Como dormem as marias moles? Uma pergunta de meu tempo de menina que me havia ficado sem resposta. Entre os arbustos e o capim do meu quintal, Deus encontrou o caminho para me mostrar. |
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COMO DORMEM AS MARIAS MOLES?
QUANDO DEUS É QUEM RESPONDE
O QUINTAL SOB MUDANÇA: DEUS ENTRE ARBUSTOS E CAPINS
O quintal de nossa casa passava por mudança.
Mudava aquele tipo de vegetação meio arbustiva. Um tipo de mato que nem crescia tanto, mas incomodava mais do que
crescia. Todo ano ela se mostrava pelo menos de duas maneiras. Quando iniciava
o ano e as chuvas chegavam, seus arbustos davam um jeito de chegar junto.
Chegavam com seus galhos retorcidos bem escondidos sob o verde de densas
folhagens. Mostravam que a beleza da natureza não estava apenas nas grandes árvores.
Nem nos bosques de vales verdejantes a qualquer tempo. Também bem ali fincada
entre uma pedra e outra a meio metro do chão pedregoso de nosso quintal.
Mas antes que o ano chegasse pelo seu meio, já
não se via o verde das folhas. Já não se viam as folhas. Apenas os troncos
retorcidos a se curvarem mais ainda na secura que logo os faria sucumbir. Antes mesmo
que se aproximassem as próximas chuvas. E muitas vezes nem era preciso as
próximas chuvas. Antes de sua chegada, minha machadinha já havia passado pelo
caminho levando ao chão o que de arbustos ainda restara. Ou eu já lhe havia mostrado o
quanto que o mal se cortava pela raiz quando era a enxada a protagonista do
arranque.
Mas naquele ano mais do que matos retorcidos e
inflexíveis era a mudança que eu via. Já não havia tantos arbustos como nos
anos anteriores. Entre um combo e outro de galhos retorcidos, um forasteiro parecia
tomar lugar. Um capim que se estendia por
todos os lugares do quintal com ares de quem chegava para ficar. Os arbustos outrora tão dominantes pareciam
recuar frente à impetuosidade daquele capim que nem se mostrava tão monstro. Parecia
pequeno demais para ser temido. Mas sua força parecia estar nas raízes, que não
paravam de crescer nem de se germinar e pareciam dominar o embate sob o solo à
revelia de quaisquer olhos.
Naquele momento, eu não via nada além do que
aquela mudança. Mas inicialmente acanhada não demorou muito para que eu a
percebesse completa. Antes que as chuvas se findassem naquele ano, já não havia
o mato retorcido com sua folhagem densa. Apenas uma extensa camada de capim a
se estender pelos quatro cantos do quintal. De ponta a ponta era o que se via.
Um tapete verde que logo os meus gatos e as minhas gatas o adotaram como lugar
de brincar, de correr, de se deitar, de dormir e de se rolar. Cena comum aos
meus olhos nas primeiras horas da manhã antes que o sol se erguesse; e no final
da tarde, antes que ele declinasse total no longínquo vermelho do horizonte.
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Capim sempre verde no quintal: providência de Deus e alegria dos gatos com os quais eu moro. |
Foi inevitável então não vê o dedo de Deus
naquela mudança. Inevitável não agradecer ao Senhor e meu Pai as bênçãos recebidas
com aquela mudança. Uma graça e tanto! No início, quando me pus a arrancar
aquele capim sob a ideia de limpar o quintal, logo percebi a minha insensatez.
Não precisava limpar, ele estava perfeito no seu jeito de ser e de se
esparramar pelo quintal.
Então foi que vi o quanto Deus me poupava de
trabalho. Por todo aquele ano e no seguinte não me preocupei tanto com o limpar
do quintal. Salvo quando algum arbusto teimoso insistia em nascer numa ponta ou
noutra. Nesse acontecer, a minha mão não descansava enquanto não ia até ele com
a machadinha empunhada. De um corte ou de um arranque ele não se livrava.
Mas aquela mudança não fora a única
manifestação de Deus naquele quintal. Cheguei a acreditar que se tornara um
quintal abençoado de tanto que eu via Deus em meu auxílio. Nele, o dedo da
Providência continuava apontado para mim também de outra forma. Eu devastava o
mato talvez um dos últimos que crescia por ali quando esbarrei num pé de maria
mole.
Então logo entendi: coisa de Deus! Só não
sabia o que realmente era. Mas aquela maria mole ganhava altura e um dia tudo
se esclareceu. Era um dos caminhos de Deus para me trazer a resposta que eu não
obtivera no meu tempo de menina. É sobre essa história que trato nas seções seguintes. Confira! E veja como Deus realmente guarda tudo de nós e nos revela em
momento oportuno quando o inserimos em nossa vida ordinária.
A MARIA MOLE DO MEU TEMPO DE MENINA
Eu avançava destemida
naquele arrancar de matos pela raiz. O sol ainda estava longe de chegar quando
tomei postos. A enxada se mostrara inadequada. Tirava as pedras do lugar e as
deixava soltas por todos os lugares. Um risco para os pés. A machadinha já não
fazia falta. Então as mãos se revelavam a alternativa plausível. Envoltas em
sacos plásticos em forma de luvas. Uma proteção tímida, inclusive contra
possíveis lagartas. Mas protegia. Dava conta do seu recado. Assim
eu seguia no meu arrancar os matos do quintal. Nessa hora os gatos e as gatas
aproveitavam para perambular por ali. Suas presenças eram constantes em todos
os lugares onde eu estava. Salvo quando dormiam em seus cantos e recantos.
Então entre um
mato e outro, eis que um pé de maria mole saltou aos meus olhos. Não que
tentasse se prevenir de uma possível arrancada. Mas porque naturalmente se destacava
entre os arbustos que ali rondavam. Exatamente porque não era um arbusto. Nem outro
mato qualquer. Nem uma vegetação daquelas rasteiras que se arranca sem piedade.
Nem uma daquelas que se cortam sem consciência alguma da preservação que lhe cabe.
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Pé de maria mole no quintal de nossa casa: Deus criando o seu caminho. |
Era uma das marias
moles dos meus tempos de menina. Aquelas cujas folhas me ficaram impregnadas desde
aqueles tempos vividos. Aqueles tempos que a minha memória não me deixara
esquecer. Embora eu não os buscasse. Mas por uma razão qualquer, Deus os trazia
de volta naquele pé de maria mole. Sem que eu nem lhe pedisse, ele me lançara o
dito cujo bem nos meus olhos. Não havia como não o vê.
As marias moles
compunham a vegetação nativa do meu bairro do meu tempo de menina, lá pelos
idos anos de mil novecentos e sessenta. As marias moles dos anuns e dos xexéus;
dos canários e dos galos de campina; dos chicos pretos; dos passarinhos de muitas
das suas cores. As marias moles que nos abrigava do sol no pico do meio-dia
quando as pessoas mais velhas descansavam dentro de casa e não queriam os vai e vens das meninas e dos meninos correndo dentro de casa. As marias moles
por onde tantas vezes brincamos de nos esconder em nossas brincadeiras de
ronda.
Então ao ver uma
delas bem ali eu não tive alternativa senão gritar: meu Deus, um pé de maria
mole! Há quanto tempo! E logo vi nele uma ação de Deus porque há muito tempo
não se viam marias moles naquela minha região de morada. Muito menos no quintal
de nossa casa. As marias moles haviam desaparecido do nosso meio desde que o
asfalto e as casas tomaram o seu lugar. Então só podia ser um presente de Deus
por tudo o que a maria mole participara da minha vida no meu tempo
de menina.
Só depois eu
saberia que era Deus em meu auxílio. Aquela maria mole tinha a ver com uma
pergunta que me havia ficado sem resposta lá naqueles tempos. A resposta da
pergunta que certamente não ousara fazer por não me atrever a dirigir a palavra
a uma pessoa mais velha. Calar e abaixar a cabeça era o que eu sabia. Então eu
ficava sem saber, dava o não sabido por não me interessa, e ia brincar, o que
me competia como menina. Quer saber a
resposta que Deus me trazia? Veja a seção seguinte.
ASSIM DORMEM AS MARIAS MOLES
Eu não tinha dúvidas de que aquele pé de maria mole era presente de Deus, então era para ser preservado. Assim entendi. Assim o fiz e o afirmei a quem estranhou a sua preservação. Deixar crescer um pé de maria mole?! Sim, é meu presente de Deus. Tornou-se então o destaque do quintal. E da varanda da cozinha eu o via crescer dia após dia. Ele nascera estrategicamente posicionado de frente para a porta da cozinha. Quando a abria pela manhã, ele estava no centro do meu olhar.
Foi dessa posição
que, certo dia ao cair da noite, ao chegar à porta da cozinha e olhar para o
quintal, vi cair sobre as folhas da maria mole feixes de luzes como as
atravessarem por todos os lados. Elas se iluminaram diante de mim. Diante de
tal visão então não me contive e num rompante de alegria exclamei: “Meu Deus,
as marias moles dormem! Bem que a titia dizia!...”.
No mesmo
instante, eu me vi transportada para um momento de minha vida que jamais
lembraria sem a intervenção de Deus. Eu olhando para a minha tia lá em frente a
sua casa. Era noite. Eu tão menininha segurando o braço da cadeira onde ela
estava. Ela no seu jeito tão peculiar de se sentar com a cabeça declinada para
trás e apoiada no encosto da cadeira. Os olhos fechados como a cochilar. Era o
seu jeito característico de descansar à caída da noite depois de mais um dia de
trabalho.
Então lembrei: naquele momento ela certamente dizia: “meninos, deixem as marias moles dormir!” Então àquela hora os meninos certamente brincavam de se esconder entre os pés de marias moles. Eles formavam vasta vegetação logo depois dali no atravessar da rua. Não era certo se eu também brincava. A lembrança que me ocorria me mostrava ainda muito menininha.
O meu momento de correr por entre as marias
moles talvez ainda não tivesse chegado. Ou talvez sim porque já havia o poste
de luz ali próximo onde estava minha tia.
E no tempo do poste de luz, eu já dava conta de mim. Era o poste da luz
a ronda, o lugar onde tínhamos que tocar antes que o nosso perseguidor nos
tocasse. Ser tocado significava ficar na ronda enquanto os demais e as demais se
escondiam para só então sair à procura deles e delas.
Mas o certo é que
também compartilhei daquelas brincadeiras. Talvez aquele fosse o meu momento de
ronda. O momento em que ouvia minha tia pedir que deixássemos as marias moles
dormir. Algo que eu jamais entendera. Como dormiam as marias moles? Mas talvez
não ousasse perguntar. Certamente não me atrevi a perguntar. Era uma ousadia e
um atrevimento conversar com as pessoas mais velhas. Algo que eu nunca aprendi.
Não no meu tempo de menina. Nunca fui
atrevida. Nunca fui ousada. Não no enfrentamento aos mais velhos e às mais
velhas. Então a resposta àquela pergunta eu ficaria sem saber por toda a minha
vida. Cairia no meu esquecimento. Em algum escaninho de minha memória e lá
ficaria por toda a minha existência.
Mas Deus que tudo
sabe e tudo vê e tudo guarda acabava de me trazer a resposta. Aqueles feixes de
luzes me mostravam como dormiam as marias moles. As folhas que eu sempre via
espalmadas durante o dia estavam à noite fechadas uma sobre a outra formando uma
fileira de pares. Não me cansei de olhar maravilhada aquelas folhas. Tão rentes
uma pétala sobre a outra. Cada uma com o seu par. No dia seguinte então me levantei
mais cedo para aguardar o seu acordar. Sob a luz do sol, elas foram se abrindo
uma a uma como quem não tem pressa. Como quem conhece o seu tempo. O tempo de
se abrir e o tempo de se fechar. O tempo de dormir e o tempo de acordar.
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As folhas fechadas: Deus me mostrando como dormem as marias moles. |
Então mais uma vez eu via o dedo de Deus em meu auxílio. Se ninguém me dera aquela resposta naqueles tempos, muito menos nestes. Além do mais, somente Deus sabia da ausência de tal resposta em minha vida. Não que fizesse alguma diferença ao meu viver. Pelo menos eu não via diferença alguma. Mas apenas que significava muito para mim porque me fazia ver o zelo de Deus para comigo. Só depois eu saberia que era apenas o início de outros descortinares que ele me faria. Mas até então eu já me sentia muito protegida de Deus. E sobretudo muito agradecida por sua bondade para comigo. Afinal, desde anos antes ele já o demonstrara. E eu apenas maravilhada com sua presença em minha vida.
Você terminou de conhecer mais um conteúdo do caminho Meus Atos de Fé em Deus.
Espero que tenha gostado e continue na sequência.
A você, meus agradecimentos.
Deus esteja com você!
Sônia Ferreira
Teresina, 09 de maio de 2021.
Epifânio: o guia dos conteúdos deste caminho Atos de Fé em Deus. |
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