Este
conteúdo revela o meu olhar sobre a postura de deputadas e deputadas ao votarem
sim no impeachment da Presidenta Dilma em 2016. Também a falta de perspectivas de mudanças. |
O IMPEACHMENT DA PRESIDENTA DILMA
DA VOTAÇÃO DO ESCÁRNIO A NOSSA PASSIVIDADE COMO ELEITORES E ELEITORAS
INTRODUÇÃO
Este conteúdo representa o meu olhar sobre o modo como votaram alguns deputados e algumas deputadas a favor do impeachment da Presidenta Dilma naquela sessão do dia 17 de abril de 2016 na Câmara dos Deputados e das Deputadas. Um modo de votar que de tanto escárnio me causou incredulidade e muito me incomodou: como havíamos descido tanto como eleitores e eleitoras?!
Também se refere à nossa passividade como eleitores e eleitoras em relação a perspectivas de mudanças na situação posta. Depois de algum tempo permanecíamos os mesmos e as mesmas em detrimento daqueles cenários e daquelas posturas. Assim seguíamos para as eleições de 2018 para mais uma vez legitimar a mesma estrutura corroída e depauperada de enfraquecimento do nosso Estado brasileiro. Da mesma forma seguimos agora para 2022.
A VOTAÇÃO DO ESCÁRNIO E DA MINHA INCREDULIDADE E INCÔMODO
Era abril de 2016. O dia da votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados e das Deputadas. Em
casa, eu assistia à sessão pela televisão. Uma sessão-espetáculo! De
pronunciamentos deprimentes e vergonhosos de se ver. Tudo muito inacreditável para
mim. Não a votação em si nem a sua razão de ser. Mas as posturas de muitos e
muitas daqueles e daquelas deputadas e deputados em favor do impeachment. Posturas tão desprezíveis para os
cargos por eles e elas ocupados. Condutas
nada condizentes com o que se poderia esperar de representantes do povo
investidos num dos mais altos postos do país.
Que votassem a favor! Mas com seriedade e honradez! Ainda que a
responsabilidade pelas questões do país e seu destino não lhes fosse critério de escolha do
voto. Nem o respeito a seus e a suas representadas e representados, como
revelaram suas falas durante aquela votação. Era com suas famílias
e amigos que se preocupavam. Inclusive com familiares destituídos de existência
porque ainda estariam por vir ao mundo. Sem dúvida, era o que certamente representavam:
os seus interesses por todo o tempo de seus mandatos naquela casa. Os
interesses pessoais desprovidos de quaisquer sentimentos de coletividade e
respeito à população com algum grau de distinção dos seus. Então suas posturas
eram por demais coerentes. As razões por que diziam sim justificavam no
mesmo grau tão desprezíveis posturas.
O que se viu mesmo naquela votação legislativa? Naquela votação que pelo menos aos meus olhos sobrou escárnio da parte dos votantes e das votantes no sim e incredulidade e incômodo da minha? Deputados e
deputadas federais se revelando tão medíocres em seus posicionamentos ao revelarem
seus votos que até se tornava difícil acreditar que teriam alguma consciência
do seu papel naquela casa e de sua representação democrática frente à população.
Atônita e enojada com o que via e ouvia, eu não me continha na minha
incredulidade. Ao tempo em que pensava desligar a televisão, sentia-me
impulsionada a permanecer para melhor testemunhar tamanha falta de senso de
representação. Como eu disse, que votassem sim, mas com seriedade e
honradez. Se o tempo lhes era escasso, que não fossem além do sim. Teriam dito tudo.
Era grande o meu desconforto e a minha incredulidade como eleitora. O despertar do
sentimento de que havíamos chegado no mais baixo nível de representação
democrática ao qual poderíamos chegar. Ou teria um grau pior? Dois anos depois eu saberia
que sim, embora não naquele âmbito. Mas para o momento, aquele já era por
demais trágico. Se não visse, seria difícil acreditar que havíamos descido
tanto. Será que aqueles e aquelas deputadas e deputados tinham consciência do
que significavam as suas falas?
Para minimizar o meu desconforto, eu caminhava de um lado para o
outro da sala, inquieta, incontida. Tudo o que eu conseguia dizer à repetição
exaustiva era “nós não podemos sair os mesmos”, “não podemos sair as mesmas!” daquela
situação; daquele cenário político-circense que revelava ali sob os nossos
olhos o que eu acreditava ser o apogeu da nossa derrota em termos de
representação democrática. Era o que eu via nas falas de nossos e nossas representantes
deputados e deputadas federais.
APESAR DE TUDO, A NOSSA PASSIVIDADE COMO ELEITORES E ELEITORAS
Daquela votação, porém, não apenas saímos os mesmos e as mesmas como dois
anos depois fomos às urnas sem perspectivas de mudança e descemos um pouco mais
como eleitores e eleitoras ao elegermos um candidato nada preparado para o mais
alto posto do país. Permanecíamos no fundo do poço em meio à nossa
representação democrática que não representa grande parte da população. Ainda
assim, incapazes de apontar alternativas para os rumos do país de um ponto de
vista diferenciado do olhar dominante.
Nem um sinal de ventos novos a suplantar aquela sessão do sim recheado
de escárnios. Nada que nos apontasse uma perspectiva de mudança para
2018. Nada que nos leve a pensar mudanças a partir de 2022. Não apenas mudança
de titulares em cargos, mas mudança estrutural. Tudo é o mesmo. A mesma ética
política de amparo às ações de nossos e nossas representantes. As mesmas
estruturas corroídas de amparo aos serviços públicos. A mesma ética perniciosa de
amparo ao mesmo saber-fazer do cada qual no seu quadrado.
Em detrimento da índole de nossos e nossas representantes e da política
pauperizada de enfraquecimento do Estado brasileiro e da vida de muitos e
muitas brasileiras e brasileiros, continuamos os mesmos e as mesmas na nossa
passividade e indiferença em relação aos rumos do país e do bem-estar da sua gente
indiferenciada e anônima.
Tanto é assim que seguimos para as eleições 2022 sem nada de novo para
mais uma vez legitimar o mesmo do nosso saber-fazer ético e político: legitimar
as estruturas corroídas do poder por meio do nosso voto e com elas continuar
mantendo a injustiça social e a desigualdade. Um voto muitas vezes não tão
consciente o quanto deveria porque desprovido do conhecimento das diversas situações
do jogo político, especialmente dos acordos ou conchavos ou alianças
particulares que se efetivam a quilômetros dos holofotes por todo o tempo de
cargos e mandatos com vistas às eleições seguintes e à manutenção do poder.
Enquanto nas casas legislativas e nos palácios de governos e nas
instituições públicas se permanecem com o mesmo saber-fazer ético de manutenção
e fortalecimento das estruturas que nos dominam e nos submetem à vida como ela
é, noutros espaços instituídos também permanecemos os mesmos e as mesmas no nosso
saber-fazer respectivo.
Em tais espaços, de quaisquer que sejam os ângulos, somos cada qual nos
seus quadrados e nos nossos pontos de vista. Os críticos e as críticas com suas
críticas; os analistas e as analistas com suas análises; os estudiosos e as
estudiosas com suas teorias; os sindicalistas e as sindicalistas com suas
perdas e ganhos os movimentos estudantis com suas
causas próprias ligadas às suas entranhas; os defensores e as defensoras dos
direitos sociais, com suas causas em suspensão; as minorias, com suas questões
inflamadas do momento.
Enfim, todos e todas voltados e voltadas para questões vinculadas aos
nossos próprios interesses ainda que representando grupos. No máximo, com algum
desconforto por perdas do momento. Ou não? Ainda que com efeitos de longo prazo
e de alcance coletivo. Mas iniciativas de mudança na estrutura que aniquila
muitos e muitas, nada em que se possa acreditar que a esperança esteja salva.
Pelo menos até onde posso observar. Pelo menos até onde vai o meu parco saber.
O que salta aos meus olhos e desperta o meu medo é o nosso imobilismo
motivado não apenas pela questão pandêmica, mas por um lugar próprio que
criamos e nele nos instalamos e nos acomodamos em nosso saber-fazer que talvez
já não atenda às necessidades do momento. Não às de quem anseia ou necessita de
mudanças estruturais para melhor viver. Não às de quem se solidariza e se
compromete com a grande massa anônima de vida precarizada ou comprometida pela própria
ausência da dignidade negada pelas estruturas vigentes de poder.
CONCLUINDO...
Hoje, em tais circunstâncias e cinco anos depois daquela votação
fatídica e dos novos eleitos e eleitas em 2018, inevitável em mim algumas
questões: quem se preocupa então com os rumos do país ou do seu estado já que
os nossos e as nossas representantes não se preocupam tanto? Quem enxerga, defende
ou se preocupa com a grande massa anônima da população brasileira? Os brasileiros
e as brasileiras “sem cara e sem rosto”, os “sem amigos na praça nem dinheiro
no bolso” destituídos de quaisquer poderes que os caracterizem e as afirmem como
pessoas de iguais direitos destinados a todos mas compartilhados entre poucos?
Direitos que os assegurem e as insiram como cidadãos e cidadãs de uma nação
única com o dever de tratar a todos e a todas sem distinção e sem
constrangimentos?
Principalmente, quem respeita e reconhece essa parcela da população na
afirmação da sua dignidade como pessoa humana? Quem defende as questões de
interesse público pelas quais poderíamos alcançar os setores mais fragilizados
da grande massa anônima que, por suas próprias limitações materiais, dispõem de
menos condições de alcançar mudanças que os beneficiem? Quem se preocupa com os
princípios do bem comum pelo qual poderíamos conferir uma vida melhor a muitos
e muitas brasileiras e brasileiros de vida precarizada devido à negação de cidadania
e de vida digna?
A você, os meus agradecimentos.
Deus esteja com você!
Sônia Ferreira
Teresina, 16 de abril de 2021.
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Diamantina dê-lá Negrir: a gatinha-guia deste Caminho SMF Achados e Trapos. |
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