quinta-feira, 6 de maio de 2021

Pocota: nossa amada e cativante pequinês

 

Imagem com a gata Maria Atena apresentando a história de Pocota, uma cachorrinha pequinês de pelo alaranjado.
Esta é a história de Pocota: uma pequinês linda que nos acompanhou por muitos anos.
Não apenas companheira, também cheia de cuidados com a minha mãe.
Parecia entender as limitações dela. É o que relato neste conteúdo.


POCOTA: NOSSA AMADA E CATIVANTE PEQUINÊS

 

A CHEGADA DE POCOTA

Meu irmão Elói chegou à nossa casa num determinado fim de tarde depois de mais um dia de trabalho. Era comum sua passagem por lá tanto na saída quanto na chegada. Um hábito diário. Sempre estávamos no meio do seu caminho. Éramos a ponte do seu percurso por onde ele sempre passava. A ponte entre a sua casa e o seu destino. Sua casa ficava logo ali depois da nossa. Ou antes ou depois dependendo do ponto, se de partida ou de chegada. Viesse de onde viesse ou fosse aonde fosse, o certo é que minha mãe sempre o via chegar ou sair. Eu, raramente, pois quase sempre ou saía antes ou chegava depois da sua passagem.

Mas naquele dia eu estava em casa quando ele chegou. Consigo uma cachorrinha se deixava conduzir irresoluta presa a uma corrente. Explicou que a ganhara do senhor que lhe contratara os seus serviços de pedreiro. Era Pocota, uma pequinês na flor da idade. Linda de se vê! Daquelas que nos encantam os olhos ao primeiro olhar. De tão linda no seu jeito pequenez de ser. No seu pelo ruivo alaranjado. Imaginei então a festa que fariam Lísia e Kaliu ao se depararem com ela. Afinal, parece ser da natureza dos cachorrinhos encantarem as crianças. Lísia e Kaliu eram a filha e o filho de meu irmão que ainda não chegavam aos sete anos de idade. Então a festa com Pocota estaria garantida.

Imagem de uma cachorrinha pequinês de pelo alaranjado.
Pocota: nossa linda e amada companheira de muitos anos


Então Elói seguiu seu rumo até sua casa logo ali depois da nossa. Pocota muito serelepe no seu caminhar a um ou dois passos atrás dos dele. Parecia contente. Como eu previra, a alegria na casa não foi pouca. Pocota encontrara abrigo no coração de seus novos donos. Então apenas passamos a acompanhar à distância aquele movimento das crianças com a nova inquilina. Eu e minha mãe em visitas fugazes à casa delas.

Não demorou muito e Pocota teve sua primeira prole. Não faltou quem não quisesse um de seus filhotes. De tão lindos e fofos que eram. Mas Lísia e Kaliu cuidaram de preservar mais um na família. Cismaram que Mimoso não se desligaria de sua mãe. Afinal era lindo demais para ser levado. Fofo demais. Tudo demais. Até nome já lhe tinham dado. Então não houve outro jeito a Kécia senão aceitar Mimoso como o mais novo inquilino da casa. Kécia era a mãe de Lísia e Kaliu. Mas em se tratando de Pocota e Mimoso, sua vontade não contava. Lísia e Kaliu sempre a convenciam. Afinal, diante de cachorrinhos filhotes tão fofos qual a mãe que também não se derrete em mimos ao ver suas crianças todas derretidas por eles?

COM A FALTA DE SEGURANÇA, MIMOSO MUDA DE CASA

Certo dia, Mimoso se sentiu ofendido por Elói num de seus excessos de mal humor motivados pelo uso do álcool. Desde então ele se afastara de Elói e rapidamente se mudou para a nossa casa. Afinal, o caminho já lhe era conhecido. Bastava atravessar o quintal. Sem contar que ele já era do nosso coração. Então foi muito fácil acolhê-lo também em nossa casa. Lísia e Kaliu até que tentaram levá-lo de volta. Mas ele sempre retornava. Ele havia encontrado o seu lugar de morada. Um lugar mais acolhedor que lhe dava mais segurança. Disso ele sabia.

Então não demorou muito para Pocota também fazer da nossa casa a sua.  No início, parece que a intenção dela era levar Mimoso de volta. Chegava de mansinho e se envolvia nas brincadeiras com ele. Na hora de voltar, ela sempre retornava sozinha. Por mais que Lísia ou Kaliu insistisse, somente ela aceitava acompanhar os seus donos. Mimoso corria para dentro de casa e logo encontrava um canto para se deitar. Sinal claro de que não retornaria. Mas com o passar dos dias, era cada vez mais evidente a preferência de Pocota.  Ficar com o seu filhote. Então se instalou de vez. A antiga casa se tornou apenas o lugar das idas e vindas. Também das visitas diárias. Todos os dias passavam por lá para um alô aos seus antigos donos.

Com a mudança para nossa casa, Pocota e Mimoso revelaram que a segurança é fundamental para que se mantenham cães em casa. Ele e ela não se sentiam seguros, apesar do afeto de todos e todas de casa. Mas havia o alcoolismo de meu irmão Elói que o transformava numa pessoa outra. E no seu transformar-se, sua paciência e sentimentos de afeto desapareciam. Em seu lugar, o mal humor e a agressividade o dominavam. Em tais condições, Pocota e Mimoso eram os primeiros e os mais afetados. Então não lhes faltaram motivos para buscarem outro lugar para morar.

Essa percepção se tornou muito evidente por todo o tempo de Pocota em nossa casa. Como eu disse, era ponto de passagem de meu irmão Elói. Todos os dias. Ainda que fosse apenas para um cafezinho. Minha mãe já lhe deixava a garrafa preparada. Ele chegava e passava direto para ela. Em suas chegadas, Pocota nunca deixou de lhe querer fazer festa. Mesmo numa recepção tímida.

Mas não antes de verificar o seu estado de graça. Ou de desgraça. Então antes de se aproximar dele, ela parava e olhava insistentemente a sua face, a sua boca, o seu jeito que ela sabia ver. Nessa hora, seu rabinho tinha um jeito particular de se mover. Lento e calmamente de um lado ao outro. A evidência de seu estado de alerta.

Então eu a observava na sua vistoria. Quando via o seu rabinho se curvar entre as pernas, o seu corpinho se acanhar rumo à mesa para entrar debaixo então eu sabia. Ele havia tocado no álcool. Quando esse tocar nem perceptível para mim era, Pocota já o sabia. Aprendera no seu curto tempo de convivência com ele a ler a expressão da sua face, o movimentar da sua boca, o seu semblante talvez como o todo.

Afinal, esse aprendizado era o que lhe assegurava a sua proteção, a sua defesa, a sua conservação na casa onde vivera. Apesar de um ambiente doméstico e de estimação, ela preservava o instinto do animal que precisa conhecer o terreno onde pisa para poder se manter vivo. Agora em nossa casa, ela demonstrava preservar esse instinto de proteção e defesa. Então debaixo da mesa, o seu olhar não se desviava de Elói. Ela sabia que não apenas não podia se aproximar, como também precisava se manter alerta para uma possível defesa. Em outras condições, ela se aproximaria dele e aceitaria seus afagos com o bem-querer de quem não esquece o seu dono e lhe mantém o afeto e a fidelidade.

DE GUARDIÃ À COMPANHEIRA E CUIDADORA DE MINHA MÃE

Fora essas circunstâncias, Pocota se revelou uma ótima guardiã da casa. Também ótima companheira. Mas, principalmente, excelente cuidadora de minha mãe, zelosa e compreensiva. Como guardiã, Pocota era do tipo silenciosa; logo, muito faropotente, do tipo que pegava tudo no ar. Dentro de casa, era comum o seu narizinho arrebitado farejando o ar como a perceber algum sinal de perigo quando por nossos ouvidos nada nos alertava. Era ela quem acendia o sinal vermelho e nos deixava à espreita.

Mas sabia como ninguém usar o seu latido bravo e estridente para revelar a sua insatisfação com algum desafeto que ousava chegar à nossa casa. Era o que ocorria com o senhor X, um senhor amigo de minha mãe que costumava aparecer para um dedo de prosa com ela. Pocota não suportava o senhor X e lhe revelava isso com todos os dentes. À sua chegada eu precisava intervir para que ela não o abocanhasse. Em tal momento eu sentia a minha hipocrisia estremecer dentro de mim frente à franqueza de Pocota. Eu também não suportava o senhor X, mas o aceitava pelo aceite de minha mãe.

O senhor X era aquela pessoa que chegava à nossa casa geralmente cheio de conversas das casas por onde andava. Era uma das poucas pessoas que costumava vir conversar com minha mãe. Mas sua conversa não era nada desinteressada. Era do tipo coletor para levar aonde ia. Então eu vivia alertando a minha mãe. Ela vivia mais sozinha do que comigo ou com outros e outras. Então ele era sempre bem-vindo para ela porque teria com quem conversar.

Mas como vivia apenas em casa, o seu reportório não ia muito além dos desabafos de filhos e filhas que vez ou outra passavam para lhe participar seus reclames e alegrias da vida. Eram esses desabafos que paravam no coletor do senhor X. Por essas e outras eu preferia vê-lo pelas costas e a quilômetros de distância. Creio que era esse o sentimento que Pocota expressava em seu franco latido contra ele. Ela o reconhecia de longe e o seu faro o alcançava a longa distância. Então ecoava o alerta. Aprendi a saber de sua aproximação pela inquietação que a fazia latir com toda a sua alma canina. Não demorava muito, baixava o dito cujo. Aquele contra o qual Pocota tentava nos proteger com todos os dentes.

Mas era apenas o seu jeito pequinês e destemido de ser. Tão destemido que como companheira de minha mãe não poderia ser diferente. Talvez por isso se mostrasse tão valente assim. Passava a maior parte do tempo ao seu lado. Então era natural que a tentasse proteger de todas as formas. Ela via no senhor X uma ameaça que escapava aos nossos olhos. Tanto que ele parecia se sentir constrangido diante dela. Mesmo acomodado numa cadeira em sua conversa com minha mãe, ela não o perdia de vista.

Era esse um comportamento de Pocota tão impressionante como o seu jeito cuidador de minha mãe. Nessa área ela também se mostrava bastante aguerrida. Minha mãe já era avançada na idade. Seu caminhar lento requisitava atenção e cuidados. E Pocota parecia saber disso. Tanto que sempre que minha mãe se levantava para sair de sua poltrona, ela também o fazia. Mas em vez de tomar a dianteira, parava de lado e aguardava.

Minha mãe não entendia e retrucava: Oh, Pocota, sai do meio. Pocota apenas erguia os olhos para mamãe e permanecia no mesmo lugar com o rabinho balançando. Ela não estava no meio, mas de lado. Então eu intervinha: Mãe, ela fica de lado para a senhora poder passar. É para a senhora não tropeçar. Se desvie dela. E realmente! Ela deixava minha mãe tomar a dianteira para a seguir logo atrás. Dessa forma, não havia como minha mãe tropeçar nela. Esse risco ela não corria, pois Pocota não trafegava entre suas pernas. Ela sabia realmente como se posicionar para seguir a minha mãe.

Esse comportamento cuidadoso de Pocota eu já percebera tempos atrás em suas brincadeiras com Mimoso, ainda meio filhote. Naquele fim de tarde, minha mãe colhia acerolas no pé. De alguma forma tropeçou em Mimoso e caiu. Quando vi, ela tentava se levantar e Pocota a seu lado toda aflita. Então a ajudei. Ela retomou às suas acerolas e em seguida se dirigiu à casa de meu irmão Elói para onde as levaria. Pocota permanecia por ali brincando com Mimoso numa brincadeira de agarrar. Quando ele viu minha mãe saindo, tentou segui-la, mas Pocota o impediu bravamente.

Talvez esta tenha sido a cena mais emocionante protagonizada por Pocota. Minha mãe atravessava o quintal nos seus passos lentos rumo à casa de Elói. Mimoso tentava se desvencilhar de Pocota para a seguir. Os dois rolavam no chão. Mas Pocota conseguia dominá-lo a cada tentativa de se soltar. Seus olhos trafegavam entre o olhar a minha mãe se distanciar e o agarrar Mimoso para o manter preso. Foram várias as tentativas de Mimoso. Sempre que se soltava por um instante, Pocota o agarrava e o jogava novamente ao chão antes que se levantasse por completo. Mantinha uma de suas patinhas presas à sua boca e o impedia de se levantar e correr. Pocota somente o libertou quando minha mãe cumpriu o seu trajeto. Quando saiu do seu campo de visão ao dobrar à parede da casa para alcançar a porta principal. Quando entendeu que Mimoso já não a alcançaria e já não estaria em perigo. Então saíram os dois na mais afoita e desenfreada carreira no encalço dela até que eu os perdi igualmente de vista.

O ADEUS DE POCOTA

Pocota estava para morrer, que nem a cachorra Baleia de Fabiano.  Mas não caía o pelo. Era o seu coraçãozinho que crescia e a fazia agonizar. fazer a sua viagem sem volta. E nos deixar depois de alguns dias se despedindo.

Era uma cachorrinha bastante idosa. Desde há muito seu corpinho já demonstrava sinais de velhice. Os pelos de suas pálpebras embranqueciam. Seus olhos já não demonstravam o brilho de outrora. Passava grande parte do tempo quietinha, dormindo ou cochilando. Seu coraçãozinho estava cada vez mais frágil. Era notável o seu cansaço.

A você, meus agradecimentos pela atenção!

Deus esteja com você!

Sônia Ferreira

Teresina, 06 de maio de 2021.

Você terminou de conhecer uma história do tipo história de cães e gatos.

Espero que tenha gostado e acompanhe os conteúdos desta sequência.

Imagem com a gata Maria Atena convidando leitores e leitoras para se inscreverem no blog e o seguir.



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