado. Meu choque foi tamanho que saí daquele banheiro na reta de uma flecha.
Tão atordoada eu ficara. Atordoada não. Envergonhada.
Fui
cair no sofá do quarto logo ali. De joelhos em seu braço. Com o rosto entre as
mãos. Tamanha a minha vergonha diante de Deus. Eu sentia como se Deus estivesse
realmente ali esperando aquela queda. Bem de pé ao meu lado. E eu só conseguia
repetir: meu Deus!... meu Deus!... enquanto imagens daqueles últimos anos
povoavam a minha mente naquele instante. Naquelas frações de segundos. Raios em
flechas se cruzavam. Luzes no meu entendimento. Então logo comecei a pedir
perdão a Deus sucessivas vezes. Meu Deus, me perdoe!... Me perdoe, Senhor! Repetidamente.
Ali eu chorei. Tudo se descortinava diante de mim. A ficha caía por completo.
De uma vez só.
Entendi que não era a minha mãe o alvo de Deus naquele quarto de
hospital. Era eu. Apenas eu. Deus me levara ali para que eu enxergasse o quanto
que a minha mãe precisava de mim. O quanto que há muito ela já não conseguia
cuidar de si. Do seu próprio corpo. O quanto que eu ainda pensava insistir nos
meus projetos quando eu já obtivera tanto. O quanto que Deus havia feito por
mim e por ela quando no meu mestrado. Momento em que eu o havia procurado e
colocado em suas mãos a saúde dela e a minha para que aqueles meus estudos
fossem possíveis. E Deus cumprira fielmente com a sua parte. Até mais do que eu
lhe pedira. Então era chegada a hora de eu cumprir com a minha.
Então
eu não tinha outra resposta a Deus senão lhe dizer: Senhor, eu vou cuidar! Independentemente
de qualquer circunstância eu vou cuidar de minha mãe. Então eu só lhe pedi que
cuidasse de mim. Da minha saúde. Do meu corpo. Eu precisaria dele saudável para
cuidar de minha mãe. Pedi ainda que não se alojasse em mim qualquer
ressentimento. Qualquer mágoa. Um mal-estar que fosse por eu abandonar os meus
projetos pessoais em prol dos cuidados com ela. Assim foi.
Recomposta,
retornei ao banho dela. Havia em mim um desconforto imenso. Era a primeira vez
tocando o corpo da minha mãe. O olhar dela se detinha sobre mim. Fixamente. Parecia
saber que algo havia acontecido. Mas deixou o silêncio falar. Eu não conseguia
encarar o seu olhar. Mantinha-me o tempo todo fugindo os meus olhos dos seus.
Era a primeira vez. Naquele banho eu me iniciava nos cuidados com a minha mãe. Naquele
quarto de hospital. Naquele fim de semana.
ENFIM, EU CUIDADORA DE MINHA MÃE
A
internação se cumprira na mais plena tranquilidade. Deixando indícios de
mudanças. Então retornamos à nossa casa. Ainda naquele dia, arquivei o meu
mundo de leituras e escritas. Saía de cena o meu eu acadêmico com pretensões
intelectuais. Surgia o meu eu cuidadora de minha mãe. Aberta a um mundo
ampliado de afazeres domésticos à minha espera. Um caminho já conhecido. Mas repaginado
com traços novos. Bastante singulares. Os cuidados com a minha mãe. Um mundo
enriquecido de novos aprendizados se abria para mim. Se retornar à casa depois
de uma internação hospitalar era motivo de alegria, para mim significava também
mudança de rumo. Novos caminhos a trilhar. Com novos ventos adentrando a nossa
casa. Caminhos não tão conhecidos é verdade. Mas carregados de uma certeza.
Deus estava conosco! Assim como está com
você agora. Fique com ele!
A você, meus agradecimentos.
Sônia Ferreira
Teresina, 09 de abril de 2021.
Você terminou de conhecer o primeiro conteúdo do Caminho Cuidados
com Amor.
Espero que tenha gostado e acompanhe os conteúdos da sequência.
Felina Marruá: a guia deste caminho Cuidados com Amor. |
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