VISITAS DOMICILIARES PELO PROJETO COMCARINHO CUIDADOS COM A PESSOA IDOSA
INTRODUÇÃO
Esse fato tornava o ComCarinho um projeto ambicioso demais,
grande demais precisamente porque requisitava bastante investimento na sensibilização
de pessoas para compor a rede de apoio e colaboração. Necessitava
principalmente de voluntários e voluntárias para as visitas domiciliares.
A questão era como conseguir adesões a algo tão novo quando eu própria não
conhecia seus caminhos.
Então decidi iniciar a implementação comigo mesma adentrando a
execução de uma das ações. Sozinha eu o iniciaria com as visitas
domiciliares. Acreditava que no processo seria menos dispendioso conseguir as
adesões necessárias para prosseguir. Seria
também uma forma de eu testar os procedimentos idealizados para as ações junto
às pessoas idosas beneficiárias. Afinal, nem sempre o que se idealiza coincide
com a realidade para a qual projetamos o nosso ideal.
Então selecionei em minha região de morada quatro senhoras idosas
cujas condições de saúde e reclusão social me sugeriam aptas às visitas
domiciliares. Seria uma forma de eu adentrar o universo de execução das
ações para o conhecer melhor. Inclusive, experimentar os instrumentos de
trabalho pensados para aquele fim.
Com essas predisposições, realizei as primeiras visitas com o fim
de consulta e aceite de familiares. Duas das três idosas eram meio dependentes,
uma das quais devido ao Alzheimer. Viviam sob os cuidados e a responsabilidade de
filhas, que aceitaram a proposta sem titubear. As outras duas preservavam a
autonomia. Então elas mesmas aceitaram as visitas demonstrando certa satisfação.
Na sequência deste conteúdo, relato essas visitas e os
aprendizados gerados. Visitas que de um lado se traduziam em momentos de
satisfação e bem-estar não apenas para as pessoas beneficiárias, mas igualmente
para mim como visitadora. Também como pessoa.
Por outro lado, visitas que se revelavam verdadeiras sessões de escuta,
quando não raras vezes deixei de lado o meu propósito para ouvir queixumes. Era
quando percebia o quanto que o silêncio guardado por uma pessoa idosa sabe
encontrar escaninhos para se fazer ouvir. Então eu me virava num escaninho
somente para ouvir. Acompanhe!
A SENHORA XIS
Era fim de tarde quando cheguei à casa da senhora Xis. Ela estava
na calçada na companhia de filhos e netos. Sentada no mesmo local onde eu
costumava vê-la sempre que passava naquela rua àquela hora. Antes mesmo de a
conhecer eu já sabia daquele seu hábito de fim de tarde. Então um dia nos conhecemos por meio dos
encontros missionários da paróquia local. Fazia pouco tempo. Pelos encontros, eu
passara a visitá-la periodicamente em sua casa. Sempre levava temas religiosos em
observância à ação missionária.
Mas aquele, porém, era o meu primeiro encontro pelo projeto. Era a
visita de sondagem. A visita na qual apresentamos o projeto, detalhamos suas
ações e consultamos a pessoa se ela gostaria de participar. Mas principalmente,
a visita que a despeito da consulta percebemos o grau de interesse da pessoa em
se integrar à ação proposta. Era o que eu pretendia naquele encontro.
Então a senhora Xis me recebeu com a mesma serenidade habitual. Uma
serenidade que aprendi a ver como cautela polida. A cautela que não se mostra
na retração. Mas que se evidencia na elegância de um sorriso que não se abre antes
que se diga ao que se veio. A cautela que busca no olhar do outro o que suas
palavras ainda não disseram. Assim era a senhora Xis aos meus olhos. Elegante
no saber ouvir. Polida no saber falar. Cautelosa no entremeio. Era sempre uma
satisfação conversar com ela pelo muito que eu aprendia com o seu jeito de
falar e de ouvir.
Então ela me ouviu a todos olhos. Atenta como sempre. Até parecia
que seus ouvidos não eram suficientes para captar o que eu falava. O olhar
aguçado lhes complementava com o brilho que somente o interesse explicava. Eu
lhe falava do projeto ComCarinho, uma iniciativa pessoal sem ligação com
a ação missionária. Explicava como seriam as visitas domiciliares, o que
elas propunham. No final, a pergunta que não poderia faltar: a senhora gostaria
de ser visitada?
Então a vi declinar a cabeça rumo à calçada. Seu olhar vagueando
como a buscar uma resposta que não lhe estava pronta. Somente então perguntou se
eram muitas as pessoas a realizar as visitas. Então eu a tranquilizei,
afirmando que seria somente eu a visitante. Pelo menos naqueles encontros
iniciais. Explicou que sua preocupação com o número de pessoas decorria do seu
constrangimento quando sua casa fora selecionada para um evento da comunidade.
Informaram-lhe que seria poucas pessoas, que ela não se preocupasse, pois
organizariam tudo. No dia, nada teriam organizado e ela se sentira muito
constrangida com o fato.
Mais uma vez ela manifestava sua preocupação com a quantidade de
pessoas em sua casa. Noutras ocasiões, já me revelara não se sentir bem ao
receber muitas pessoas. Referia-se aos cuidados com o marido e ao fato de não dispor
de pessoas que se responsabilizem com os preparativos da casa para poder
receber. Eu já era ciente desse seu receio. Através da missão missionária, ela
o revelava sempre que eu propunha um encontro em sua casa.
Este conteúdo está incompleto. Aguarde por gentileza a continuação na próxima postagem.
A você, meus agradecimentos!
A Paz esteja com você!
Sônia Ferreira
Teresina, 29 de outubro de 2021.
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