sexta-feira, 7 de maio de 2021

Minha mãe sob transtornos: seria o Alzheimer?

 

Imagem com a gata Felina apresentando o conteúdo “Minha mãe sob transtornos: seria o Alzheimer?”
O comportamento de minha mãe estava alterado. A cada dia ela manifestava novos modos de agir.
Eram as mesmas ações, mas muito prolongadas e se tornava agressiva quando contrariada.
É o que relato neste conteúdo. Confira!


MINHA MÃE SOB TRANSTORNOS 

SERIA O ALZHEIMER?

 

INTRODUÇÃO

Fazia pouco tempo que minha irmã me ajudava nos cuidados com a nossa mãe quando percebemos alterações no seu comportamento. Ela estava silenciosa e quieta. O seu retraimento já era percebido inclusive por pessoas que a visitavam. Ela estava menos comunicativa. Nas conversações, respondia apenas o necessário e logo voltava ao seu silêncio. Seu sorriso se tornava cada vez mais raro.  O seu jeito aconchegante e natural de ser já não era o mesmo. Estava realmente depressiva.

Então a levamos para atividades físicas num centro de convivência para pessoas idosas. Duas vezes por semana. Mesmo assim, o seu retraimento permanecia. Nesse quadro então se manifestou outro comportamento diferente: uma ação repetitiva de arrumar os tapetes por onde passava, especialmente o que ficava próximo à sua cadeira de descanso e à entrada do banheiro do seu quarto.

Em seguida, outra alteração no seu comportamento nos levou a encerrar as atividades no centro de convivência. Recuamos diante de novas ações repetitivas logo nas primeiras horas da manhã. Ela começava a agir de forma estranha ao se levantar de manhã e à noite ao se preparar para dormir. Alterações essas que passariam a se manifestar durante todo o dia de diferentes formas. Seu comportamento se alterava progressivamente. O que se iniciara com silêncio e desolação progressivos, avançava também na repetição de movimentos. Ao mesmo tempo, crescia nela a impaciência e a agressividade.

É o que veremos neste conteúdo. As alterações no comportamento de minha mãe. A evolução inicial de seus transtornos. Do ajeitar o tapete no chão ela passou a ajeitar o lençol na cama e no corpo na hora de dormir à noite e ao acordar de manhã. Ajeitar repetidamente. Confira! Espero que goste e contribua de alguma forma com você. 


AÇÕES REPETITIVAS: DO AJEITAR O TAPETE AO AJEITAR O LENÇOL

Naquela manhã, ela estava em frente à televisão em seus programas religiosos de todos os dias. Mas nada atenta a eles. Mantinha-se cabisbaixa. Desolada. Em total alheamento, deslizava continuamente a ponta da bengala no tapete sob seus pés. Uma ação que se repetia diuturnamente sempre que se mantinha sentada naquele lugar.

Dali a pouco, aquela ação se repetia com o tapete do banheiro de seu quarto. Ao passar por ele, lá se detinha de pé apoiada na porta. A cabeça declinada. O olhar fixo no chão. Embaixo, o deslizar repetitivo da ponta da bengala no tapete.  Com a mesma expressão desolada. Num silêncio de dá dó. Então eu intervinha. “Vamos, mãe, vamos. Deixe aí que eu ajeito.” Dizia eu para a tirar do seu alheamento.

Então recolhi os tapetes, embora sabendo que não eram o problema. Eram aderentes e não estavam fora de lugar. Era apenas o início de alguns transtornos que a acometiam e pelos quais passaríamos com ela em nossas ações de cuidados. Àquelas ações se somariam outras de evolução igualmente progressiva.

Numa determinada noite, observei nela outro comportamento estranho ao se deitar para dormir. Sentada à borda da cama, o seu fazer habitual se destinava às orações para em seguida se acomodar ao seu sono santo. Depois de deitada, eu concluía os ajustes finais com o apagar da luz. Naquela noite, porém, permaneceu continuamente ajeitando o lençol sobre a cama por um tempo que me chamou atenção de tão longo.

Nos dias seguintes, aquela ação se repetia. Desenvolvia a mania de arrumar incessantemente o lençol sobre a cama. Passava muito tempo alisando as bordas do lençol à procura do lado direito, acreditando estar pelo avesso. Ao tentar ajudá-la, não aceitava, dizendo que eu não sabia. Então eu só a observava naquela ação repetitiva depois de suas orações habituais. Alisava sem pressa as bordas do lençol e o dobrava e redobrava sucessivas vezes tentando a todo custo igualar as pontas uma à outra.  Repetidamente. Eu já nem tentava intervir, pois ela recusava aborrecida a minha ajuda.

Até então minha mãe era autônoma no seu preparar-se para dormir. Por isso, todas as noites eu apenas a acompanhava no seu preparo e a aguardava se deitar para poder apagar a luz. Assim eu me habituara a fazer desde que assumira os cuidados com ela. Mas então começaram aqueles transtornos e o seu acomodar-se para dormir retardava cada vez mais. Tanto que naquela noite, naquela espera, quem dormiu fui eu. Sem ver o final daquele arrumar sem fim. Ao acordar à alta hora, ela dormia declinada na lateral da cama. Descomposta. As pernas dependuradas. Sinal claro de que o sono a vencera sem que finalizasse aquela ação.

Então a acomodei à cama pela primeira vez. A primeira de sucessivas vezes, porque dali em diante ela não mais retomou às suas ações. A evolução progressiva daqueles transtornos a levaria à total perda de autonomia. Ela não conseguiria mais ajeitar o travesseiro, a vestir sua roupa, a encontrar seu próprio jeito de se acomodar na cama para dormir. Algo progredia nela comprometendo a sua saúde, mas só depois é que saberíamos: era o Alzheimer encontrando o seu caminho em nossa vida.

Comportamento semelhante àquele da noite se repetia pela manhã no seu acordar. Também de forma progressiva. Inicialmente, as orações matinais se tornaram mais longas. Ela permanecia mais tempo sentada à borda da cama. Também em torno do lençol. Mas dali a pouco já não se viam orações. Somente o colocar do lençol na cabeça em forma de véu. Num ajeitar repetitivo. Os mesmos movimentos iam e vinham sobre o lençol num ajeitar sem fim e no mais completo silêncio. Negava veementemente a minha ajuda. Dizia que tinha que ser daquele jeito.

 Naquela manhã, minha irmã chegou e me encontrou atrasada nos primeiros cuidados com a nossa mãe. Nós havíamos nos dividido nos cuidados da manhã. Nas primeiras horas, eu lhe daria a primeira refeição e as primeiras medicações. Ao chegar um pouco mais tarde, minha irmã lhe daria o banho e seguiria com os demais cuidados até o início da tarde ao finalizar seu expediente. Então eu os retomaria até o dia seguinte. Essa ordem, no entanto, alterava-se cada vez mais com as alterações no comportamento de nossa mãe.

Era o que ocorria naquele instante. Ao adentrar o quarto, minha irmã nos encontrou em frente do espelho. Nossa mãe de pé com o lençol sobre a cabeça em forma de manto. Ao seu lado, eu a observava em seus movimentos repetitivos iniciados ainda na borda da cama ao acordar. Dali passara para o espelho, onde se mantinha irredutível num alisar repetitivo das pontas do lençol sobre o corpo como se fosse um véu. O silêncio era tudo o que se ouvia dela.

Mas também observávamos certa rispidez em seu olhar e em sua fala ao reagir às nossas tentativas de ajudar. Uma agressividade crescente à medida que eu e minha irmã tentávamos tirá-la daquela situação. Nas suas recusas, eram comuns expressões do tipo: “me deixem, vocês não sabem, vão cuidar das coisas de vocês, me deixem terminar... Oh, meu Deus! Oh, meu Pai eterno!...” Assim seguia com suas exclamações. Bastante irritada por não aceitar ser contrariada.

Em tais condições, nossa rotina estava fora do lugar. Principalmente, a de cuidados. Bastante alterada. A demora de sair daquele delírio matinal retardava a sua primeira refeição e as primeiras medicações. Também o banho da manhã. Tudo cada vez mais tarde. Inclusive porque cada ação dela era carregada de prolongamentos. Ações que se alongavam além do tempo necessário e fugiam cada vez mais do nosso controle.

É o que veremos no conteúdo seguinte em relação ao seu caminhar pela casa em oração e louvores. Já não era o lençol sobre a cama nem sobre a cabeça. Mas sua religiosidade se manifestando com muita força em suas ações, que se tornavam cada vez mais incompreensíveis para nós. Confira na seção seguinte. 


CONCLUINDO...

Minha mãe com essas alterações todas em seu comportamento, mas nem de longe suspeitei que seriam indicativos de Alzheimer. Nem minha irmã. Nem ninguém entre nós. Ela não revelava perda de memória, esse conhecimento geralmente mais disseminado sobre a doença. Também não revelava o comportamento de sair de casa a ermo como eu vira se manifestar numa amiga dela. Essa amiga ficara um bom tempo sob vigília da família. Mesmo assim, de vez em quando escapava e ganhava a rua à procura da casa de amigas de outros tempos. Enfim, essa amiga com Alzheimer havia manifestado comportamentos que não verificávamos em nossa mãe.

Então as alterações de seu comportamento muito nos confundiam. Chegamos a pensar que seria outra espécie de “caduquice” diferente do Alzheimer. Mas só com o surgimento de novos comportamentos estranhos foi que atentamos para a gravidade da situação e procuramos ajuda médica. No entanto, mesmo com a medicação prescrita, não conseguimos administrá-la devido à sua negação e à falta de habilidade de nossa parte em lidar com a situação. Havíamos perdido o controle sobre ela. Estava realmente em surto e em meio a suas andanças pela casa ela caiu. Da urgência hospitalar, ela retornou devidamente medicada e controlada. Somente então assumimos o controle sobre ela e retomamos nossa rotina de cuidados.

Para saber mais sobre essa história de cuidados com amor, clique aqui.

A você, os meus agradecimentos.

Deus esteja com você!

Sônia Ferreira

Teresina, 07 de maio de 2021.

Você terminou de conhecer o primeiro conteúdo do Caminho Cuidados com Amor.

Espero que tenha gostado e acompanhe os conteúdos da sequência.


Imagem com a gata Felina convidando leitores e leitoras para se inscreverem no blog A Doideragem e o seguir.
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