sábado, 31 de julho de 2021

Era o Alzheimer em minha mãe: das ações repetitivas ao surto psicótico

 

Imagem com a gata Felina apresentando o conteúdo "Era o Alzheimer em minha mãe: das ações repetitivas ao surto psicótico".
Os transtornos já não eram ações repetitivas, mas falta das referências, dos rumos, da vida e muita
confusão mental. O que parecia um surto psicótico era o Alzheimer avançando em minha mãe.
Esse é o relato deste conteúdo. Veja!

ERA O ALZHEIMER EM MINHA MÃE

DAS AÇÕES REPETITIVAS AO SURTO PSICÓTICO


INTRODUÇÃO

O comportamento de minha mãe estava alterado há mais de um mês. O que havia se iniciado com ações repetitivas em meio a um quadro depressivo continuava avançando de forma mais acentuada. No início, os transtornos ocorriam pela manhã e à noite. Mas por se prolongarem cada vez mais, já tomavam quase o dia todo.

Devido à ausência de lucidez por longo tempo, sua higiene e alimentação estava cada vez mais fora de hora. Foi quando consultamos um geriatra. Embora diagnosticada com Alzheimer, não conseguíamos administrar a medicação devido à sua recusa a qualquer alimento, a qualquer intervenção nossa.

A cada dia parecia que a doença avançava um pouco mais. Naquela manhã ela estava bastante desorientada. Parecia ter perdido as referências e falava coisas incompreensíveis para nós, eu e minha irmã, que apenas a assistíamos a pouca distância.  Esse é o relato deste conteúdo. Descrevo a angústia de minha mãe ao perceber sua vida perdendo significados e não compreender a razão daquilo tudo que lhe acometia. 


O ALZHEIMER EM MEIO A ANGÚSTIA E SOFRIMENTO

Oh, meu Deus!... Oh, meu Pai Eterno!... Oh, minha Nossa Senhora!... Exclamações como essas se tornaram bastante frequentes na fala de minha mãe frente aos primeiros sinais do Alzheimer. Era a sua lucidez, a sua consciência da gravidade de um problema que ela não entendia. Nem nós que a acompanhávamos de perto.   

Mas também era a sua angústia, sofrimento e desconforto diante da desaprendizagem de ações tão corriqueiras que ela não mais dava conta. Afazeres de todos os dias, como o se levantar da cama, da cadeira, o trocar de roupa. Nada disso ela sabia mais. Eram ações que se tornaram grandes demais para ela porque já não sabia como fazer. Havia desaprendido muita coisa.

Naquele momento apenas percebíamos que a vida perdia significados para ela. Tudo parecia fora de lugar na vida dela. Às vezes, seu olhar vagante e inquisidor nos mostrava sua mente repleta de vazios, o que a deixava sem rumo e sem saber o que fazer e o que dizer. O silêncio a dominava. Noutras vezes, sua fala se exaltava entre balbucios e frases entrecortadas. Era como se tateasse num emaranhado de cenas confusas, intermitentes. Cenas que pareciam revelar uma realidade outra pronta a se manifestar, mas sem um lugar próprio que lhe desse forma.

Entre o seu silêncio e a sua voz titubeante, o que saltava aos nossos olhos era um mundo que parecia às vezes imaginário, enigmático, preso ao passado; às vezes real, presente, muito oscilante inclusive. Seria esse o mundo do Alzheimer? Fosse ou não, e em quaisquer dos casos, era para ela um mundo de intensa religiosidade; por isso, os constantes evocares a Deus, Nossa Senhora, nosso Senhor Jesus Cristo.

Mas um mundo que não se revelava por completo e que às vezes a fazia demonstrar certa agressividade ao nos tentar explicar as razões de suas ações tão incompreensíveis e perturbadoras para nós. Mas era um explicar com frases inacabadas, mal formuladas, sem sentido, sempre acompanhadas de uma expressão grave no rosto e no olhar.

Uma expressão que denotava a sua preocupação e busca de respostas ao problema que a acometia e que ela própria não compreendia. Mas evidenciava também resignação e desolação por não se fazer compreender. Então silenciava com um menear de boca e de cabeça e um olhar voltado para o chão frente ao seu desapontamento. 


O ALZHEIMER ENTRE CONFUSÃO MENTAL E DESORIENTAÇÃO ESPACIAL

Suas explicações apenas reforçavam o que já nos era visível: a sua confusão mental com certa desorientação espacial. Seu olhar vagante e inquisidor para o teto, para as paredes e para o lá fora tentando reconhecer a casa pelo olhar. Um olhar que se estendia do chão ao teto, de um lado a outro da sala, percorrendo cantos, paredes e móveis com olhar interrogativo. Então víamos que a casa se tornara estranha para ela. Tocava móveis e sobre eles deslizava suas mãos como se os visse pela primeira vez. Olhava a área de suas leituras bíblicas outrora tão comum nos finais da tarde como se a não reconhecesse.

Toda a casa lhe parecia estranha. Tanto que às vezes quando a conduzíamos de um lugar a outro, era comum ela perguntar um tanto desconcertada: “E agora, para onde eu vou?...”. Afirmava assim a sua falta de orientação e de saberes outrora tão familiares. A mesma desorientação observávamos diante de outras situações também tão triviais do dia a dia, como o passar de uma cadeira a outra, estando ambas lado a lado. Já não sabia passar da cadeira de descanso para a cadeira ao lado onde comumente fazia suas refeições. Um itinerário que se tornara desconhecido para ela.

Noutras vezes, exclamava: “oh, meu Deus, já não sei nem mais o que estou fazendo...”. Então nos mostrava a sua lucidez, momentos que se tornavam cada vez mais raros. Mas também momentos intensamente dolorosos para nós. Imaginemos então para ela.

Apesar de sabermos se tratar do Alzheimer, eram situações cheias de incógnitas para nós. As respostas se afirmavam, mas inicialmente não satisfatórias devido a interpretações equivocadas dos sinais apresentados. Equivocadas para nós que a acompanhávamos. O caso que conhecíamos não apresentava situações como as que nossa mãe vivenciava.

Mas foi a busca de novas respostas que nos levou a uma compreensão mais precisa naquele momento: era realmente o Alzheimer se instalando. Ainda em fase inicial, mas já o suficiente para nos mostrar o quanto que a nossa mãe já se distanciava da vida. Ao vê-la naquela situação, acreditei que a vida teria acabado para ela. Eu não sabia o quanto que Deus estava conosco. E por sua graça, logo ele me mostraria que eu estava errada.

Até aquele momento, ainda tínhamos muito o que aprender. Mas uma coisa eu já observava. A literatura a respeito da doença era bastante incipiente, restrita à descrição de sinais característicos. Sinais quase sempre associados à perda da memória relacionada a fatos, como se esse fato fosse o dano mais relevante da doença. Depois de ter vivenciado a doença no dia a dia de cuidados, vi que não. 


CONCLUINDO...

Esse foi o início do período mais crítico do Alzheimer em minha mãe. No próximo conteúdo, relatarei momentos de extrema dor para ela e para nós antes que a conseguíssemos medicar. Os momentos de suas andanças que a levavam sempre para áreas externas da casa como se fosse a algum lugar, mas não sabia onde e parava aflita. Os momentos de suas angústias extremas que a faziam pedir a Nossa Senhora que a livrasse daquele desespero. A maior dor para mim. Imagine então para ela. Imagine! 

Veja o conteúdo anterior: Transtornos com ações repetitivas: seria o Alzheimer?

A você, meus agradecimentos!

Deus esteja com você!

Sônia Ferreira

Teresina, 31 de julho de 2021.

 

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sexta-feira, 30 de julho de 2021

O que é o Bem Comum? Uma compreensão a partir dos conceitos de bens privados e bens públicos e direito coletivo

Neste conteúdo veja como a partir dos conceitos de bens públicos e bens privados podemos compreender o conceito de Bem Comum e sua relação com o direito da coletividade. Também um exemplo que retrata um modo de corrupção em serviços públicos como obstáculo à realização do bem comum.

 

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O QUE É O BEM COMUM?

UMA COMPREENSÃO A PARTIR DOS CONCEITOS DE BEM PRIVADO, BEM PÚBLICO E DIREITO COLETIVO

 

INTRODUÇÃO

O Bem Comum é um conceito que se constrói no limiar de dois outros conceitos: o de bem privado e o de bem público. Na confluência desses dois conceitos, vincula-se um terceiro: o de direito coletivo ou da coletividade. É nessa confluência que surgem as ideias constitutivas do conceito de Bem Comum a partir das quais podemos melhor compreendê-lo e afirmá-lo. Na construção dessa compreensão, vejamos inicialmente o que é bem privado e bem público para em seguida comentar sobre Bem Comum e direito da coletividade. No final, um exemplo que retrata uma forma de corrupção em serviços públicos a impedir a realização do bem comum.


BENS PRIVADOS E BENS PÚBLICOS

O conceito de bem privado e o de bem público estão geralmente na mesma relação. Somente há o bem público porque há o bem privado e o desejo particular de posses que o assegure. E do bem privado o bem público não pode prescindir sob pena de comprometer sua própria existência. No entanto, dele precisa se distinguir para com ele não se confundir; ou seja, é preciso se reconhecer o bem público para que ele não seja tratado nem tomado como bem privado.

O bem privado pode ser definido como o bem reservado a uma determinada pessoa ou grupo por seus próprios esforços, herança ou doação; o bem do qual a pessoa pode usufruir conforme lhe aprouver porque nele não há a participação nem o direito de outros; o bem ao qual é assegurada uma posse individual ou grupal e por isso assegura ao proprietário o direito de propriedade; ou ainda:  o bem cuja posse assegura ao proprietário a ele se referir de forma possessiva sob as insígnias “é meu” ou “é minha”; ou ainda “é nosso” caso a propriedade seja de um determinado grupo.

A partir dessas várias maneiras de se definir o bem privado, observemos a evidência de pelo menos três ideias na construção do seu conceito: a ideia de propriedade, a de pertencimento e a de direito. Assim, podemos nos referir ao bem privado como algo que pertence a alguém ou a algum grupo intitulado proprietário que tem sobre ele o direito ao usufruto; um direito de propriedade decorrente de seus próprios esforços concernentes a pessoas físicas e jurídicas. Esse direito confere ao proprietário uma obrigação moral de o reivindicar sempre que lhe aprouver; mas não da forma como quiser.

E por que não da forma como quiser? Porque acima do direito da pessoa individual, seja física ou jurídica, está o direito coletivo ou direito da coletividade. Esse direito é reivindicado originalmente pelo Estado: o representante da coletividade; o ente abstrato de poder superior que nos submete a todos e a todas porque ele tem soberania sobre o seu território e todas as pessoas que habitam esse território sujeitam-se às suas leis.

Imagem de fundo amarelo informando que acima do direito da pessoa individual está o direito coletivo ou direito da coletividade. Esse direito é reivindicado originalmente pelo Estado, o ente abstrato de poder superior que nos submete a todos e a todas porque ele tem soberania sobre o seu território e todas as pessoas que habitam esse território sujeitam-se às suas leis.


Pelas leis e em nome do direito coletivo, é o Estado quem define como podemos dispor dos nossos bens privados. Isto pela seguinte razão: a cada pessoa individualmente é cobrado o dever de contribuir com o conjunto da sociedade à qual pertence; ou seja, cada pessoa é chamada a contribuir com o bem-estar de todas as demais pessoas, com o bem-estar do conjunto da população. A isso se chama contribuir com a coletividade, com o Bem Comum.

Mas é impossível que façamos isso isolada e deliberadamente enquanto indivíduo. Então o Estado reivindica o direito de fazer essa cobrança de forma coercitiva por meio das leis. Assim, ele obriga todas as pessoas a contribuírem. E uma forma de cobrar essa contribuição é por meio dos mais variados impostos aos quais nos submetemos por meio das leis. Com os impostos, o Estado retira de nós como pessoa individual uma parcela de nosso bem privado, muitas vezes antes mesmo que nos utilizemos dele.

A parcela retirada dos bens privados por meio dos impostos passa a ser de domínio do Estado sob a insígnia de “bens públicos” ou “bens de domínio público”. O Estado administra esses bens por meio de seus governantes. Os governos são, pois, os administradores dos bens públicos, dos bens de domínio do Estado em seus respectivos âmbitos da federação: estados, municípios e União. Tudo sob os preceitos das leis, uma vez que para cada ação do Estado há uma lei que a assegura legitimamente.

Para melhor compreensão, vejamos no diagrama essa relação entre os bens privados, os bens públicos e o bem comum.

Diagrama sobre bens privados em relação aos bens públicos e ao Bem Comum e estes em 
relação ao Estado e à sociedade por meio dos Serviços Públicos.


Observemos no diagrama que do conjunto dos bens privados de propriedade individual da população são cobrados impostos de diferentes naturezas como contribuições compulsórias nas respectivas instâncias do Estado. Essas contribuições alimentam o erário ou tesouro do Estado, os conhecidos “cofres públicos” como às vezes o denominamos. Sob a tutela do Estado, somam com o orçamento geral com o qual o governo do momento organiza e mantém a Administração Pública e define os distintos serviços destinados à população. Tornam-se Bens Públicos destinados à coletividade; isto é, bens coletivos no Poder do Estado e administrados por sucessivos governos. Essa administração é sempre na perspectiva do Bem Comum. Se não é, deveria ser. 


DOS BENS PÚBLICOS AO BEM COMUM E AO DIREITO DA COLETIVIDADE

Observemos ainda no diagrama que o Bem Comum advém do conjunto dos bens privados revestidos da sua natureza pública – os bens públicos – em prol de um novo interesse: o interesse público ou interesse da coletividade. Significa que cada pessoa que contribuiu individualmente com a constituição dos bens públicos – através dos impostos – tirou uma parte do seu “todo” particular para compor um novo todo, o Todo Coletivo. 

Imagem de fundo verde amarelo informando que o Bem Comum advém do conjunto dos bens privados revestidos da sua natureza pública – os bens públicos – em prol de um novo interesse: o interesse público ou interesse da coletividade. Significa que cada pessoa que contribuiu individualmente com a constituição dos bens públicos – através dos impostos – tirou uma parte do seu “todo” particular para compor um novo todo, o Todo Coletivo.


Esse Todo é composto do conjunto dos bens públicos naturalmente constituídos como de uso comum. Por isso denominados Bem Comum, o bem que assegura à coletividade o direito aos bens públicos cuja constituição traz em si esse direito.

Por coletividade entendamos o conjunto da população de um determinado território ou lugar em nome da qual e para a qual o Estado responsável por esse lugar destina a sua ação por meio de seus governantes.

Assim, quando falamos de coletividade, referimo-nos ao ente abstrato representativo de toda a população à qual confere o direito de uso dos bens administrados pelo Estado: os bens públicos destinados ao conjunto da população; logo, pertencentes à coletividade, ao Bem Comum, já que de uso comum a toda a população indistintamente.

Por isso, todos os habitantes do território sob o Poder do Estado têm direito ao usufruto dos bens públicos desse território na mesma medida relativamente ao grau da sua necessidade pelo simples fato de integrantes da sociedade detentora dos bens. Podemos dizer então que o Bem Comum é o bem sobre o qual recai o direito da coletividade como direito de uso inerente a toda a população conforme a necessidade individual.

Significa então que o uso ou usufruto dos bens públicos pela população somente ocorre enquanto direito: o direito coletivo ou da coletividade. É um direito que é assegurado natural e indistintamente ao conjunto da população. 

Em seu sentido genérico, direito é uma predisposição natural da pessoa humana intrínseca ao seu livre arbítrio ou à sua liberdade natural. Como cada pessoa é dotada de livre arbítrio, é também igualmente dotada de direito ao uso de sua liberdade da mesma forma que as demais. Como cada pessoa dispõe naturalmente de livre arbítrio e o direito de usufruir dele, não pode impedir que as demais também o façam.

Imagem de fundo verde informando que em seu sentido genérico, direito é uma predisposição natural da pessoa humana intrínseca ao seu livre arbítrio ou à sua liberdade natural. Como cada pessoa é dotada de livre arbítrio, é também igualmente dotada de direito ao uso de sua liberdade da mesma forma que as demais. Como cada pessoa dispõe naturalmente de livre arbítrio e o direito de usufruir dele, não pode impedir que as demais também o façam.


No entanto, administrados pelo Estado, os bens públicos são desprovidos de particularidades expressas no princípio do um para um, e sempre revestidos em princípios amplos e altruístas expressos na dimensão geral do um para muitos; ou seja, cada bem público é destinado ao uso ou usufruto de muitas pessoas, de toda a população conforme a necessidade de cada pessoa pela parte que lhe cabe; logo, são bens sempre destinados à coletividade, ao interesse público; por isso, ao Bem Comum.

Mas quando nos referimos a Bens Públicos e a Bem Comum, referimo-nos a algo nem sempre de fácil compreensão para parte da população. Isto pela seguinte razão: a falta de clareza para muitas pessoas quanto à propriedade ou ao proprietário do bem. Embora muitas pessoas compreendam que a população é a destinatária ou a proprietária dos bens públicos, há quem acredite que eles não pertencem a ninguém.

No entanto, devemos sempre lembrar que se a coletividade é representada no Todo Coletivo e esse todo é o Bem Comum, como já dito, significa que a cada pessoa cabe apenas uma parte desse Todo na medida da sua necessidade; isto é, cabe-lhe o direito a apenas uma parte daquilo que é de direito de todos. Assim, o Bem Comum se efetiva então como direito ao usufruto dos bens ou riquezas do país destinados a toda a população em observância ao seu princípio ou ideal coletivo.

Pelo princípio do Bem Comum, o direito de uma pessoa respeita o direito da outra na mesma medida da sua necessidade. Subjaz a essa compreensão a ideia de que se eu tenho direito a essa parte do Todo Coletivo, a outra pessoa indiferenciada e anônima também o tem de igual forma e não posso desejar que tenha menos nem agir de modo a subtrair a parte que lhe cabe. Eis então o princípio pelo qual uma vez observado poderíamos alcançar a justiça social.

Na seção a seguir, vejamos um exemplo que retrata o modo como se efetivaria o bem comum a partir de um bem público destinado à população, mas que nem sempre chega ao seu destino devido à corrupção que se tornou usual em serviços públicos.

 

QUANDO A CORRUPÇÃO INVIABILIZA A REALIZAÇÃO DO BEM COMUM

 

Suponhamos que um determinado órgão público receba do Estado uma caixa de agulha com mil unidades. Pelo princípio do bem comum, cada agulha é um bem coletivo; por isso, pertence a toda a população na medida da necessidade de cada pessoa.

Por conseguinte, dependendo das condições pessoais de saúde, uma pessoa pode precisar de dez ou mais agulhas para resolver o seu problema de saúde; outra pessoa, pode necessitar de apenas uma agulha e ter igualmente o seu problema de saúde resolvido.

E pode acontecer ainda de muitas pessoas nunca necessitarem de usar nenhuma das agulhas porque não tiveram problemas de saúde que as requisitassem. No entanto, na hora que necessitarem, é seu direito dispor de uma ou mais agulhas que lhes atenda conforme a sua necessidade.

Se assim não for, podemos dizer que o seu direito foi subtraído ou negligenciado ou pelo Estado, que não supriu aquela necessidade, ou por alguém que desviou as agulhas de seus destinatários por algum mecanismo de corrupção.

Isto porque, não raras vezes, o que ocasiona a falta de produtos em órgãos públicos não decorre apenas da omissão do Estado em não suprir aquela necessidade, mas também da sua negligência ou conivência ao não coibir as variadas formas de corrupção nos serviços públicos. Corrupção essa evidenciada nos desvios embutidos em todo o processo ou percurso de distribuição dos produtos ou recursos.

Esses desvios se verificam desde a aquisição do produto pelo Estado (pela corrupção em licitações) até a entrega do produto ao público destinatário, entrega essa mediada pelo órgão público que o atende. No órgão, o produto já chega às vezes desfalcado em sua totalidade.

Mesmo assim, é onde muitas vezes se observa ainda a corrupção de servidores ou servidoras públicas e públicos quando na lida direta com o produto. Neste caso, trata-se de uma corrupção que se verifica por meio da apropriação indébita, quando se toma algo que não lhe pertence para usufruir em benefício próprio ou em prol de outro de suas relações pessoais. 

Diante de tal forma de corrupção, podemos dizer então que a pessoa tomou o bem público (que no exemplo citado é a agulha) como bem privado e dele fez uso indevido pela ação de desvio e por se tratar de um bem de direito da coletividade.

Em conteúdo posterior, apresentarei outros exemplos de corrupção em serviços públicos que muitas vezes não são sequer percebidos como corrupção de tão usuais que se tornaram. É a corrupção das pequenas coisas que para fugir delas basta nos fazer a mesma pergunta referida à das grandes: esse bem é meu? Eu tenho propriedade sobre ele? Se a resposta for não, deixe-o onde está. O ideal do bem comum agradece assim como a população em suas necessidades.

Você terminou de conhecer o quarto conteúdo do caminho SMF Fé e Política.

Espero que tenha gostado e acompanhe os conteúdos deste caminho.


A você, meus agradecimentos.

Deus esteja com você!

Sônia Ferreira

Teresina, 30 de julho de 2021.

 



sábado, 24 de julho de 2021

Minha mãe e sua banca de verduras no mercado

 

MINHA MÃE E SUA BANCA DE VERDURAS NO MERCADO

 

QUANDO O IR AO MERCADO É UM ACONTECIMENTO

Não era uma manhã como outra qualquer. O sol certamente brilhava lá fora. Mas não o sol de todas as manhãs. Não o sol que se levantava bem cedo muito além da rua em frente a nossa casa. E se repetia todos os dias. E se estendia inundando os matinhos rasteiros que insistiam em cobrir os terreiros da casa. E despontava nas folhagens do pé de manga e dos pés de cajus bem ali no quintal da nossa casa. E tornava iguais os cenários de todas as manhãs.

O sol cujos raios tornavam aquela manhã tão diferente das outras estava era dentro de mim.  Ele que me iluminava a alma e me inundava o peito numa alegria incontida. O sol que me levaria ao mercado onde estava a minha mãe e de lá me traria pouco tempo depois. Eu e meu irmão Elói com as misturas daquele dia. As misturas que nos foram incumbidas buscar como tarefa a ser cumprida naquela manhã. Do contrário, o nosso de comer daquele dia estaria comprometido.

Minha mãe tinha uma banca de verduras num mercado. Por essa razão, jamais eu acordara de manhã para a encontrar em casa. Não no meu primeiro tempo de menina, quando pouco ou quase nada da vida eu atinava. O cantar do galo era o seu despertar. E no bem cedinho do dia ela saía. Rompia o escuro do fim da noite atravessando o caminho que a levava à luta pela vida naquele tempo. Então quando a madrugada findava, e o sol raiava, ela já estava de banca montada.

Em casa, muitas vezes, hoje sei, ficava o nada ou o quase nada para o nosso de comer daquele dia. Também sua recomendação de que meu irmão Elói fosse ao mercado buscar alguma coisa de refeição. Era a sua esperança no apuro das vendas. Essa recomendação certamente despertava em mim o desejo de também ir ao mercado. Naquela manhã então esse desejo seria satisfeito. Eu iria com meu irmão Elói.

Por isso aquele era um dia de festa para mim. Certamente uma festa que só quem sabia era o meu coração. Só ele sabia dos raios de sol que lhe inundavam. A satisfação de uma vontade que se realizava com ares de um grande acontecimento em minha vida. Uma vida que de tão tenra, tão aberta a acontecimentos. E aquele era um dos primeiros. Talvez por isso tão marcante. Uma marca a atravessar os meus tempos vindouros e silenciar até o despertar da minha memória por uma lembrança fortuita.

Uma lembrança tão frágil, mas tão persistente a me mostrar um retrato de mim num vestidinho rosa-claro de saia franzida. Alguém me arrumava. Alguém sem rosto, sem nome, sem nada, mas que ajeitava o meu cabelo. Alguém que nem se mostra em minha lembrança. Apenas eu em meu caminhar e logo parar para aquele arrumar.

De tão vaga a lembrança, tão sem forma que nem num quadro cabe. Porque também nem meu relato lhe retrata bem. Porque lembrança é assim: a imagem simplesmente chega e tão logo desaparece, como um surgir do nada e para o nada retornar; com um vácuo antes e um depois. Hoje sei, a pessoa sem forma e sem rosto a me arrumar era minha irmã Karina, a que cuidava de nós e da casa naquele tempo.

Então nova lembrança e novo retrato de mim num caminhar destemido e resoluto rumo ao mercado. Sob os pés, um caminho avermelhado com pedrinhas soltas. Hoje sei, era uma rua de piçarra, um barro vermelho que caracterizava o solo da região e originara o nome do bairro e do mercado aonde íamos eu e meu irmão Elói. Talvez fosse a minha primeira vez naquele caminho. A primeira de algumas outras ainda naquele tempo. Novos aprendizados se construindo, pegando voo na engrenagem do conhecimento em franca montagem na minha meninice.

MINHA MÃE E SUA BANCA DE VERDURAS

O mercado aonde íamos eu e meu irmão Elói ficava no mesmo caminho que passava na frente da nossa casa. Mas na parte do caminho não mais tortuoso e cheio de pedras e matos como aquela da nossa casa. Não mais onde se tinha que subir alguma ladeira e se desviar de galhos de matos na beira do caminho. Era a parte da piçarra vermelha e não dos pedregulhos. A piçarra que tornava o caminho mais firme e o caminhar menos incerto.

Quase chegando no final daquele caminho, o mercado que, hoje sei, era uma casa grande com várias portas dos lados de fora e dois corredores do lado de dentro. Mas apenas o lado de dentro e o portão principal de entrada é que dão conta as minhas lembranças. Era lá dentro onde ficava a banca de minha mãe. As portas de fora acessavam os comércios das mais variadas coisas e serviços. Hoje sei.

O portão principal tornara-se a minha referência para chegar à banca de minha mãe pelas vezes em que lá estive depois daquela primeira. Depois de minhas andanças pelos entremeios do mercado, era só ver o portão e logo eu me encontrava. Logo eu sabia o rumo da banca de minha mãe. Uma lembrança tênue me mostra parada próximo a ele. De lá observando: de um lado, várias barracas e coisas pelo chão; verduras e legumes e sacos e jacás e gentes entre uma coisa e outra.

Do outro lado, dois portões largos de acesso ao mercado pelo lado de dentro. A esses portões seguiam dois extensos corredores separados um do outro por uma sequência de colunas. Em cada coluna, uma banca de verduras, frutas e legumes. Do outro lado de cada corredor, os açougues com suas carnes penduradas e os magarefes chamando os fregueses aos gritos e aos tilintares de facas e facões.

São cenas tênues que contrastam com a imagem viva em minhas lembranças. Talvez a mais viva capturada por meu olhar ao atravessar um daqueles portões: minha mãe sentada ao lado de sua banca encostada à segunda coluna. Cabisbaixa, um braço cruzado apoiando o outro cuja mão apoiava o queixo. Nenhum freguês. Era aquele um quadro desolador para mim. O jeito desesperançado de minha mãe. O jeito sofrido que me acompanharia o olhar por muitos anos da minha vida.

 Próximo à sua banca, logo ali na primeira coluna, a banca de minha tia Moema, irmã de minha mãe. Majestosa, repleta de frutas e legumes que se esparramavam pelo chão, porque não cabiam tudo em cima da mesa.  Era tanto que quase não se via minha tia sentada e encostada na coluna. Ela era o centro daquilo tudo.  

A banca de minha mãe perto à da minha tia parecia nada ou no máximo coisa alguma. Tudo era minguado. Talvez por isso não havia fregueses. Não havia como competir com a banca da minha tia. Era lá que os fregueses paravam.  Eu não entendia aquela razão. Apenas sentia nascer em mim um incômodo fincado naquele semblante triste de minha mãe. Tão fincado que muitas vezes a olhava na esperança de que ele não estivesse lá. Mas sempre estava.

Em meio a minhas lembranças me deparo com essa imagem. Eu encostada a uma barraca a certa distância dos portões de entrada. Talvez ao retornar das minhas andanças pelos entremeios do mercado. Daquele ponto, eu olhava minha mãe sentada à sua banca de verduras. O mesmo corpo retraído. A mesma desolação. Talvez eu tentasse entender o que a vida aos poucos me traria como respostas. Seria preciso o passar do tempo para eu entender. Assim foi.

Só tempos depois eu saberia um pouquinho da razão daquele jeito que a tristeza parecia não largar. Não era a falta de fregueses. Eram mesmo as agruras da vida, a cruz que de tão pesada lhe tirava o ânimo.  Sensível à situação da irmã, minha tia lhe ajudava no que podia, o que me fez crer que a banca era de produtos fornecidos por ela como forma de assegurar à minha mãe alguma renda que lhe ajudasse no sustento da família. Assim era. Tanto que ao longo de sua vida, minha mãe não lhe parou de agradecer os préstimos.

MINHA TIA E SUA AJUDA

Não sei quantas vezes repeti as minhas idas àquele mercado naquele meu tempo de menina. Só sei que as imagens que me ficaram revelam a silhueta desolada de minha mãe sentada ao lado de sua banca de verduras. Assim como à entrada do ponto também me vejo do lado oposto de pé simplesmente olhando de longe aquela cena das duas bancas com minha mãe sem ânimo e sem fregueses e na banca ao lado minha tia cercada de muitas frutas, legumes e gentes.

Não sei o que eu sentia frente àquelas cenas, senão que me incomodavam. Se naquela idade eu já formulava ideias frente aos incômodos da vida minhas lembranças não as alcançam. Creio que ainda não atinava para os problemas da vida. Afinal de contas, meninos e meninas daqueles anos tinham muito com o que brincar e por ande andar. O andar era sempre um desbravamento.

E o mercado da Piçarra era assim, um desbravamento. Por isso creio que eu andava nele junto com outros meninos sem rosto nem face sem nada que os caracterizasse. Só sei que eu não andava por ele sozinha, mas quando me postava frente às cenas que me incomodavam eu estava era assim que eu estava porque elas me faziam parar para melhor as observar. Era passar pelo portão principal do mercado e parar para olhar minha mãe em sua banca; também era passar pelo lado oposto e parar para olhar o cenário daquele lado. De ambos os lados a cena retratava o mesmo quadro, minha mãe desalentada e minha tia empoderada; só o ângulo mudava com a diferença de que de um lado eu via minha mãe de frente e minha tia meio de costas e do outro as duas num perfil meio de costas.

Só anos depois eu entenderia o porquê daquelas cenas. Naquele mercado, minha tia era referência junto aos trabalhadores de roças de diferentes regiões rurais da cidade. Eles chegavam de longe com suas cargas e logo a procuravam na certeza de fazer bom negócio. Deles ela recebia as mercadorias e lhes pagava no “apuro”. Por isso a sua banca estava sempre muito lotada de coisas verdes entre frutas e legumes, e sempre cheia de gente entre fregueses e fornecedores. Minha tia era uma grande empreendedora no seu ramo de vendedora de legumes, frutas e hortaliças. Minha mãe era a irmã, sua única irmã, a quem não poupava ajuda. Ao contrário da minha tia, minha mãe não demonstrava tino para aquele fazer. Era de um jeito acanhado, sem muito trato para aquele negócio. Não sei quantos anos ela perdurou naquela venda. Só sei que nas minhas primeiras lembranças de menina ela me aparece assim.

A você, meus agradecimentos!

Deus esteja com você!

Sônia Ferreira

Teresina, 24 de julho de 2021.

Você terminou de conhecer o quarto conteúdo do Caminho Memórias de Mim.

Espero que tenha gostado e acompanhe os conteúdos seguintes.

Veja o conteúdo anterior: Meu irmão Elói e o vento bom de papagaio.

 

 

sexta-feira, 23 de julho de 2021

A importância do projeto ComCarinho Cuidados com a Pessoa Idosa

 

Imagem com a gata Lady Miau apresentando o conteúdo sobre a importância do projeto ComCarinho Cuidados com a Pessoa Idosa.
Neste conteúdo apresento o ComCarinho Cuidados com a Pessoa Idosa como um projeto muito importante tanto para a pessoa idosa beneficiária quanto para a pessoa cuidadora. Também como me ocorreu a ideia desse projeto a partir dos cuidados com a minha mãe.

A IMPORTÂNCIA DO PROJETO SOCIAL COMCARINHO CUIDADOS COM A PESSOA IDOSA 


INTRODUÇÃO

O projeto social ComCarinho Cuidados com a Pessoa Idosa procura alcançar dois objetivos principais: realizar visitas domiciliares e possibilitar o acesso a produtos de uso preferencial a pessoas da terceira idade.

Mas embora essas ações sejam destinadas a pessoas idosas sob cuidados, elas também contribuem sobremaneira com a pessoa cuidadora. Principalmente: quando uma única pessoa membro da família se torna responsável pelas ações de cuidados. E mais: quando a pessoa sob cuidados é dependente por alguma incapacidade ou agravo à saúde.

Veja na seção seguinte as razões pelas quais considero essa importância.

 

A IMPORTÂNCIA DO PROJETO COMCARINHO PARA A PESSOA CUIDADORA

Ao longo da minha vida sempre conheci pessoas que cuidavam de algum ou alguma parente, geralmente pais, avós ou tios e tias. No entanto, jamais tecera algum significado sobre suas ações de cuidados. Era algo distante demais para mim. Não sei se pela minha indiferença ou porque não era chegado o momento. O meu momento de cuidar.

O que sei é que quando chegou a vez de se cuidar de minha mãe eu disse estou aqui. E foi nesse cuidar que comecei a tecer meus aprendizados. Inclusive, foi quando enxerguei o cuidador e a cuidadora de seus pais, mães, avós, tios e tias, irmãs e irmãos, de nossos entes queridos. Aprendi então a observar as ações de cuidados para além das minhas. Aprendi a ver a abnegação, a dor, a inquietação, mas principalmente a satisfação com o bem-estar e a alegria proporcionados à pessoa sob cuidados.

Essa compreensão adveio sem dúvidas de minha própria experiência de cuidados com minha mãe. A partir dessa vivência, observei experiências de familiares outros cuidando de seus idosos e suas idosas em situações análogas à minha. O retrato de uma e outra experiência é praticamente o mesmo.

No contexto familiar de cuidados, a pessoa cuidadora se torna sobrecarregada entre pelo menos quatro demandas: as tarefas próprias da casa, as ações específicas de cuidados, os processos da vida civil da pessoa e os processos médico-hospitalares. Essas duas últimas demandas levam a pessoa cuidadora a frequentes ausências de casa para encaminhar as ações relativas a uma e outra demanda nos órgãos respectivos.

Com a sobrecarga, a pessoa cuidadora não apenas se abstém de sua vida pessoal, como também não consegue cuidar da pessoa em toda a sua necessidade. Em tais condições, os cuidados tendem a se tornar bastante básicos, geralmente restritos à alimentação, higiene pessoal, administração da medicação e a consultas médicas.

Embora se considerando “tudo sob controle”, são situações que se verificam geralmente em cenários em que aumentam as necessidades da pessoa sob cuidados. Logo, aumentam também as demandas e/ou as preocupações da pessoa cuidadora, pois é ela quem naturalmente assume a responsabilidade de suprir as necessidades emergentes.

Em se tratando de pessoas incapazes e totalmente dependentes, aumenta a necessidade de produtos de uso preferencial, inclusive produtos de acomodação da pessoa à cama e a assentos. O aumento das demandas tende a afetar as finanças da família, muitas vezes já fragilizadas pelas próprias condições de saúde da pessoa sob cuidados. Em situações de famílias de baixa renda, a tendência é não se suprirem certas carências.

No caso de pessoas idosas saudáveis, geralmente a necessidade é de atenção e interação social. É comum idosos e idosas isoladas e isolados de quaisquer conversações em sua própria casa. Em situações de sobrecarga da pessoa cuidadora, esses cuidados terminam sendo mais negligenciados ainda. As visitas domiciliares propostas poderão suprir um pouco essa lacuna por meio da conversação com a pessoa idosa, favorecendo a sua interatividade.

É esse o contexto no qual se identifica a importância do projeto social ComCarinho Cuidados com a Pessoa Idosa. É considerando essas circunstâncias que o projeto pode trazer benefícios a pessoas da terceira idade de vida social inativa. As visitas domiciliares e o acesso a produtos de uso preferencial poderão contribuir tanto com a melhoria da qualidade de vida da pessoa idosa quanto com o cuidador e a cuidadora familiar nas suas ações de cuidados.

Oferecer um suporte ao cuidador familiar ou à cuidadora que lhe assegure alguma ajuda já é um pouco amenizar suas preocupações com o suprimento de determinadas necessidades.

É sabido que a Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) e a Lei 8.742/1993 (Lei Orgânica da Assistência Social) trouxeram muitos avanços para as pessoas da terceira idade. Inclusive no âmbito da assistência familiar nos aspectos relativos à saúde da pessoa. Mas lacunas sempre existem. E uma delas está no suporte ao cuidador familiar ou à cuidadora para melhor atender à pessoa idosa sob seus cuidados.

Nesse sentido, o projeto ComCarinho poderá contribuir tanto com as visitas domiciliares quanto com a disponibilidade de produtos de uso preferencial à pessoa idosa sob cuidados de familiares. Por isso é muito importante a construção da Rede de Apoio e Colaboração, principalmente com a adesão de colaboradores e colaboradoras, voluntários e voluntárias, pois dessa construção depende a consecução dos objetivos do projeto. 


ASSIM SURGIU A IDEIA DO PROJETO COMCARINHO CUIDADOS COM A PESSOA IDOSA 

O projeto social ComCarinho Cuidados com a Pessoa Idosa caiu na minha ideia em 2013, originalmente em meio aos meus cuidados com a minha mãe. Depois de um tempo de aprendizados com ela, acreditei que poderia contribuir com outras pessoas idosas igualmente dependentes. Não apenas pensando na contribuição, mas também no meu ganha pão. Afinal, para cuidar, eu havia ficado sem renda. Então via naqueles aprendizados uma oportunidade de ganhos.

No final daquele ano, eu considerava a situação de minha mãe sob controle. Então comecei a delinear um plano de negócio focado em cuidados domiciliares junto a cuidadores e cuidadoras familiares. No ano seguinte, lancei-me como microempreendedora nesse ramo, mas tão certa quanto entrei também saí. De um lado, deparei-me com uma realidade completamente adversa à que eu jamais imaginara. Por outro, a situação de minha mãe não estava tão sob controle como eu supunha. A decisão mais acertada então foi recuar logo depois do primeiro ano. Reconheci que havia me precipitado e que não dispunha das qualidades que aquele empreendimento exigia de mim.

E o que o ComCarinho Cuidados com a Pessoa Idosa exigia de mim naquele momento? O requisito número 1 era que eu focasse no lucro. Tudo girava em torno do lucro, lógico! E nisto estava a realidade adversa. Em meu contato inicial com uma família cuidadora de seu idoso dependente, deparei-me com uma situação que me levou a rever os meus objetivos e até os meus conceitos.

Mas o que eu vi? Uma pessoa idosa ela própria necessitada de cuidados, mas responsável pelos cuidados de outra; pelos cuidados de tudo da casa sob sua gerência; ainda mantenedora de filhos adultos; completamente endividada e refém de empregadas domésticas que se revelavam não totalmente compromissadas com suas tarefas, inclusive negligenciando cuidados com a pessoa idosa sob a sua responsabilidade.

Aquela família me fez ver que talvez não baste a posse financeira para ter a vida sob controle, especialmente quando se envelhece e doenças se instalam. Talvez não baste uma boa situação financeira para poder pagar o que se lhes cobram por determinados serviços em determinados momentos; ou para dispor dos serviços pelos quais paga, especialmente quando estes se intitulam de acompanhamento domiciliar ou cuidados domiciliares. Como cobrar, então, de uma pessoa que aos meus olhos beirava o desespero?

Essa questão me incomodou sobremaneira. Eu já não tinha certeza se o meu interesse financeiro era maior do que o interesse de ajudar. Vi então que estava no caminho errado, pois no mercado do lucro a ética é outra. Então aquela realidade adversa não era daquela família em relação a mim, mas era completamente minha, pois me mostrava que eu não me ajustava ao mercado ou pelo menos que eu não seria feliz nele.

Se esse fato já era suficiente para eu mudar de rumo, havia também a situação de minha mãe exigindo um pouco mais de mim. Então

Ao constatar que estava no caminho errado, mudei de rumo. Saí da perspectiva do lucro. Desistindo depois de um ano de iniciado naquele formato, eu o retomo agora como projeto social voltado à interação da pessoa idosa por meio da conversação e ao suprimento de necessidades associadas à deambulação e ao acamamento. Neste caso, um projeto voltado para qualquer pessoa idosa independentemente da sua condição econômica e social. Através da pessoa idosa sob cuidados, as ações do projeto instituem-se também como uma ajuda à pessoa cuidadora, contribuindo com determinadas ações diárias de cuidados.

A você, meus agradecimentos!

Deus esteja com você!

Sônia Ferreira

Teresina, 23 de julho de 2021.

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