sábado, 31 de julho de 2021

Era o Alzheimer em minha mãe: das ações repetitivas ao surto psicótico

 

Imagem com a gata Felina apresentando o conteúdo "Era o Alzheimer em minha mãe: das ações repetitivas ao surto psicótico".
Os transtornos já não eram ações repetitivas, mas falta das referências, dos rumos, da vida e muita
confusão mental. O que parecia um surto psicótico era o Alzheimer avançando em minha mãe.
Esse é o relato deste conteúdo. Veja!

ERA O ALZHEIMER EM MINHA MÃE

DAS AÇÕES REPETITIVAS AO SURTO PSICÓTICO


INTRODUÇÃO

O comportamento de minha mãe estava alterado há mais de um mês. O que havia se iniciado com ações repetitivas em meio a um quadro depressivo continuava avançando de forma mais acentuada. No início, os transtornos ocorriam pela manhã e à noite. Mas por se prolongarem cada vez mais, já tomavam quase o dia todo.

Devido à ausência de lucidez por longo tempo, sua higiene e alimentação estava cada vez mais fora de hora. Foi quando consultamos um geriatra. Embora diagnosticada com Alzheimer, não conseguíamos administrar a medicação devido à sua recusa a qualquer alimento, a qualquer intervenção nossa.

A cada dia parecia que a doença avançava um pouco mais. Naquela manhã ela estava bastante desorientada. Parecia ter perdido as referências e falava coisas incompreensíveis para nós, eu e minha irmã, que apenas a assistíamos a pouca distância.  Esse é o relato deste conteúdo. Descrevo a angústia de minha mãe ao perceber sua vida perdendo significados e não compreender a razão daquilo tudo que lhe acometia. 


O ALZHEIMER EM MEIO A ANGÚSTIA E SOFRIMENTO

Oh, meu Deus!... Oh, meu Pai Eterno!... Oh, minha Nossa Senhora!... Exclamações como essas se tornaram bastante frequentes na fala de minha mãe frente aos primeiros sinais do Alzheimer. Era a sua lucidez, a sua consciência da gravidade de um problema que ela não entendia. Nem nós que a acompanhávamos de perto.   

Mas também era a sua angústia, sofrimento e desconforto diante da desaprendizagem de ações tão corriqueiras que ela não mais dava conta. Afazeres de todos os dias, como o se levantar da cama, da cadeira, o trocar de roupa. Nada disso ela sabia mais. Eram ações que se tornaram grandes demais para ela porque já não sabia como fazer. Havia desaprendido muita coisa.

Naquele momento apenas percebíamos que a vida perdia significados para ela. Tudo parecia fora de lugar na vida dela. Às vezes, seu olhar vagante e inquisidor nos mostrava sua mente repleta de vazios, o que a deixava sem rumo e sem saber o que fazer e o que dizer. O silêncio a dominava. Noutras vezes, sua fala se exaltava entre balbucios e frases entrecortadas. Era como se tateasse num emaranhado de cenas confusas, intermitentes. Cenas que pareciam revelar uma realidade outra pronta a se manifestar, mas sem um lugar próprio que lhe desse forma.

Entre o seu silêncio e a sua voz titubeante, o que saltava aos nossos olhos era um mundo que parecia às vezes imaginário, enigmático, preso ao passado; às vezes real, presente, muito oscilante inclusive. Seria esse o mundo do Alzheimer? Fosse ou não, e em quaisquer dos casos, era para ela um mundo de intensa religiosidade; por isso, os constantes evocares a Deus, Nossa Senhora, nosso Senhor Jesus Cristo.

Mas um mundo que não se revelava por completo e que às vezes a fazia demonstrar certa agressividade ao nos tentar explicar as razões de suas ações tão incompreensíveis e perturbadoras para nós. Mas era um explicar com frases inacabadas, mal formuladas, sem sentido, sempre acompanhadas de uma expressão grave no rosto e no olhar.

Uma expressão que denotava a sua preocupação e busca de respostas ao problema que a acometia e que ela própria não compreendia. Mas evidenciava também resignação e desolação por não se fazer compreender. Então silenciava com um menear de boca e de cabeça e um olhar voltado para o chão frente ao seu desapontamento. 


O ALZHEIMER ENTRE CONFUSÃO MENTAL E DESORIENTAÇÃO ESPACIAL

Suas explicações apenas reforçavam o que já nos era visível: a sua confusão mental com certa desorientação espacial. Seu olhar vagante e inquisidor para o teto, para as paredes e para o lá fora tentando reconhecer a casa pelo olhar. Um olhar que se estendia do chão ao teto, de um lado a outro da sala, percorrendo cantos, paredes e móveis com olhar interrogativo. Então víamos que a casa se tornara estranha para ela. Tocava móveis e sobre eles deslizava suas mãos como se os visse pela primeira vez. Olhava a área de suas leituras bíblicas outrora tão comum nos finais da tarde como se a não reconhecesse.

Toda a casa lhe parecia estranha. Tanto que às vezes quando a conduzíamos de um lugar a outro, era comum ela perguntar um tanto desconcertada: “E agora, para onde eu vou?...”. Afirmava assim a sua falta de orientação e de saberes outrora tão familiares. A mesma desorientação observávamos diante de outras situações também tão triviais do dia a dia, como o passar de uma cadeira a outra, estando ambas lado a lado. Já não sabia passar da cadeira de descanso para a cadeira ao lado onde comumente fazia suas refeições. Um itinerário que se tornara desconhecido para ela.

Noutras vezes, exclamava: “oh, meu Deus, já não sei nem mais o que estou fazendo...”. Então nos mostrava a sua lucidez, momentos que se tornavam cada vez mais raros. Mas também momentos intensamente dolorosos para nós. Imaginemos então para ela.

Apesar de sabermos se tratar do Alzheimer, eram situações cheias de incógnitas para nós. As respostas se afirmavam, mas inicialmente não satisfatórias devido a interpretações equivocadas dos sinais apresentados. Equivocadas para nós que a acompanhávamos. O caso que conhecíamos não apresentava situações como as que nossa mãe vivenciava.

Mas foi a busca de novas respostas que nos levou a uma compreensão mais precisa naquele momento: era realmente o Alzheimer se instalando. Ainda em fase inicial, mas já o suficiente para nos mostrar o quanto que a nossa mãe já se distanciava da vida. Ao vê-la naquela situação, acreditei que a vida teria acabado para ela. Eu não sabia o quanto que Deus estava conosco. E por sua graça, logo ele me mostraria que eu estava errada.

Até aquele momento, ainda tínhamos muito o que aprender. Mas uma coisa eu já observava. A literatura a respeito da doença era bastante incipiente, restrita à descrição de sinais característicos. Sinais quase sempre associados à perda da memória relacionada a fatos, como se esse fato fosse o dano mais relevante da doença. Depois de ter vivenciado a doença no dia a dia de cuidados, vi que não. 


CONCLUINDO...

Esse foi o início do período mais crítico do Alzheimer em minha mãe. No próximo conteúdo, relatarei momentos de extrema dor para ela e para nós antes que a conseguíssemos medicar. Os momentos de suas andanças que a levavam sempre para áreas externas da casa como se fosse a algum lugar, mas não sabia onde e parava aflita. Os momentos de suas angústias extremas que a faziam pedir a Nossa Senhora que a livrasse daquele desespero. A maior dor para mim. Imagine então para ela. Imagine! 

Veja o conteúdo anterior: Transtornos com ações repetitivas: seria o Alzheimer?

A você, meus agradecimentos!

Deus esteja com você!

Sônia Ferreira

Teresina, 31 de julho de 2021.

 

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