sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Picasso, o gatinho companheiro

 

Imagem com a gata Maria Atena apresentando o conteúdo "Picasso, o gatinho companheiro".
Esta é mais uma história de gatos para nós que gostamos de gatos. Dessa vez é a história do Picasso.
Mais um gatinho companheiro que um dia me revelou seu lado pai. Conheça!

PICASSO, O GATINHO COMPANHEIRO

 

PICASSO E LINDA MENINA

Fazia um bom tempo que eu havia perdido Pocôto, nosso gatinho guardião. Sua partida fizera meu coração se revirar na dor. Assim como a despedida de Pocota um ano antes da dele. Foram duas dores que me fizeram prometer a mim mesma não mais querer saber dessas criaturinhas tão boas de se ter. Tão boas de se afagar, de se brincar e de se alegrar. E de prender os nossos olhos por horas a fio como se não houvesse mais nada para se vê no mundo. Mas também tão boas de deixar nossos sentimentos tão pesarosos quando se vão. Tanto quanto estavam os meus.

Mas então chegou 2013 e eis que a partir daí me vi novamente às voltas com cães e gatos. Novas histórias recomeçadas com Picasso. Um gato púbere que adentrara a nossa casa furtivamente numa certa noite à primeira hora.  Estávamos naquele jogando conversa fora quando ele chegou de mansinho. Tão de mansinho que por mim teria adentrado a casa à revelia de meus olhos. Só depois é que eu o viria lá dentro. Então lhe mostraria o caminho de volta. A volta para a rua. De mansinho também. Só que na mansidão de um raio. Manteria então a minha promessa de não mais querer saber de peludos e peludinhas. Porque eram sempre tão fofinhos!...

Mas Picasso caiu primeiro nos olhos de minha irmã que o aceitou com graça e simpatia. A despeito de mim que o queria ver pelas costas e correndo. Na mansidão de um raio, como eu disse. Mas ela o acolhera com satisfação e encantamento. Cheia de dengos e mimos. Apesar da minha vontade contrária. Mesmo contrariada, não criei caso. Embora sabendo que ela não cuidaria dele. Logo suas férias terminariam e ela retornaria para a sua cidade. Ainda assim prevaleceu a vontade dela. Picasso ficaria conosco e teria seu abrigo garantido. Eu não via razões suficientes para não o querer em nossa casa. Ela via.

Mas o meu não querer foi de vida muito curta. Não demorei muito a cair nas graças de Picasso. Afinal, sou conquista fácil aos olhos de um gato. Tanto quanto aos de uma gata. Então com ele não foi diferente. Sua meiguice e companheirismo me encantavam. Era meigo por demais e logo se instalou em meu coração.

Picasso ganhou então não apenas um lugar em nossa casa. Ele se tornou a atração principal. A presença dele estava por todos os lugares. Pelos quatro cantos da casa, como dizia minha mãe. Igualmente encantada com ele. Ela ganhava outra companhia sempre a seu lado. Ele parecia sentir essa necessidade dela. Então sempre dava um jeito de estar com ela. Dormindo, principalmente. Mas ao seu lado.

Mas a tranquilidade de Picasso logo foi abalada com a chegada de Linda Menina. Uma linda cachorrinha vira-lata que por força das circunstâncias também conseguiu abrigo em nossa casa. As circunstâncias de não ter encontrado alguém que a adotasse. De ter nascido fêmea e vira-lata sem caracteres de raça prestigiada aos olhos de adotantes. De ter nascido no quintal da nossa casa por eu ter abrigado sua mãe dona Bela e seus filhotes logo que nasceram. Dona Bela era uma linda felina de rua que escolhera as escavações de uma construção para trazer ao mundo os seus filhotes. Seis criaturinhas lindas! Coisas mais fofas de se vê como aquelas há muito não aparecia na minha redondeza. Linda Menina fora a única não adotada. Quis a sorte dela que ela ficasse em nossa casa. Assim foi.

Linda Menina tirava o sossego de Picasso. Ele já não conseguia o seu cantinho com a tranquilidade de antes. Tornou-se um perseguido dentro de casa e pelo quintal afora. Tornara-se a atração principal de Linda Menina, que o procurava por todos os cantos ao sentir sua falta. Onde estava Picasso, lá estava Linda Menina latindo. Queria saber dele só para latir. No seu entorno ou na sua perseguição. Era comum vê-lo adentrar a casa todo espavorido e logo subir seja no que fosse. No seu encalço, Linda Menina. Afoita! Os latidos dela com Picasso se tornavam cada vez mais insustentáveis. Não apenas para ele. Coitado! Também para nós de ouvidos tão humanos. A simples presença de Picasso em quaisquer lugares onde estivesse era motivo daqueles latidos intermináveis e perturbadores.

Imagem com o gatinho Picasso deitado numa cadeira e a cachorrinha Linda Menina num jardim.
Gatinho Picasso e Cachorrinha Linda Menina:
entre os latidos de uma e o desassossego do outro
 

Mas com o passar do tempo, Picasso parecia ter se acostumado com Linda Menina. Aprendera a se esconder e a fugir do seu alcance. Até sem lhe revidar de algum modo. Aprendera a viver nas alturas entre móveis na sala e galhos no quintal.  Acomodado em algum lugar, já não se incomodava com a presença dela nem com seus latidos. Aprendera os seus hábitos, inclusive os horários de suas sonecas, quando a quietude lhe dominava. Afinal, ela também dormia e descansava. Em tais horários, ele aproveitava a liberdade do seu ir e vir. Então eu o via em algumas voltinhas, inclusive numas olhadinhas furtivas em Linda Menina em sua soneca. De longe, com o pescoço espichado.

Mas esses eram apenas um momento entre uma latida e outra. Entre o sossego e a perturbação da ordem que já nos incomodava por demais. Linda Menina não dava trégua com seus latidos. Violava demais as regras do nosso desejo de silêncio. Era imperativo então que eu resolvesse a situação. Não tanto por Picasso, pois ela já não atentava contra a segurança dele. Mas por nossos tímpanos cada vez mais desenquadrados.  Então não houve outro jeito senão tirar Picasso das vistas de Linda Menina.

Imagem com a cachorrinha Linda Menina de boca aberta latindo e olhos arregalados.
Linda Menina: isolada do convívio dentro de casa por latir demais.

Ela foi enclausurada nos entremuros do ar livre. Isolada do nosso convívio dentro de casa. Passou então a viver a maior parte do tempo presa a uma corrente lá num reservado do quintal. Lá fora. Com isso, a ordem se restabeleceu. Picasso pode retomar a sua vida com a tranquilidade requerida. Nossos ouvidos voltaram a ouvir o grito do silêncio. Era a paz retomando o seu lugar em nossa casa.

PICASSO E SMILY

Picasso não era castrado. Talvez por isso fosse um andarilho nas horas que ele sabia. Sempre dava umas voltinhas quando caía a noite. Mas nas manhãs e à tarde não nos fazia falta. Era sempre presença garantida junto a minha mãe. Também junto a mim. Com ela, era seu companheiro nas sonecas. O melhor lugar para dormir era próximo a ela. Ao lado dos seus assentos de descanso e até em seu colo.

Comigo ele era a minha perturbação mais sublime. A mais satisfeita desordem de minhas coisas à minha volta. Tornava minha mesa de estudos menos árida. Meu peito se abria em sorrisos quando ele chegava cheirando, mexendo e remexendo as coisas sobre a mesa. Sempre encontrava algo para colocar no seu devido lugar. Mas entre um cheiro e outro, um mexe aqui e acolá, o que ele buscava mesmo era um lugar para se acomodar e quem saber tirar a soneca que ele sabia tão bem. Seu jeito meigo de ser me desarmava sempre que eu o tentava tirar daquelas perturbações que tanto me aquietavam. Então eu mesma o acomodava de alguma forma.

Assim os dias se passavam em nossa casa. Com Picasso e suas meiguices entre minhas tarefas da casa, uma leitura e outra e a atenção com minha mãe. Até que certo dia ele me surpreendeu com um comportamento bastante inusitado para mim. Aliás, para um gato. Um jeito felino que eu não conhecia. Mas também! O que eu tanto conhecia de gato?! Ele convidando uma gatinha para se alimentar no pratinho dele.

Naquele dia, a noite acabara de cair. Minha mãe em frente à televisão como sempre. Eu numa mesa ao lado entre leituras e escritas no computador. Como sempre! De lá vi Picasso adentrando a sala e rumando direto para seu pratinho de ração na sala ao lado. Mas observei estranhamente que ele não comia. Seu interesse estava para além da porta por onde ele havia entrado e se podia ver o lá fora. Foi o que me chamou atenção. Ele alternava o olhar insistentemente entre o lá fora e o pratinho de ração. Então em vez de comer ele saiu, mas logo voltou e novamente se postou no prato de ração. Mas novamente o seu olhar indo e voltando, entre o lá fora e o alimento. Saiu novamente.

Intrigada com aquele comportamento, resolvi sair no seu encalço. O que ele tanto via lá fora? Parei na porta e ali mesmo entendi a razão. Um pouco mais adiante próximo ao portão Picasso “conversava” com uma gatinha de cores iguais às suas: preto e branco. Seria sua filha? Apostei que sim. Então não foi difícil entender que ele a convidava para jantar. Também entender que há gatos que se preocupam com sua prole. Há gatos que sabem o que é ser pai. Picasso com certeza era um desses. O pai felino agindo na proteção da filha. Oferecendo o seu próprio alimento para lhe aplacar a fome. A essa altura a minha imaginação já corria solta nas alturas. Ele convidando a filhota: “vamos, lá em casa tem comida”. Uma tentativa de livrar a filha do sofrimento das ruas. Mais ainda: de lhe dá uma vida melhor.

Aquela cena realmente me comovia. Mas apesar do sentimentalismo que ela me despertava, não era de meu interesse acomodar mais um gato em casa. Picasso já ocupava o único lugar disponível. Sem contar que era espaçoso por demais. Então logo cuidei de me livrar da intrusa. E nem foi difícil. Bastaram umas duas passadas além da porta para logo a bichana sair correndo e ganhar a calçada vizinha. Picasso saiu no seu encalço. Lógico! Afinal, qual o pai que não vai atrás da filha ao vê-la fugindo sem proteção? Ainda mais sabendo que ela está com fome? Se ele não tivesse ido, eu mesma lhe teria passado um corretivo.

Mas eu estava apenas enganada se acreditava que a situação havia se resolvido na carreira da bichana. Pouco tempo depois, eis que Picasso retornou com a dita cuja e prosseguiu na mesma tentativa de fazê-la abocanhar a ração dele. Da mesa onde eu estava, eu a observava se aproximando da porta, sem dúvida com muita vontade de entrar; mas minha presença a inibia. Picasso não se continha na inquietação. Entrava e saía. Ia ao seu encontro na tentativa de convencê-la. Então resolvi ajudá-lo. Saí da sala para permitir a entrada da filhota.

Nos dias que se seguiram, aquela cena se repetiu de forma muito semelhante. Picasso chegava sempre acompanhado da pequena filhota. Ao cair da noite eu os via rondando por ali. Lá fora. Eu já reservava para ela um punhado de ração. Também lá fora. Não a permitia dentro de casa. Talvez fosse uma dor para ele saber que eu não a queria.

Mas a pequena filhota de Picasso demonstrou muita perseverança no seu afã de permanecer em nossa casa. E terminou ficando. Mas até se instalar de vez, foi muito sofrimento. Coitada! O desfecho dessa história você poderá acompanhar no conteúdo “Smily, minha gatinha mais que sapeca!”. Em breve! Por enquanto, veja como foram os últimos dias de Picasso.

O ADEUS DE PICASSO

Picasso estava feliz na companhia de sua filhota em casa. Talvez pela primeira vez tivesse uma companheira com quem pudesse brincar. Brincar como brincam os gatos e as gatas. Com mordidas e agarras-agarras, corridas e quedas entre quatro patas e rolagens pelo chão. Talvez jamais tivesse experimentado brincadeiras tão prazerosas como aquelas. Certamente sensações tão boas para felinos e felinas. Não pelo tempo em que estivera em nossa casa. Um tempo não tão longo assim. Coisa de um ano e meio mais ou menos.

 Certo dia, constatamos com tristeza a brevidade de sua vida. Naquela manhã, ele não cobrou sua ração matinal. Ele era sempre o primeiro a ser servido. Antes mesmo de eu iniciar os cuidados diários com a minha mãe. Servi-lo sempre antes era uma forma de o manter afastado durante as refeições dela. Mas naquela manhã ele não veio até mim. Apesar de ter dormido dentro de casa.  Mas numa procura rápida logo o encontrei. Seu corpinho estendido no banheiro. Sem um sinal de vida sequer. Para minha surpresa e tristeza maior. Ele havia nos dito adeus no silêncio daquela noite.

Picasso parecia bastante saudável. Mas nos últimos meses seu comportamento revelara que nem tudo estava bem com ele. Eu já o havia visto algumas vezes numa posição incomum. Agachado demoradamente se espremendo como se estivesse constipado. Eu supunha dificuldade de urinar ou defecar. Mas sempre em lugares não habituais. Ao observar, um líquido meio espesso. Mas era algo que se manifestava em determinados períodos e passava. Então eu o associava também a seu cio. Apesar daquelas manifestações, ele se alimentava bem e não revelava outros agravos. Então eu não imaginava que fosse tão sério.

Imagem com o gatinho Picasso agachado sobre sobras de material de construção.
Gatinho Picasso pedindo o socorro que eu não soube ouvir.

Ele estava num desses momentos. No dia anterior eu o havia visto naquela posição. Mas como parecia saudável, não atribuí gravidade alguma à situação. Por essa razão sua morte repentina me causara tanta surpresa. Mas foi inevitável a culpa por não lhe ter dispensado a atenção devida. A perda de um ente querido é sempre muito dolorida. Mesmo em se tratando de um gato. Mais ainda quando acompanhada de um sentimento de negligência. Foi essa a dor que Picasso me ensinou a sentir naquele momento. Por toda a sua vida.

Mas ele havia preparado a sua despedida. Já nos havia dado a sua filhota. Providenciara o nosso consolo uns três meses antes. 

Imagem com a gatinha Smily deitada num guarda-chuva e o gatinho Picasso deitado ao lado.
Smily e Picasso: gata-filha e gato-pai no parentesco felino

Smily era o seu nome. Smily Smilinguida da Silva Picasso. A gatinha que naquela noite chegou à nossa casa na companhia dele, como visto na seção anterior e cuja história será contada oportunamente.

Inclusive, convido você a continuar acompanhando as histórias que trarei. Se você leu até aqui é porque gosta de história de gatos. E se gosta é porque os ama. Como eu. Então você está no lugar certo. Tenho muitas histórias para contar. Será que é por que eu tenho muitos gatos? Com certeza. E já tive muito mais. E cada um com sua história. Cada qual mais interessante do que a outra. Você terá a oportunidade de conferir. É só continuar neste caminho Minha Família Bichanada. Obrigada, por sua atenção! Deixe o seu comentário. Terei o maior prazer em dialogar com você. Diálogos felinos. Até o próximo conteúdo.

A você, meus agradecimentos!

Deus esteja com você!

Sônia Ferreira

Teresina, 13 de agosto de 2021.

Você terminou de conhecer o quarto conteúdo do caminho Minha Família Bichanada.

Mais uma história do tipo história de cães e gatos.

Espero que tenha gostado e acompanhe os conteúdos da sequência.

Imagem com a gata Maria Atena convidando leitores e leitoras para seguirem o blog.
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Com Maria Atena, a gatinha-guia dos conteúdos deste caminho Minha Família Bichanada.


 

 

 

 

 

 

 


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