POCÔTO, O GATINHO GUARDIÃO
UM GATINHO NO QUINTAL
Pocôto
era um daqueles gatinhos sapecas que bastava um olho parar nele e logo se
apaixonar. Comigo foi assim. Não que eu tivesse um olho doido para se
apaixonar. Mas é que Pocôto era lindo demais!... Fofo demais!... Tudo demais!
Como o são os gatinhos com a graça que só os filhotes têm.
Eu
estava na cozinha de nossa casa quando minha cunhada Klécia lá chegou. Com ela
aquele gatinho lindo a lhe seguir. Tão logo entrou e não se fez de rogado. Começou
a cheirar os quatro cantos da casa, como dizia minha mãe. E avançava para a
sala com um jeito tão destemido como se já quisesse se apropriar da casa toda.
Mas não
demorou muito no seu cheira-cheira e logo conheceu a arrancada de Pocota. Nossa
cachorrinha boa de guarda. Uma pequinês de encher os olhos de tanto encanto. Com
ela gato em nossa casa não tomava assento. Logo que viu aquele gatinho com
jeito de quero ficar, voou no seu encalço.
Mas
Pocôto mostrou que não era bom apenas de cheirar, mas de subir também. Se
Pocota era boa de corrida, ele também o era. Tanto que num instante alcançou o
pé de acerola logo ali depois da porta e se entranhou entre os galhos. A
natureza já o havia ensinado essa esperteza.
Gatinho Pocôto de olho azul outro amarelo entre galhos do pé de acerolas. |
Desde aquele dia, Pocôto não mais ousou adentrar a nossa casa. Não enquanto Pocota esteve conosco. Continuou acompanhando minha cunhada Klécia sempre que ela vinha. Mas não passava do quintal. Sabia que Pocota poderia a qualquer momento irromper porta a fora. Sabia que tinha que se manter alerta. Então o pé de acerola se tornou o seu melhor lugar. Era comum vê-lo lá em cima entre um galho e outro. Coisa de gatinhos filhotes procurando desbravar o mundo em busca de brincadeiras. De lá observava os movimentos da casa e sabia quando Pocota se recolhia lá dentro. Era a hora de descer e rumar para sua casa.
A HORA E A VEZ DE POCÔTO
Pocota já vivia seus últimos anos de vida. Então não demorou muito para que nos deixasse. Com sua partida, a casa ficara livre para Pocôto. Completamente. Então logo ele assumiu o lugar que há muito almejava. O lugar dentro de casa. Deixou de ser apenas um gatinho no quintal e no pé de acerola. Passou a ser o gatinho de todos os lugares onde estávamos. Especialmente os lugares preferidos de Pocota: próximo à minha mãe ou a mim, até porque só éramos nós duas em casa.
Mas o
fato é que Pocôto assumiu completamente o lugar de Pocota. De fato e de
direito. Herdou suas coisinhas, sua caminha e seu vestuário de cama. Passou a
ocupar os mesmos lugares que ela ocupava na casa. Principalmente, aquele
lugarzinho no chão próximo à minha mãe em seus momentos de descanso. Deitava-se
ao lado de sua poltrona. Ou se fixava ao lado da minha cadeira em meus momentos
de estudos. Tornou-se o nosso companheiro de todas as horas como um dia o fora
Pocota.
Mas o que mais nos despertou a atenção foi o
seu jeito meio canino. Adotou o mesmo
comportamento guardião de Pocota. Parecia mais um cachorro de guarda do que um
gato. Até a posição de se deitar era tal qual a da Pocota. Barriguinha no chão.
Cabecinha levantada ou apoiada nas patinhas pronto para um possível ataque. Com
esse comportamento tão fofo, Pocôto logo nos conquistou. Virou nosso gatinho
guardião.
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Gatinho Pocôto com seus olhos azul e amarelo muito expressivos. |
Por isso, ao ser batizado não tive dúvidas. Pocôto era o seu nome. Uma bela homenagem à Pocota. Bela e digna de se contar aos quatro ventos. Afinal, ela nos havia deixado um substituto e tanto! Tanto de beleza e graça que nem a sua quanto de companheirismo. Talvez por isso tanto nos guardava e nos encantava a todas.
Mas um
dia Pocôto desapareceu sem vestígios. Havia chegado o seu momento de namorar.
Eu não o havia castrado. Então naquela noite ele saiu e não voltou para dormir.
Acreditei que de manhã estaria em casa. Não estava. Diziam que era assim mesmo.
Estaria namorando, mas logo voltaria. Não voltou. Nunca mais. Eu havia perdido
o meu companheiro das minhas caminhadas de fim de tarde. Ele me seguia por
dentro do matinho à orla do asfalto. Tomava dianteira e se escondia. Quando eu
passava por ele, um pulo certeiro em mim. Conseguia realmente me assustar. O
susto que em vez de me aborrecer me encantava. Pocôto era puro encanto. Como
certamente o são todos os gatos bem cativados.
Observar o comportamento de Pocôto me fez acreditar que os gatos
não agem apenas pelo instinto de proteção e conservação que lhes assegure a
vida. Mas que dispõem de uma inteligência que os faz calcular os riscos ou a
ausência deles para poder se apropriarem de determinados espaços.
Pocota era a cachorrinha guardião da nossa casa. Pocôto se tornou
igualmente guardião. Ele não vivia dorminhoco nem desatento num cantinho seu.
Pelo contrário. Era bastante alerta. Como Pocota, levantava a cabeça e as
orelhas sempre que algo estranho lhe soava lá fora. Primeiro assuntava, e só depois
corria para a porta. Se a encontrava fechada, inquietava-se com um jeito
farejador com as narinas no ar. Se a encontrava aberta, parava em seu limiar
para ver o que ocorria. Tal qual Pocota. Como ela, nada ocorria em nossa casa que
não desse conta, que não fosse verificar de perto. Era um gatinho destemido. Um
gatinho de jeito muito guardião.
A você, meus agradecimentos!
Deus esteja com você!
Sônia Ferreira
Teresina, 20 de maio de 2021.
Você terminou de conhecer uma
história do tipo história de cães e gatos.
Espero
que tenha gostado e acompanhe os conteúdos seguintes desta sequência.
Maria Atena: a gatinha guia dos conteúdos deste caminho Família Bichada. |
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